25 de novembro de 2009

O Milagre da Neurofisiologia da Equitação


"Quando o homem e o cavalo, para realizarem tarefas conjuntas, se fundem numa única unidade biológica forma-se uma rede de cooperação neurofisiológica entre os parceiros. Esta interação entre os sistemas nervosos do Homo e do Equus ocorre, nas diversas modalidades eqüestres, em graus diferentes, e esta variação determina a dificuldade e a qualidade da equitação. Podemos afirmar que a equitação é um milagre de coincidências biológicas que, à primeira vista, o bom senso julgaria impossível de acontecer - isto porque só um milagre permitiria que dois seres programados pela natureza para a realização de tarefas vitais tão diferentes pudessem unir os seus complexos recursos fisiológicos para realizar uma mesma tarefa - e com o alto grau de eficiência verificada em algumas modalidades eqüestres."
A cooperação funcional entre homens e animais não é em si uma novidade. Desde a Antigüidade, o homem buscou entre os animais aqueles que pudessem lhe ajudar a sobreviver e até a enriquecer. Na Índia, o elefante faz, há milênios, o trabalho do guindaste hoje. Em todas as sociedades agrárias o boi puxa arados, o jumento transporta carga e, entre os povos nômades, o cavalo, a rena e o camelo, servem para o deslocamento de carga e como transporte individual. Todas estas tarefas exigem algum grau de cooperação funcional entre o homem e o animal. O que diferencia a equitação de todos os outros usos de animais - e até do uso do cavalo para tração - é a fusão neurofisiológica necessária para que o conjunto eqüestre se funda em um único ser biológico para operar ações conjuntas na guerra, nos trabalhos e nos esportes. Mas o homem e o cavalo possuem diferenças morfológicas tão acentuadas que, à primeira vista, a equitação seria um fenômeno inacreditável. A impossibilidade teórica da equitação foi confirmada em todas as ocasiões em que povos pedestres se chocaram pela primeira vez com povos eqüestres. Os pedestres viam os eqüestres com a mesma incredulidade com que você veria um hipopótamo pilotado por um chimpanzé ganhando o Grande Prêmio Brasil no Jockey. Entretanto, se olharmos o fenômeno da equitação com muita atenção, podemos distinguir onde e como a maioria das características anatômicas e neurofisiológicas das espécies Homo sapiens e Equus caballus se completam para formar o fenômeno Homo-caballus. Se a diferença entre as duas espécies é grande, as coincidências são maiores ainda! Em homenagem ao inventor da equitação, o Homo sapiens, vamos examinar primeiramente quais as suas características morfológicas e neurológicas que favorecem a equitação. Sabemos que o corpo do Homo é dividido em cabeça, tronco e membros, exatamente como o do cavalo. Mas existe uma relação de flexibilidade muito especial entre as partes do corpo humano que não existe no cavalo. O Homem evoluiu basicamente para se locomover na copa das árvores. Sim, fomos programados para braquear, isto é, para nos deslocarmos de galho em galho nos impulsionando com os braços e usando as pernas para dar mais empuxo e firmeza nos saltos aéreos. O antecessor do Homo era o 'saltimbanco da floresta', um verdadeiro 'acrobata do cipó'. A contribuição sensorimotora do homem na equitação é o seu grande senso de equilíbrio, a capacidade de usar os braços independentemente das pernas, uma postura de tronco ereto que permite deslocar o centro de gravidade para frente e para trás conforme a velocidade do cavalo, um grande número de sensores nervosos e músculos especializados que permitem excelente coordenação, entre olhos e mãos, para o manuseio de objetos. Esta habilidade manipuladora é boa e ruim. Muitos 'macacos pelados' não conseguem desenvolver uma boa equitação porque a sua compulsão manual destrói o delicado equilíbrio sensorimotor necessário para a grande performance eqüestre. Para equitar bem, o Homem tem que descartar os seus movimentos amplos e usar apenas os movimentos finos. (Quebrar pedras é mais fácil do que lapidar diamantes, é claro). Mas, do ponto de vista neurológico, o Homem desenvolveu um órgão fundamental que possibilita todo o milagre da equitação - um cérebro capaz de estabelecer enormes seqüências de relações entre os fenômenos naturais e que transformou a espécie humana numa máquina de aprender. Perceba, portanto, que o bom equitador se notabiliza primeiramente pela sua capacidade de aprender com o cavalo e não pela sua capacidade de ensinar ao cavalo - uma questão que obviamente tem atrapalhado muitos candidatos a cavaleiro, porque as pessoas imaginam caber a eles ensinar o cavalo a ser cavalo. O Homem, através de milhões de anos, a maioria deles de vida arbórea, desenvolveu uma série de reflexos incondicionados, isto é, involuntários, que foram passados de geração a geração e hoje representam o grande elenco de movimentos humanos. Outros reflexos são condicionados por estímulos do meio ambiente e são desenvolvidos no processo de aprendizado do indivíduo. Na equitação, estes dois tipos de reflexo - o condicionado e o incondicionado - vão interagir com os reflexos naturais do cavalo. (Veja o capítulo A Cadeia de Reflexos da Equitação). Os movimentos e as ações da equitação são iniciados pelo sistema sensorimotor do cavaleiro e completados pelo sistema sensorimotor do cavalo. Isto é, são deflagrados pelo cérebro do Homem e finalizados pelo sistema nervoso do cavalo. Vejamos agora a morfologia funcional do cavalo. O cavalo é um animal com grandes diferenças funcionais e morfológicas, se comparado com o homem. Como já vimos, a cabeça, o pescoço, o tronco e o aparelho locomotor do cavalo foram planejados para desenvolver grande velocidade em qualquer terreno. O seu esqueleto, com uma construção semelhante ao do homem é, no entanto, horizontal para se tornar mais aerodinâmico. Mas o cavalo não tem a mesma agilidade do homem. "Existe uma crença comum que o cavalo é um saltador natural com um corpo flexível capaz de manter o seu equilíbrio em todos os andamentos e velocidades", escreve R. H. Smythe em seu livro A Estrutura e o Movimento do Cavalo. "A realidade é muito diferente. Comparando com todos os animais atletas o cavalo foi provido por um tronco de grande volume e peso que depende exclusivamente das pernas para se deslocar sobre o terreno, que funciona (negativamente) como um lastro. O equilíbrio do cavalo depende de pés com um diâmetro pequeno, muitas vezes tornados mais precários com o uso de ferraduras. Esses quatro pés tem de suportar e equilibrar o cavalo na reta, subindo e descendo, ao aterrizar depois de um salto e como freio para desacelerar a sua velocidade. Nas curvas, ele tem de manter o equilíbrio, às vezes em grande velocidade, e suportar as interferências que normalmente ocorrem em competições. Uma análise mais atenta poderia sugerir que esta espécie animal não é recomendada para todas estas tarefas. Entretanto, sejam quais forem as suas limitações, o cavalo hoje consegue desincumbi-las muito bem", conclui Smythe. Note que a análise de R. H. Smythe é inteiramente mecanicista - isto é, do ponto de vista da sua mecânica o cavalo é inadequado para a equitação! O que supera esta aparente limitação mecânica é o seu sofisticado sistema nervoso, que Smythe não menciona. Donde se conclui que, como no caso do Homem, a mais importante contribuição do cavalo para a equitação é o seu sistema nervoso. O velho adágio 'No foot no horse', muito popular no passado deve ser rescrito para 'No brain no horse', muito mais de acordo com a realidade eqüestre da Era Digital. Encontramos também na conformação do cavalo algumas coincidências que favorecem a ajuste com a morfologia do homem. Um costado com a largura adequada para Homo abraçar com as pernas, um lugar para o cavaleiro se posicionar sobre o dorso, no final da cernelha, ideal para o alinhamento do seu centro de gravidade com o do cavalo. O corpo relativamente inflexível do Equus caballus é, no entanto, um dos principais elementos a favorecer a equitação. Se o cavalo tivesse um dorso flexível como o de um gato, seria impossível de ser equitado. Se tivesse a pele solta como a do cachorro, também. As coincidências psicomotoras também são notáveis. Se o cavalo fosse carnívoro e tivesse um sistema nervoso com os reflexos rápidos de um gato ele seria impossível de ser montado. A coincidência de temperamentos é outro fator que permite a fusão neurofisiológica do conjunto. O grande elenco de movimentos naturais do cavalo é inteiramente utilizado na equitação moderna e totalmente administrável pelo homem treinado para a equitação. No aspecto psicológico existem também as semelhanças necessárias para completar o milagre da equitação. Sentimentos como o medo, o prazer, a confiança, a curiosidade e a determinação fazem parte da psicologia tanto do Homo quanto do Equus e também são responsáveis para o sucesso da fusão psiconeurofisiológica da equitação. E, talvez, campos magnéticos e outras 'ondas' elétricas ainda desconhecidas pela ciência possam também ser responsáveis pelo sincronismo de movimentos e o senso simultâneo de direção e velocidade verificado nos grandes conjuntos eqüestres. O século 21 provavelmente nos dirá. Depois de uma análise, mesmo rápida, da neurofisiologia do homem e do cavalo pode se concluir que o 'saltimbanco da floresta' e o 'corredor da savana' são os únicos seres vivos capazes de se unir para formar um terceiro organismo mais eficiente do que os dois indivíduos que o formaram. Isto é, quando o instinto de independência do cavalo e instinto de interferência do homem não entrarem em choque para as tomadas de decisão durante a equitação.
"A equitação de alta performance é provavelmente uma das tecnologias biológicas mais complexas já dominadas pelo homem. A capacidade de interagir com o complexo sistema nervoso do cavalo, que produz um processo de feedback entre os parceiros, exige do equitador respostas reflexas instantâneas aos reflexos incessantes produzidos pelo cavalo. Administrar as ações de um cérebro estruturado para mobilizar um organismo muitas vezes mais potente do que a do homem, é um enorme desafio para os 10 bilhões de células nervosas que compõem o tronco cerebral, o cerebelo e o cérebro do Homo sapiens. Felizmente, a neurociência já começa a nos fornecer dados reveladores para analisarmos os princípios da equitação."
Bjarke Rink - Desvendando O Enigma do Centauro - Parte II
http://www.desempenho.esp.br/livro/get_capitulo.cfm?id=82

As Frequências Cardíacas do Cavalo e do Cavaleiro

Observação das Frequências Cardíacas (FC) do Cavalo e Cavaleiro durante quatro exercícios monitorados e análise dos resultados segundo a Fisiologia da Equitação

A Neurofiosiologia é um campo emergente da Ciência Moderna. Dedica-se ao estudo das estruturas nervosas, suas funções e relações com os diversos sistemas orgânicos. Dentro deste conceito, a Neurofisiologia da Equitação pretende situar definitivamente a equitação como ciência e, desta forma, conhecer e compreender os processos que tornam possível a equitação de alta performance. De acordo com RINK (2001), a equitação de alta performance é obtida quando se consegue um perfeito ajuste entre cavalo e cavaleiro. Á partir do momento em que esta união se concretiza, forma-se o conjunto eqüestre (resultado da união das intenções do cavaleiro –comandos , com as ações do cavalo - respostas reflexas) unidade geradora da equitação. Esta figura foi perfeitamente representada na Grécia Antiga como a figura do Centauro.

Integração Homem/Cavalo : Há cerca de 6000 anos o homem iniciou um processo de domesticação do cavalo, utilizando-o primeiramente como fonte protéica na alimentação. O homem seguia a manada aonde ela fosse e logo começou a descobrir outras habilidades, como produção de leite , carga e tração e, posteriormente, a equitação. BARCLAY (l990), sugere que esta tenha sido descoberta pelas crianças que eram, provavelmente, as responsáveis pela ordenha das éguas. Esta descoberta possibilitou ao ser humano evoluir de uma forma muito mais dinâmica: “O Homo-Caballus passou a ter uma relação com o tempo diferente do resto da humanidade (...) Quebrou a barreira do tempo biológico humano e deu origem à História como ela é” (RINK,2000). Seguindo a idéia do autor, a descoberta do estribo, que atua sobre o sentido proprioceptivo humano como uma fonte de referência do chão, foi sem dúvida outro grande impulso aos povos nômades, guerreiros por natureza e excelência, vindo a contribuir enormemente em suas conquistas. Sem a descoberta da equitação o homem não teria evoluído ainda da condição de cidade-estado. Com o passar do tempo as nações eqüestres procuraram aprimorar cada vez mais a equitação, nem sempre com sucesso e na maioria das vezes com uma visão apenas mecanicista, não apenas da equitação mas também do cavalo. Com o conhecimento da neurofisiologia da equitação tem-se acesso ao conhecimento dos fenômenos neurofisiológicos (biológicos e psicológicos) da equitação, tornando-a cada vez mais eficiente e dinâmica tanto para o cavaleiro quanto para o cavalo. Para que se alcance uma equitação de alta performance, diversas etapas devem ser respeitadas sistematicamente, condicionando o cavaleiro e o cavalo a gerar os estímulos e respostas reflexas. Quanto ao cavalo, fatores como índole e habilidade esportiva são fundamentais na seleção e no adestramento. Cada animal apresenta características únicas e habilidades individuais para determinada prática esportiva, que acrescidos à morfologia, determinam sua maior ou menor performance. O adestramento deve, fundamentalmente, considerar e respeitar estas características individuais. É durante o adestramento primário, também conhecido como doma de baixo, que se começa a perceber as habilidades específicas de cada animal e aí se instala a confiança entre o cavalo e o ser humano (LESCHONSKI, s/d.). Neste momento é preciso condicionar as respostas reflexas que deverão ser dadas durante a equitação (RINK,s/d). “Devemos ter em mente que não podemos condicionar novas cadeias de reflexos, podemos apenas utilizar aquelas com as quais o cavalo foi programado”(ROONEY,1979). Quanto ao cavaleiro, ele deve conhecer e compreender os comandos que irão gerar as respostas reflexas e fazer o cavalo percebê-las como se fossem vindas do seu próprio cérebro. “Podemos dizer que o Homo-Caballus é a espécie mais evoluída da cadeia biológica – um conjunto fisiologicamente superior à soma das suas partes” (RINK, 2000).

Aspectos fundamentais para o estudo da Equitação : De acordo com RINK (2000), o estudo da equitação deve ser abordado segundo os seguintes aspectos: - Antropologia da Equitação: “o paradoxo da evolução humana é a infeliz combinação de um cérebro de alta potência combinado com um sistema locomotor de baixa potência – o que levou o sapiens a buscar a simbiose com o caballus” (RINK, 2001). - Psicologia da Equitação: refere-se ao relacionamento entre homem e cavalo além da equitação. Os cuidados do homem para com o cavalo são na verdade estímulos para a consolidação da liderança pelo homem e da confiança e respeito mútuos. - Comunicação da Equitação: busca o ponto e a forma como a comunicação de cada espécie encontra seu ponto de entendimentodurante a equitação. É baseada fundamentalmente na comunicação corporal entre o homem e o cavalo durante a ação eqüestre. - Neurofisiologia da Equitação: refere-se à correlação entre os circuitos nervosos dos integrantes do conjunto eqüestre, objetivando produzir intenções “casadas” . Considera os comandos sutis do cavaleiro, os quais são captados pelo sistema nervoso eqüino e transformam-se em ações eqüestres. “O homem e o cavalo conectados fisiologicamente originam o Homo-Caballus, onde o homem produz as intenções e o cavalo responde de forma reflexa” (RINK, s/d).

O Sentido Proprioceptivo na Equitação : O sentido proprioceptivo corrobora efetivamente para a manutenção das espécies sendo, por exemplo, fundamental ao potro para que sobreviva no novo ambiente, seguindo sua mãe e encontrando seu úbere no devido tempo. A propriocepção também colabora para que o potro reconheça o seu mundo e sua manada . SWENSON (1986), ao classificar os receptores sensitivos, enfatiza que os proprioceptores localizam-se profundamente nos músculos, tendões e articulações e transmitem informações a respeito das partes do corpo e da posição espacial deste. MACHADO (1986) considera os impulsos proprioceptivos como sendo conscientes ou inconscientes. A propriocepção consciente é o sentido que permite , sem o auxílio da visão, situar uma parte do corpo ou perceber o seu movimento (MACHADO,1986). Lesões fasciculares, por exemplo, podem levar à perda total ou parcial deste sentido. Esses impulsos conscientes atingem o córtex cerebral, proporcionando a percepção da posição espacial do corpo, assim como da atividade musculo-esquelética (cinestesia). Os impulsos proprioceptivos inconscientes regulam a atividade reflexa muscular através do reflexo miotático ou da atividade cerebelar. Estes impulsos não fornecem qualquer informação sensorial ao córtex cerebral. Na via de propriocepção inconsciente, os receptores estão em junções neuromusculares e músculo-tendinosas, sendo classificados em tipo I e II. Baseado nestes conceitos, este trabalho considera que, na equitação, os impulsos proprioceptivos são os responsáveis pelas respostas reflexas do cavalo aos comandos do cavaleiro como se fossem produzidos pelo seu próprio sistema nervoso (antigamente denominado Centaur Effect).

Anatomo-Fisiologia do Sistema Nervoso : No cavalo como em todos os mamíferos, o sistema nervoso central (SNC) estrutura-se basicamente em encéfalo e medula espinhal. O SNC comunica-se com as diversas estruturas do organismo através das vias nervosas eferentes e aferentes, por onde transitam os impulsos. Potenciais elétricos são gerados nos neurônios através das diferenças de concentrações iônicas (bomba de Na e K) e determinam potenciais de ação, pela geração de estímulos motores . No neurônio em repouso, há elevada concentração intracelular de íons K+ e extracelular de íons Na+ e Cl - . Assim, o meio intracelular está carregado positivamente e o extracelular negativamente (potencial de repouso). O potencial de ação ocorre pela passagem de um impulso, que é gerado através de uma corrente elétrica. O que caracteriza o mesmo é uma rápida despolarização (mudança de polaridade intra e extracelular) e uma repolarização relativamente lenta. As características do potencial de ação são dependentes de características do neurônio e não da natureza do estímulo. O que garante a informação no sistema nervoso é a freqüência e não a amplitude do potencial de ação (propaga-se em velocidade e em forma de onda relativamente constantes). A transmissão das informações entre os neurônios ocorre nas sinapses, através de neurotransmissores. O neurônio pré-sináptico libera o neurotransmissor na fenda sináptica em resposta ao potencial de ação. No neurônio pós-sináptico o neurotransmissor atua tanto produzindo quanto impedindo alterações do potencial elétrico. A condução do impulso em direção ao corpo celular é realizada pelos dendritos (processo aferente). Os axônos conduzem o impulso a partir do corpo celular ( fibra eferente). Placa motora é a terminação de uma fibra nervosa motora em uma fibra muscular, semelhante a uma sinapse. Assim como nas sinapses interneuronais, um neurotransmissor presente na junção neuromuscular é a acetilcolina. A despolarização do sarcolema, gerada com a liberação de acetilcolina na junção neuromuscular, gera a contração muscular. A acetilcolinesterase atua como antagonista da acetilcolina, regulando, desta forma, a duração e intensidade do estímulo nervoso. As fibras aferentes conduzem os impulsos nervosos ao cérebro ou à medula espinhal a partir do receptor ao qual está conectada. Algumas vias têm origem e terminação na medula espinhal, formando os arcos-reflexos. Assim, uma ação pode ser realizada sem que a mensagem precise passar pelo cérebro, tornando-a muito mais rápida. ROONEY (1979) descreve as dilatações nervosas cervical e lombar existentes na medula espinhal do cavalo. Estas dilatações podem ser consideradas responsáveis pela formação dos arcos-reflexos que geram as ações do cavalo aos comandos do cavaleiro durante a equitação. Os movimentos dos membros toráxico e pélvico são controlados pela dilatação cervical e lombar, respectivamente. “Esta extraordinária informação pode estabelecer bases sólidas para se realizar uma fusão mais completa do sistema neurofisiológico do cavalo e do cavaleiro.” (ROONEY,1979).

Justificativa : Com base nos fatos acima mencionados, pode-se sugerir que a integração neurofisiológica entre cavalo e cavaleiro durante a equitação é passível de mensuração pelos parâmetros fisiológicos. Desta forma, podem ser medidos os momentos em que ocorre uma maior exigência por parte do cavaleiro ou do cavalo para a manutenção da harmonia do conjunto, assim como os momentos em que ambos realizam um esforço semelhante. A medição da freqüência cardíaca é considerada neste experimento uma forma de realizar esta aferição. Através da medição da freqüência cardíaca (em bpm = batimentos por minuto) do cavalo e do cavaleiro durante e/ou imediatamente após a realização de determinado andamento ou exercício, pode-se obter dados a respeito dos níveis de esforço individual e do conjunto, variações entre diferentes exercícios e em condições ambientais diversas.

Materiais e Métodos :Para a medição da freqüência cardíaca (FC) do cavaleiro optou-se por um monitor portátil composto por dois eletrodos e de um relógio receptor². Para o cavalo utilizou-se um monitor similar adaptado à espécie. Os dados coletados durante o exercício são gravados na memória do receptor e podem ser acessados através de um interface acoplado a um microcomputador. Também possibilita a leitura simples da freqüência cardíaca durante ou imediatamente após o exercício. Realizou-se a princípio a medição dos níveis basais do cavalo e do cavaleiro, obtendo-se os seguintes resultados: Cavalo: 34 – 40 bpm Cavaleiro: 70 –80 bpm Estes níveis estão dentro daqueles esperados para as espécies, quais sejam, entre 28 e 40 bpm para os eqüinos e 60 a 90 para o homem. Após um período de 10 minutos de aquecimento o equitador pediu ao cavalo o passo alongado (PA), percorrendo uma volta completa em uma pista de 250 metros, a qual foi cronometrada. O mesmo procedimento foi realizado com o trote alongado (TA), trote reunido (TR) e cânter (CA), também conhecido como galope reunido. Esta série de exercícios é conhecida como Teste do Garanhão Completo (Anexo 4). Ao final de cada o exercício realizou-se a leitura direta das FC. Foi realizado um total de 17 medições e os dados organizados em tabelas, sendo transferidos para gráficos e analisados.

Resultados e Discussão : No Passo Alongado (PA) observou-se que ambos trabalharam em zonas de FC distintas, porém elevadas ( anexo 1). A elevação considerável observada no cavalo, em relação a FC basal é devida à elevada descarga de catecolaminas que ocorre fisiologicamente nesta espécie, dado o estímulo pelo exercício. (Swenson, 1996) .Observou-se que no PA a FC do cavalo variou menos durante a amostragem que a FC do cavaleiro, fato provavelmente relacionado à necessidade maior de esforço pelo cavaleiro para manter o ritmo constante numa andadura pouco estimulante para o cavalo. No Trote Reunido (TR) observou-se aumento na FC do cavalo, enquanto que a do cavaleiro manteve-se relativamente baixa. Houve ainda menos variações entre as FC do cavalo que nas do cavaleiro, durante a amostragem, especialmente quando os tempos de realização da volta esteve entre 2,18min e 2,23min (anexo 2). Notou-se que, quando a FC do cavalo variou entre 73 e 80, a do cavaleiro esteve entre 87 a 97. Estando a FC do cavalo acima destas, houve grande variação em relação ao conjunto (cavalo-cavaleiro). Isso pode ser um indicio de “efeito compensatório” de um dos elementos do conjunto em relação ao outro e de que existe uma faixa de desempenho em que não há compensação, mas um trabalho mais integrado. No Trote Alongado (TA) ambos mantiveram-se em FC muito elevadas e as variações de FC ocorreram normalmente juntas, salvo em condições ambientais adversas, quando observou-se nítida tendência do cavalo a autopreservação, diminuindo o ritmo, exigindo esforço maior do cavaleiro para manter o ritmo do exercício (anexo 3). No Galope Reunido ou Cânter (GR) observou-se o cavaleiro em FC muito elevadas, sendo notada uma nítida sincronia nas variações de FC.O ajuste do cavaleiro ao centro de gravidade do cavalo, parece ter sido fundamental para este resultado, facilitado a dinâmica do exercício (anexo 4). Os tempos considerados ideais, para fins de comparação dos FC, estiveram entre 1,22min e 1,29 sendo possivelmente ocorrida neste tempos a melhor “sincronia de intenções do cavaleiro e movimentos do cavalo” considerado por Rink, 2000. Acima de 1,29min estiveram as maiores FC do cavalo, possivelmente resultado de ser o CA um exercício contra o cronômetro, com grande gasto de energia, portanto maior a exigência ao sistema cardiovascular. Observou-se, ainda que o não uso de espora (militar, sem roseta), levando a diminuição da superfície de contato entre o cavaleiro e o cavalo influenciou consideravelmente aumentando o tempo em algumas amostragens. O galope demostrou a andadura em que se apresenta a maior integração do conjunto e aquela mais estimulante para o animal. Novas observações serão fundamentais para a confirmação é o aperfeiçoamento das analises realizadas neste estudo.

Conclusões : O resultado dos dados coletados e as observações realizadas levam a concluir que, pela tomada das FC do cavalo e do cavaleiro após a realização dos exercícios, é possível obter-se informações relevantes ao estudo da equitação. Os níveis de esforço do cavalo e do cavaleiro foram os dados mais evidentes nesta pesquisa e podem encaminhar a inúmeros estudos de grande importância nessa área. As variações no desempenho do cavalo em dias chuvosos, com a pista escorregadia, podem ser analisadas, sob o ponto de vista da neurofisiologia do comportamento, como uma atitude instintiva de autopreservação por parte do animal. Nestas ocasiões percebeu-se um certo zelo por parte do animal, exigindo que o cavaleiro precisasse usar mais os comandos (perna, sons) para mantê-lo no ritmo adequado. Mesmo assim, o melhor tempo do CA foi conquistado em um dia de pista ligeiramente úmida, o que pode sugerir não apenas bom preparo físico do conjunto como também confiança do cavalo em seu equitador, superando sua insegurança inata. Os resultados obtidos, especialmente no CA, demonstram a unidade do conjunto, apresentando integração crescente durante o tempo de coleta dos dados. Esses resultados corroboram com a teoria da Neurofisiologia da Equitação de que o homem e o cavalo interagem durante a ação eqüestre, formando, o que Rink denomina, “uma nova unidade biológica” – o Centauro.


Dra. Maria Luiza Zanotto é Médica Veterinária - UDESC

24 de novembro de 2009

Equoterapia e Psicologia Comunitária : integração social em um centro de equoterapia


A Psicologia Social Comunitária : Surge, no Brasil, na década de 60 como forma de deselitizar a psicologia tendo como objetivo trabalhar com comunidades de baixa renda em busca de uma melhor qualidade de vida. O campo de trabalho, com o tempo, foi se ampliando para creches, postos de saúde, setor judiciário e sistemas de promoção de bem-estar social onde o psicólogo lança mão do desenvolvimento de instrumentais de análise e intervenção de acordo com as características específicas desta clientela. Campos (1996), coloca também que a partir do levantamento de necessidades deste grupo específico há a possibilidade de se utilizar métodos e processos de conscientização que estimulem os sujeitos a construírem sua própria história, a terem consciência dos determinantes sócio-políticos de sua situação e a atuarem na busca de soluções para seus problemas. A Psicologia Social Comunitária é um campo de trabalho interdisciplinar comprometido política e socialmente com o desenvolvimento de saberes e práticas que possibilitem o estabelecimento de relações igualitárias e emancipatórias através da dialógica. Tem como objeto de estudo a subjetividade, cuja construção se dá concretamente a partir das relações sociais cotidianas. A prática se estrutura fora do ambiente tradicional, em intervenções que facilitem transformações das experiências de dominação e desigualdade, a ponto de estabelecer relações conscientes, críticas e ativas. (Campos, 1996) Verificamos que os praticantes que limpam, encilham e guiam os cavalos sentem-se gratificados e felizes ao concluírem suas tarefas. Segundo Alícia Fernández, os comportamentos não instintivos, isto é, os que requerem uma aprendizagem (encilhar, guiar, etc.) são processos construtores de autoria "o essencial do aprender é que ao mesmo tempo se constrói o próprio sujeito" (Fernández, 2001, p.31 e 35). Tal transformação implica uma abordagem metodológica que privilegie a atividade, a consciência e a ética da solidariedade , motivo pelo qual a observação e a pesquisa participantes são utilizadas para efetivar o planejamento e a execução de programas de transformação da realidade vivida (Campos, 1996, p. 11). Conclui-se assim, que a produção do conhecimento se dá a partir do diálogo entre o saber popular, o saber acadêmico e o contexto nos quais estes saberes se inscrevem. O conhecimento produzido dessa forma garante a coordenação de ações coletivas de enfrentamento do instituído na realidade, a partir da síntese das percepções do pesquisador e daquela comunidade específica. A Integração Social na Equoterapia : "Os deficientes são pessoas antes de tudo...e têm o mesmo direito à auto-realização que quaisquer outras pessoas – no seu ritmo próprio, à sua maneira e por seus próprios meios. Somente eles podem superar a si mesmos" (BUSCAGLIA, 1993, P.29 apud SANTOS, 1997, P. 115). A sociedade deve reconhecer o portador de necessidades especiais como um ser humano com os mesmos direitos e obrigações dos demais. Ele deve ser acolhido pela família e se sentir capaz de se preparar através da educação para o trabalho, para a interação e a adaptação psicológica à integração. Segundo Clemente Filho (1977) a integração pressupõe interação, reciprocidade de ação, troca de atividades; é preciso que o "deficiente" que recebe amparo e proteção dê em troca pelo menos esforço, senão trabalho e produção, socialmente úteis. Isto, em nosso Centro de Equoterapia, podemos verificar através da realização e felicidade que os praticantes expressam ao se sentirem úteis e "normais" trabalhando no manuseio dos cavalos como qualquer outra pessoa. Neste espaço, eles desempenham o papel de equipe de apoio (auxiliar-guia, auxiliar-lateral e tratador). Para haver uma integração devemos analisar todos os aspectos desta relação: o portador de necessidades especiais, sua família e comunidade. Se há o desejo do praticante e de sua família em realizar estas atividades nós fazemos um acordo quanto à carga horária, funções, etc. O praticante recebe informações e supervisão constante da equipe do local para um bom desempenho de sua função. A partir da escolarização é que os vínculos com alguém fora da família começa a existir. Até então a criança se relacionava apenas com os cuidadores. A importâncias deste relacionamento entre infantes torna-se maior, fato que não se observa com os deficientes. Há uma diferença entre amigos e parceiros, este só junta para realizar atividades como a de brincar, àquele é que a criança escolhe para estar com ela para além da escola. O deficiente normalmente têm parceiros, suas limitações o impedem de expandir a relação para além do ambiente escolar. Mas em alguns casos a amizade é possível, a partir da prática no CEPA, percebemos que alguns praticantes ampliam este laço para além do espaço da Equoterapia. Alguns praticantes freqüentam a casa uns dos outros, encontram-se fora do CEPA, transformando uma parceria em amizade. As Famílias envolvidas no Processo : "quando nasce uma criança deficiente, a sociedade modifica as suas condutas: ninguém envia cartões de parabéns, não há prendas; há choros, emotividades provincianas e culpabilidades hereditárias inconscientes que ‘dramatizam’ ainda mais a situação" (FONSECA, 1991, P.11 apud SANTOS, 1997, P. 145). Desde o momento da concepção a história do bebê começa a ser traçada, esta "pré-história" nos mostra os desejos inconscientes do casal, tanto em relação a querer ter o filho ou não tê-lo. A sociedade espera uma imagem de jovens bonitos, sadios, inteligentes, enfim, alguém de quem se orgulhar. "De repente, aquele sonho infantil termina, repentinamente o casal se vê diante de uma realidade dolorosa demais: eles não geram um superbebê, mas uma criança da qual, a princípio, não vêem motivo para se orgulhar" (SANTOS, 1997, p. 147). De fato, a notícia é avassaladora, mesmo quando dada com cuidados, surgem questionamentos de culpa, dúvidas quanto ao futuro e por exemplo estas perguntas surgem aos pais: Aonde foi que eu errei? Porque tinha que acontecer comigo? O que será de mim? O que será de meu filho quando eu morrer? Após a descoberta que o bebê não se desenvolve como as outras crianças e que ele necessitará de cuidado permanente pressupõe-se muitas mudanças na organização familiar como aspectos econômicos, sociais e pessoais (emocionais) a fim de adaptar-se a nova realidade. A família passa então pela dor do luto do filho desejado e assim deve elaborar esta perda para reconhecer o filho gerado. Sobre esta criança os pais têm o direito de serem informados quanto às reais condições e possibilidades futuras (BUSCAGLIA apud SOUZA e MADUREIRA in ANDE, 2001). Santos (1997) coloca que as famílias com maior poder aquisitivo tendem a envergonhar-se mais do filho devido às expectativas de um bom desempenho. Assim elas investem mais na estimulação precoce e no acompanhamento médico. Eles também dão ênfase no desenvolvimento do senso de responsabilidade e às aquisições de conhecimento individual. A integração entre as famílias de portadores de necessidades especiais pode se dar através dos locais freqüentados por estes como: fonoaudiólogo, fisioterapeuta, escolas especiais, oficinas protegidas, natação, equoterapia, etc. Nestes encontros há a troca de experiência que pode auxiliar a aliviar angústias pois podendo compartilhar as dificuldades, temores e dúvidas sobre o familiar especial, assim algum conforto é obtido. Freire (1999), ressalta que a família reage de duas maneiras distintas, ou ela superprotege a criança, ou ela a desqualifica. Esta última, provoca uma redução das possibilidades e perspectivas de futuro que tendem a aumentar o grau de dependência. esta forma o feedback negativo se cria fechando um círculo vicioso e patológico. Na equoterapia, ao introduzir o cavalo este forma uma triangulação (praticante- cavalo-pais) que permite à família a visualizar o deficiente como separado dela e assim descobre-se capacidades não percebidas deste indivíduo. Redefinir as relações familiares auxilia na adequação dos comportamentos por parte do deficiente pois o círculo vicioso patológico pode ser interrompido. De acordo com Gavarini apud Freire (1999), a equoterapia favorece a integração social pois estimula o contato com outros praticantes, com seus familiares, com a equipe e com o animal. Desta forma aproxima o deficiente da sociedade a qual ele faz parte. O espaço da Equoterapia é visto pelas famílias como um local que vai além de uma terapia para seus filhos, é uma possibilidade de conviver junto à natureza que facilita as relações interpessoais. Geralmente as mães e acompanhantes terapêuticos são as pessoas que permanecem como praticante durante suas atividades semanais. No CEPA há atividade aos Sábados pela manhã, então percebemos uma maior participação do pai nas atividades. Conclusão : São diversas as dificuldades enfrentadas pelos PNE, deficientes e/ou doentes mentais e seus familiares de se relacionarem socialmente. Além das barreiras físicas (rampas de acesso), as barreiras do preconceito dificultam sua integração em sociedade. A possibilidade desta integração ocorrer dentro de um Centro de Equoterapia reforça o papel de psicólogo frente a esta realidade. Percebemos que nos finais de semana ocorre a participação dos demais integrantes da família (pais, irmãos, avós, primos e amigos da escola). Nesta ocasião, há interação entre familiares e equipe, criando a oportunidade de trocas de experiência, de saberes e de sentimentos ratificando ser este um espaço para a atuação da Psicologia Comunitária. O psicólogo é o profissional preparado para esclarecer aos outros profissionais da equipe o que se passa com a família e com o praticante que é atendido, permitindo a otimização da dinâmica interdisciplinar. Para os praticantes a possibilidade de trabalhar com os cavalos os faz sentir úteis e mais responsáveis contribuindo assim para sua inserção na sociedade. Isto o integra socialmente e o faz reconhecer-se como indivíduo. Desta forma, a Psicologia Social Comunitária tem o seu papel de ampliar esta consciência com o auxílio da Equoterapia que é um espaço facilitador de relações sociais e interpessoais igualitárias.
Renata de Souza Zamo : Psicologa e Instrutora de equitação do CEPA -Centro de Equoterapia Porto Alegre

A Equoterapia como auxiliar da Educação e da Inclusão Social


Um pouco da história da Inclusão/Exclusão :A inserção e a relação das pessoas deficientes com o mundo vem mudando muito na história. Na sociedade primitiva, as pessoas deficientes eram exterminadas, possivelmente por condições de sobrevivência própria e de todo seu grupo social (CARLO, 1999). Na antiguidade os deficientes eram segregados, afastados da sociedade, pois sua diferença era vista como maldição, ligações demoníacas e todo tipo de crendices. Tudo que era diferente e desconhecido gerava medo e preconceito, chegando à exclusão dessas pessoas.Com a expansão do Cristianismo, o deficiente também é considerado como uma pessoa quetem alma e portanto passou- se a considerar que ele já não poderia mais ser eliminado ou abandonado. A partir daí, essas pessoas começaram a ser acolhidas em asilos, ou por famílias , mas isso ocorria mais por tolerância do que por compromisso ou responsabilidade para com eles (CARLO, 1999). Assim, se nos seus primórdios recebeu proteção em hospitais e asilos, impulsionados geralmente pela filantropia, já no final do século XIX contou com duas instituições governamentais para educação do cego e do surdo. No século XX, a medicina influiu fortemente até os anos de 1930, mas foi gradualmente substituída pela psicologia, principalmente devido à influência de Helena Antipoff nos cursos de formação de professores (JANNUZZI, 2004, p.195). Então podemos dizer que a partir do final do século XIX, tempo de mudanças e descobertas, passou-se a estudar os deficientes de modo a procurar respostas para seus problemas, pois até então eles eram tratados como doentes, em alguma instituição. Excluídos da família e da sociedade eram acolhidos em asilos religiosos ou filantrópicos. Ao mesmo tempo foram aparecendo algumas escolas especiais e centros de reabilitação (CARLO, 1999).No Brasil, o atendimento aos portadores de necessidades especiais, começou em 12 de setembro de 1854, pelo decreto imperial n. 1.428, quando D. Pedro II fundou o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, no Rio de Janeiro, hoje conhecido como Instituto Benjamin Constant, nessa mesma época e cidade foi criado também o Instituto do Surdos- Mudos, hoje conhecido como Instituto Nacional de Educação de Surdos- INES (BUENO, 1993). Pouco a pouco, graças a Ongs como a Sociedade Pestalozzi, a AACD- Associação de Assistência à Criança Defeituosa e a APAE- Associação de Pais e Amigos do Excepcional, a questão da deficiência foi saindo do âmbito das doenças para tornar- se uma questão educacional (BUENO, 1993). De acordo com o artigo 205 da Constituição da República Federativa do Brasil, a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. A diretriz apontada pela Carta constitucional é reforçada pela lei 7853/89, de 24 de outubro de 1989, regulamentada pelo decreto n º 3.298/20. 12.99, que dispõe sobre a responsabilidade do poder Público em prover condições para o ingresso e a permanência de alunos com necessidades especiais nos sistemas de ensino. Nesse sentido, nenhuma escola pode recusar, sem justa causa, o acesso do deficiente à instituição. A lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional, Lei n.º 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996, em seu capítulo V, artigo 58, refere-se à Educação Especial como modalidade da Educação Escolar, que deverá ser ofertada, preferencialmente, na rede regular de Ensino, particularmente aos alunos com necessidades educacionais especiais, havendo, quando necessário, serviços de apoio especializado. Sobre isso Turra, Martines e Mariotto Pinto (2002, p. 8) se expressam assim: No entanto, professor, sabemos que ainda existe muito preconceito e discriminação em nossa sociedade. Embora na teoria esteja tudo muito claro, na prática esta teoria não se efetiva. Nosso papel como educadores é o comprometimento com a educação e com o futuro das crianças, independente de sua cor, sexo, raça, credo ou classe social, e se tenham ou não alguma deficiência.
A Equoterapia e o auxílio na Inclusão
Talvez por ser uma forma de tratamento que sai dos padrões convencionais de atendimento para pessoas com necessidades especiais, pois utiliza um instrumento vivo, o cavalo, e também por propiciar um ambiente diferenciado, a natureza, a Equoterapia tem promovido resultados mais rápidos e eficazes - a melhora do equilíbrio, da coordenação motora, na postura, o alongamento e flexibilidade muscular, a adequação do tônus muscular, a dissociação de movimentos, a melhora nos padrões anormais através da quebra de padrões patológicos e também na respiração e na circulação - juntam-se a esses benefícios a melhorada consciência corporal, a integração dos sentidos, melhorias nas funções intelectivas e cognitivas, na fala e na linguagem, além da melhora na autoconfiança, auto-estima, bemestar, enfim são muitos os benefícios que a Equoterapia traz para seus praticantes tornando a inclusão escolar e social mais tranquila (LERMONTOV, 2004). Os princípios de desenvolvimento na aprendizagem, para os não deficientes e deficientes são iguais, porém existem particularidades na forma de aprender e de se desenvolver, por isso a necessidade da utilização de recursos para cada peculiaridade. A prática de inclusão social e escolar se baseia na aceitação das diferenças, valorização de cada pessoa, incorporação da diversidade, sem nenhum tipo de distinção. Não se trata apenas de aceitar a matrícula dessas crianças portadoras de necessidades especiais, pois a lei garante isso. O que realmente deveria ser feito é oferecer para esses alunos serviços complementares, práticas criativas, adaptações no projeto pedagógico, rever postura e construir uma nova filosofia educativa. É preciso preparar as escolas para receber esses alunos, principalmente realizando a capacitação de seus professores e a interação entre escolas e os serviços de saúde, em especial os de reabilitação. É importante também sensibilizar os pais, sobretudo os dos não-deficientes. Todos devem trabalhar juntos, desempenhando um papel ativo no processo de inclusão. Enfim, todas as pessoas têm capacidade de aprender e contribuições para dar, se todas tiverem a mesma oportunidade de aprender e conviver. Por isso, todos os recursos pedagógicos e terapêuticos devem ser utilizados para a inclusão social e escolar das pessoas que apresentam alguma necessidade especial, para que essas pessoas possam superar suas dificuldades e limites. A Equoterapia é uma opção de recurso pedagógico e terapêutico para essas pessoas, pois já mostra resultados.

Milena Franco :Pedagoga; Especialista em Educação Especial pela Universidade Metodista de Piracicaba. Psicopedagoga, pela Universidade Castelo Branco do Rio de Janeiro.

19 de novembro de 2009

Contribuições da Equoterapia na atuação Psicopedagógica

Introdução : A importância histórica do cavalo no processo da evolução humana é inegável. Ao longo dos tempos ele foi utilizado como meio de trabalho, lazer, esporte e tantos outros. Atualmente, este animal, com tantas virtudes e qualidades, vem se destacando como agente de reabilitação e educação no tratamento de pessoas com necessidades educativas especiais, dando origem à equoterapia. Cirillo (apud FREIRE, 1999) define a equoterapia como um método de reeducação e reabilitação motora e mental, através da prática de atividades eqüestres e técnicas de equitação. O autor entende que o tratamento ocorre tanto no plano educativo pedagógico, reeducando, quanto no plano físico e psíquico, de terapia propriamente dita. Na relação com o cavalo, além do favorecimento de uma interação afetiva, o praticante encontra subsídios para sua reeducação, reabilitação e finalmente um novo tipo de educação. Para Lallery (1988) a equitação terapêutica consiste numa terapia psico-corporal do indivíduo em todo o seu SER, tendo como objetivo levá-lo a uma autonomia motora e psicológica, a uma adaptação com independência e a descobrir que o viver pode se realizar com prazer e não somente com repressão e sofrimento. A inteligência, segundo Bossa e Oliveira (1997), constrói-se através da organização do vivido, num contínuo vaivém, num recomeçar incessante. Para Rocha (1999), o desenvolvimento intelectual é o processo pelo qual as estruturas da inteligência se constróem progressivamente, por meio de uma contínua interação entre o sujeito e o meio externo. Durante esta interação, cada vez que a estrutura apresenta-se insuficiente para resolver um dado problema, o indivíduo tem que ampliá-la e torná-la mais evoluída para restabelecer o equilíbrio. A aprendizagem inicia-se com a vida e com ela se desenvolve. A passagem da ação à representação dá-se através de um fazer prático e interessante que, pouco a pouco, ao ir organizando o contexto vivido, vai internalizando a ação. É, portanto, uma atividade criativa por natureza, de descoberta e de invenção de novos meios para reorganizar a realidade por meio da qual o indivíduo se conduz ao conhecimento. Todo ser humano possui talentos que podem ser explorados e que funcionam como estímulos para vencer suas próprias limitações. Para tanto, é necessário um ambiente altamente estimulante, reforçador, prazeroso e exigente para que passo a passo este processo se efetive, em particular no caso de crianças com disfunções do desenvolvimento neurológico, cuja capacidade para entender os conceitos básicos das habilidades cognitivas varia consideravelmente. A equoterapia apresenta-se, assim, como a possibilidade de um trabalho compromissado, de fortalecimento da auto-estima, que leva a pessoa a se motivar e a participar mais efetivamente do processo terapêutico. Conviver com o cavalo ensina a criança a tornar-se mais atenta e a praticar a auto-análise para enfrentar suas dificuldades. Partindo do princípio de que toda criança possui potencial para o aprendizado, foi desenvolvido um programa de trabalho individual e em grupo de acordo com as necessidades específicas de cada praticante. O objetivo da equoterapia é proporcionar ao praticante um desenvolvimento global de seu ser, bem como sua integração na sociedade, respeitando suas limitações e observando seu potencial de desenvolvimento – objetivo comum ao da Associação Nacional de Equoterapia: “aprender a aprender”.A Equoterapia na Ação Pedagógica : De acordo com Severo (1999) para se entender os benefícios da equoterapia no ser humano e, principalmente, na criança, há necessidade de se estabelecer, a princípio que o ser humano é um produto filogenético, ontogenético e cultural, sendo o sistema nervoso, os estados psicológicos e as situações sociais os grandes responsáveis pela aprendizagem e pelos desempenhos comportamentais. Medeiros e Dias (2002) entendem que o sistema nervoso central é um órgão de reação ao invés de ação; reage aos estímulos que para ele convergem a partir de fora e de dentro do corpo. A função mais importante do sistema nervoso central é sua capacidade de inibir a atividade “incoordenada” ou indesejada e facilitar as funções utilitárias simultaneamente, para assim tornar possível o armazenamento de informações, ou seja, a capacidade de aprender. Os fatores psicomotores distribuídos pelas unidades funcionais, de acordo com Luria (1961), são apresentados como circuitos dinâmicos autoregulados, construídos segundo o princípio da organização vertical de estruturas do cérebro e dependentes de uma hierarquização funcional e afetiva, que ocorre em todo o desenvolvimento da criança. Segundo Severo (1999), que aborda em seus estudos as unidades funcionais descritas por Luria (1961), a primeira unidade funcional do encéfalo compreende, entre outras funções, a tonicidade, o equilíbrio e a coordenação (tronco cerebral e cerebelo). A atenção é importante coadjuvante de todas as aprendizagens, junto às necessidades e aos interesses. A segunda unidade funcional estabelecida por Luria (1961) compreende, entre outros, os seguintes fatores psicomotores (estados sensitivos): lateralização, esquema corporal e estruturação espaçotemporal. A outra unidade funcional (a terceira estabelecida por Luria) integra os outros fatores psicomotores: praxia global e praxia fina (o saber fazer). Severo (1999) enfatiza que, nas duas primeiras unidades funcionais, as crianças não apresentam dificuldades de aprendizagem, embora, na segunda, elas possam apresentar discretas dificuldades psicomotoras em algumas realizações. No terceiro perfil, estarão as crianças com dificuldades de aprendizagem leves, traduzindo já a presença de um ou mais sinais de atraso no desenvolvimento neuro-evolutivo. Elas realizam tarefas com dificuldades, mas não podem ser rotuladas como deficientes. Necessitam, apenas, de atendimento especializado na área da psicopedagogia. O autor diz ainda que há pelo menos três conceitos envolvidos no desenvolvimento humano: a psicomotricidade, as relações cérebrolinguagem e as relações cérebro-comportamento. Por isso é essencial que, antes da aplicação de qualquer terapia, haja um grupo de pessoas especializadas nos diversos componentes neuropsicológicos e psicopedagógicos para avaliar uma criança com dificuldades de aprendizagem e indicar a terapia mais coerente para cada uma. Nessas avaliações psicopedagógicas, a relação de fatores que influenciam o aprendizado pode ser muito eficaz na observação de problemas: de atenção, de motivação, de necessidade, de percepção, de memória, de ordem psicológica (afetivo-emocional), de cognição, de psicolinguagem, de psicomotricidade e de motricidade. Shkedi (1997) afirma que as habilidades escolares básicas referemse à linguagem e ao pensamento. Montar a cavalo auxilia na aquisição dessas habilidades e na elaboração de pensamento coerente, as quais requerem o uso de ambos os hemisférios cerebrais. Segundo a autora, é a motivação para cavalgar que estimula a criança a progredir com ordens e seqüências espaciais e temporais. Ou seja, montar ajuda a criança que apresenta dificuldades de aprendizagem. Educar é ajudar o ser humano, com os princípios e os fundamentos do ensino e da aprendizagem, informal e formal, na família e na sociedade, a transformar-se pelo crescimento e pelo desenvolvimento biopsicossocial em um cidadão com liberdade, felicidade e paz (HORNE, 1996). A equoterapia pode apoiar a educação de crianças com dificuldades de aprendizagem, deficiências físicas e/ou mentais, com condutas sociais atípicas e com altas habilidades. A professora Tereza Isoni (1996) afirma que a equoterapia facilita a organização do esquema corporal; facilita a aquisição do esquema espacial; desenvolve a estrutura temporal; aguça o raciocínio e o sentido de realidade; desperta uma profunda comunhão criança-realidade; proporciona e facilita a aprendizagem da leitura, da escrita e do raciocínio matemático; aumenta a cooperação e a solidariedade; minimiza os distúrbios comportamentais; promove a auto-estima, a auto imagem e a segurança; facilita e acelera os processos de aprendizagem. Conforme Shkedi (1997), os terapeutas podem promover excelentes oportunidades, durante as sessões de equoterapia, para que crianças com deficiência de atenção ou distraídas focalizem, concentrem-se, aumentem a motivação e alcancem um nível no qual o progresso de aprendizagem seja notável em todas as áreas das funções psiconeurológicas. Enfatiza a autora que cavalgar auxilia as crianças com disfunções da memória, porque exige planejar e criar estratégias, que são progressivamente memorizadas. Isto não é fácil de ser executado e é necessário prender pela repetição, memorizar e, pela cuidadosa explanação, completar tarefas cotidianas. Desenvolvimento e Resultados da Experiência com Equoterapia :A equoterapia é um método terapêutico que utiliza o cavalo comoinstrumento. O atendimento de equoterapia é realizado no Centro de Equoterapia Marisa Tupan – EQUUS, em Maringá-PR com atendimento a crianças, adolescentes e adultos, desde 1996. As pessoas que são encaminhadas ao atendimento de equoterapia, num primeiro momento são submetidas a uma avaliação com uma equipe interdisciplinar: neurologista, psicólogo, psicopedagogo, fisioterapeuta e fonoaudiólogo. Em seguida faz-se estudo do caso e, se indicado o atendimento, o profissional elabora um programa de atuação terapêutica a ser realizado. O atendimento ocorre uma vez por semana com duração de 50 minutos, com sessões individuais ou em grupos. Existe um espaço coberto e um aberto para diversificar o atendimento e fazer com que o praticante receba luz solar e tenha contato direto com a natureza. No início do atendimento o praticante é estimulado a manter contato com o animal, escovando-o, dando banho, alimentando-o, solicitando-se também a execução de atividades que envolvam o manuseio de materiais didáticos diversificados, como brinquedos, letras do alfabeto, formas geométricas, numerais e outros. Os materiais são de plástico e emborrachados imantados para que possam aderir aos painéis de chapas galvanizadas. Pode-se afirmar que os resultados do trabalho com o cavalo vão além do movimento tridimensional, repercutindo também no desenvolvimento das funções psicológicas e cognitivas. Durante todo o período de existência do Centro de Equoterapia Marisa Tupan (EQUUS), constatou-se que todos os praticantes apresentaram significativa evolução, tanto no contexto escolar e social quanto no domiciliar. O cavalo pode ser um ativador da atenção, intenção e iniciativa, tanto da criança como dos terapeutas. A equoterapia pode desenvolver a responsabilidade de forma equilibrada, melhorando a auto estima e a independência por meio de orientações recebidas em cima do animal, no momento da própria terapia, induzindo a uma aprendizagem significativa e prazerosa. Conclusão : O trabalho de equoterapia que vem sendo desenvolvido pode atingir pessoas com vários tipos de distúrbios e ou deficiências. Constata-se que o praticante melhora consideravelmente suas habilidades de orientação espacial, equilíbrio, lateralidade, comunicação, compreensão de leitura, escrita, raciocínio lógico, memória, tem ganhos físicos que favorecem a sensibilidade, a percepção do esquema natural, entre outros. Destaca-se também o aumento da atenção e de motivação diante das dificuldades de aprendizagem e o aumento da auto estima, proporcionando um sentimento de pertencer a um meio escolar acolhedor e importante para o indivíduo. “Onde não existir afeto de fato não há relação humana possível” (RISKALLA, 2002).

Marcia Regina de Sousa Storer - Mestranda em Distúrbios do Desenvolvimento – Psicopedagoga e Terapeuta do Centro Integrado São Leopoldo , Marcia Regina Volpato de Oliveira - Psicopedagoga e Terapeuta doCentro Integrado São Leopoldo , Marisa Cordeiro Tupan - Fisioterapeuta – Coordenadora do Centro de Equoterapia Marisa Tupan – Terapeuta da Clínica de Fisioterapia Especializada Pró-Fisio Maringá-PR

A Equoterapia no Ponto de Vista Psicológico

O cavalo hoje é grande destaque como instrumento de reabilitação e educação. Este se transforma em um personagem na vida da criança, do praticante, passando então a ser um ponto de contato sedutor com o mundo que o rodeia. A equoterapia não consiste apenas em exercícios de estimulação neuromuscular, visto tratar-se de um método terapêutico que envolve o ser humano por completo. Paciente e cavalo participam ativos dos exercícios. E a equipe formada por fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos, instrutores de equitação, são fundamentais para conduzir e levar a bom termo a terapia ao longo do tempo. Cabe ao psicólogo conhecer todos esses profissionais que estarão trabalhando juntos de forma interdisciplinar, como o cavalo, o praticante, e todo o material empregado nas técnicas e exercícios utilizados na equoterapia. Cabe a ele conhecer também o praticante, assim identificando suas limitações e potencialidades, além de conhecer muito bem o cavalo, suas características, para obter uma visão precisa das coisas possíveis dentro do tratamento. A interação de toda a equipe permite que cada um entenda a abordagem de seu colega, possibilitando assim um trabalho associado. Toda a harmonia em equipe é muito importante, principal objetivo da atuação interdisciplinar. O psicólogo ajuda na desenvoltura da equipe, com reuniões também, para haver essa harmonia entre todos e obter um ótimo resultado no trabalho. O cavalo, como objeto intermediador, é a ligação entre o praticante e o terapeuta, entre o praticante e o adulto, etc. Aquilo que o praticante não pode vivenciar, no contato com o cavalo ele irá aprender integrar-se e utilizar na sua estrutura, na sua evolução psicossomática, melhorando a sua autonomia, independência, auto-estima, auto-confiança, objetivos dos terapeutas para com seus praticantes. O cavalo é o ser da confiança e da troca afetiva e corporal; ele dá matéria à nossa busca de identidade. Ele permanece um ser que deve ser cativado e cuja dominação passa, através dele, pela auto- estima de si mesmo. Toda a evocação do cavalo, animal-símbolo, remete a noções culturais profundamente interiorizadas. Ele se torna o nosso outro eu, objeto de nossas projeções, uma resposta viva a nossos comportamentos. Vimos o cavalo como algo que gostaríamos que ele desse para nós ou depositamos nele nossas vontades. A intensidade das sensações e das emoções provocadas pela abordagem do cavalo, conduzem o indivíduo a um confronto consigo mesmo, que é corporal e psico-afetivo ao mesmo tempo. A nosso ver, o cavalo, fonte de emoções, é a própria essência do expressivo. E, através das vibrações corporais que o corpo registra, o cavaleiro vive uma experiência que remete diretamente à sua vivência interior, assim, desabrochando, criando e realizando seu próprio bem-estar, pelo viés do cavalo, este seu outro eu. O psicólogo, trabalha o aqui-agora, o presente, sem ficar muito preocupado em achar um culpado para tal situação, claro que não iremos ignorar o passado e toda a história de vida do praticante, como também todo o histórico familiar. Não só o psicólogo mas como toda a equipe deve sempre estar atentos quanto aos comportamentos que o praticante irá apresentar, pois este nos dá valiosas informações para podermos dar seqüência e andamento no tratamento, como também o que esperamos dele no futuro(estratégia). O próprio ambiente da equoterapia irá propiciar ao praticante uma profunda comunhão entre praticante-ambiente, isto é, a natureza. Na equoterapia, não se consegue separar as funções de cada terapeuta, pois todos trabalham em equipe e claro que todos precisam obter o conhecimento de todas as áreas, para se obter uma terapia adequada em todos os programas de equoterapia ( hipoterapia,educação/reeducação, pré-esportivo). E dentro da equoterapia, esta facilita a organização do esquema corporal, a aquisição do esquema espacial; desenvolve a estrutura temporal; aguça o raciocínio e o sentido de realidade; desperta uma profunda comunhão criança-realidade; proporciona e facilita a aprendizagem da leitura, da escrita, e do raciocínio matemático; aumenta a cooperação e a solidariedade; minimiza os distúrbios comportamentais; promove a auto-estima, a auto-imagem e a segurança, também facilita e acelera os processos de aprendizagem. Todo o vínculo cavalo-cavaleiro, estabelecido desde as primeiras sessões desenvolve a afetividade, com isso obtendo-se um ganho geral de auto-confiança e auto-estima, sendo assim há um melhoramento nos outros aspectos como o senso de limite e responsabilidade, o relacionamento interpessoal e casos de timidez, retração, hoperatividade, doenças de humor e depressão, entre outras deficiências apresentam sensível progresso. Os resultados obtidos na psicologia através da equoterapia se deve ao diferencial de utilizar o animal, o que permite trabalhar mais o afeto, autonomia do ir e vir. Toda a sensação de liberdade , de se locomover é fundamental, além disso há o ganho físico proporcionado pelo movimento do cavalo e além do ganho emocional. A confiança obtida na equoterapia permite acelerar o processo de desenvolvimento de potencialidades, responsável pela integração social e pessoal do portador de deficiências ou dificuldades. Toda a prática equestre favorece ainda uma sadia sociabilidade, uma vez que integra o praticante, o cavalo e os profissionais envolvidos. O psicólogo poderá fazer orientações aos pais ou responsáveis pelo praticante, como reuniões, já que estes apresentam muitas dúvidas e expectativas sobre o trabalho. A equoterapia contribui de forma prazerosa para a aplicação de exercícios de coordenação motora, agilidade, flexibilidade, ritmo, concentração e lateralidade. Desenvolve a sensibilidade física e psíquica, na medida em que exige a constante percepção e reação frente a diversos estímulos. Assim, resultando em maior harmonia e equilíbrio físico e psíquico.

Thaís Rocha Brentegani
http://www.profala.com/artet11.htm

Importância da Psicologia do Esporte na Equitação

Introdução : Os primeiros momentos que antecedem qualquer competição esportiva são o bastante para fazer o coração de qualquer atleta bater mais forte. A ansiedade é um estado emocional negativo com sentimentos de nervosismo, preocupação e apreensão São vários os fatores que influenciam na ansiedade e na tensão competitiva que foram observados e estudados neste trabalho. Alguns sinais como batimentos cardíacos alterados, respiração, mãos frias e úmidas, necessidade de urinar freqüentemente, sudorese, diálogo interior negativo, olhar aturdido, tensão muscular aumentada, estomago embrulhado, indisposição, dor de cabeça , alguns destes sintomas foram observados no dia da competição.Quais os motivos que desencadeiam este estado emocional e como o psicólogo do esporte poderá atuar neste esporte.Metodologia : Os métodos utilizados foram de observação, questionamento e investigação de alguns dos meios externos relacionados à postura dos iniciantes. Foram feitas pesquisas de campo por meio de acompanhamento de seis indivíduos com idade entre 10 e 13 anos,cinco do sexo feminino e um do masculino que iriam competir em uma prova hípica pela primeira vez e tinham no mínimo um mês de experiência na escola de equitação. Este grupo foi observado no treinamento e nas competições hípicas. Foram feitas entrevistas com os pais, instrutores e com os próprios atletas.Para medir a freqüência cardíaca do grupo foram utilizados monitores marca(POLAR A3 )foram medidos em repouso, em treinamento e na competição. Ainda foi procedida pesquisa bibliográfica, uma vez que o assunto tem pouquíssimo material disponível no que se refere a psicologia do esporte aplicada a equitação. Resultados : Na observação realizada medindo a frequência cardíaca das crianças no paddock (logo antes de entrarem na pista de competição) e na avaliação através de observação dos sintomas gerais de ansiedade, pudemos perceber que ao montar para participar de uma prova o nível de ansiedade dos pesquisados já estava alterado.Os resultados de todos os pesquisados demonstrou em média um aumento de 30bpm(batimentos por minuto)da freqüência cardíaca de repouso para a freqüência no paddock, e de 70bpm para a freqüência cardíaca ao terminar a prova. Por conta dos questionários e observações e nos treinos e mesmo nas prova, verificamos ainda que os pais têm um papel muito grande no desempenho de seus filhos. Talvez mais do que os instrutores. Suas atitudes e comportamentos têm efeitos muito importantes, tanto positiva como negativamente. Portanto, segundo (Weiberg e Gold), a participação bem sucedida dos pais no esporte pode ser difícil, mas vale a pena. Foi extremamente eloqüente o resultado de nossa observação, onde o sujeito que tinha os pais de perfil psicológico mais calmo, sem demonstrar nervosismo, preocupação excessiva e ansiedade , apresentou os melhores resultados entre as crianças observadas, enquanto que o sujeito que tinha os pais com maiores alterações teve a pior performance entre todos os pesquisados. Em treinamento e competição, todos os cavaleiros estão sujeitos a ansiedade e stress, e possivelmente aqueles que melhor sabem lidar com isto são aqueles que conseguem as melhores classificações. Portanto a Psicologia do Esporte torna-se praticável na Equitação a partir do momento que poderá criar para os cavaleiros numerosas oportunidades para mudar seus antigos hábitos e atitudes, de perceber o que compromete sua performance ou o divertimento no esporte. Oferece aos cavaleiros uma variedade de formas que irão melhorar sua confiança, competência e auto-controle. Pode-se trabalhar individualmente cada cavaleiro, treinador e seus pais e criar rotinas individuais para cada um deles dentro de suas necessidades. A Psicologia do Esporte poderá ajudar no controle do temperamento das pessoas quando intenso demais e ensinar os praticantes a se divertirem. Se divertir no processo de montar em
vez de se preocupar exclusivamente em ganhar, pois a preocupação em ganhar interfere com o prazer de montar. Os pais devem entender que o mais importante ao iniciar seus filhos na vida esportiva – em qualquer esporte que seja - é saber o bem que isso pode fazer à criança em um todo, independentemente de vitórias ou troféus. Além disso, a prática de esportes desde a infância traz benefícios para toda a vida e ensina a criança que o resultado só depende dela. Elas aprendem a lidar de frente com as alegrias e decepções que podem acontecer a cada competição. O esporte é uma fonte rica em relacionamentos e ótimo para a saúde física e mental. Na Equitação, além do cavalo e cavaleiro, muitas pessoas estão envolvidas em uma competição: amigos, familiares, treinadores, público etc., o que acaba gerando um alto nível de expectativa ao redor do competidor. A expectativa de obter o reconhecimento pela sua equitação, a tentativa de agradar e formar opiniões positivas, a expectativa de ganhar a prova ou mesmo a expectativa de cair do cavalo. O cavaleiro mal treinado, pouco confiante, com pais ansiosos e com pouca interação com seu treinador terá certamente sua performance afetada e a cada resultado negativo a expectativa e a pressão serão maiores, gerando um efeito “bola de neve” que poderá acabar culminando com a desistência do esporte. Discussões e Conclusões :Pudemos concluir que através de experiências esportivas positivas como a auto-percepção, a motivação, o prazer na atividade, atitudes positivas em prol dos valores da atividade física per si, capacidade de lidar com a ansiedade, e atitudes esportivas formam o âmago das características que supre as justificativas do esporte competitivo (Wiggins,1987). Pude concluir que as crianças entram no esporte para divertir-se e a partir do momento que se iniciam nas competições um dos fatores que mais influência no aumento de seu nível de ansiedade são as manifestações das pessoas que estão ao seu redor, suas atitudes e comportamentos irão interferir de maneira intensa no esporte. Temos que ter em mente que diversão mais prazer geram resultados satisfatórios.As escolas de equitação muito podem fazer para contribuir para a iniciação esportiva destas crianças trabalhando em conjunto com profissionais da área de psicologia do esporte e os mesmos atuando como consultores na prática da equitação, trabalhando em conjunto com instrutores e todos os envolvidos no esporte.
Busato, A.¹, Catenaci, U.², Culpi, F. S. ³; .Furquim, S. 4
1 Orientador do Projeto
2 Acadêmico do Curso de Ciências Eqüinas
3 Co-orientador
4 Colaborador
Curso de Ciências Eqüinas Pontifícia Universidade Católica do Paraná

17 de novembro de 2009


16 de novembro de 2009

Fundamentos da Psicologia do Esporte aplicados ao Hipismo

Assim como outros animais, o cavalo teve seu processo evolutivo ligado à necessidade de adaptação para sobrevivência em seu meio. Seus caracteres físicos e padrões comportamentais o definem historicamente como “animal presa”. Seus tradicionais predadores são os carnívoros de grande porte de diferentes espécies. Seus órgãos dos sentidos especializaram-se na detecção de sinais de proximidade do inimigo e seu aparelho locomotor adquiriu excepcional mecânica para desenvolvimento de velocidade, tipificando-o como animal “fugidio”. A compreensão do funcionamento desses sistemas é fundamental para o alcance de bons resultados nas competições de hipismo. Assim, preferindo a fuga ao confronto com o inimigo, os eqüinos têm, na visão, no olfato e na audição, seus principais, rápidos e eficientes meios de percepção do perigo, responsáveis pelo acionamento de seus mecanismos de defesa (morder,manotear ou coicear e/ou fugir). A visão do cavalo é peculiar e seu primário detector de ameaças. O formato dos olhos, a distância entre eles e sua localização, o permitem enxergar de duas formas diferentes, a monocular e a binocular, abrangendo um campo de visão de quase 360 graus na horizontal (com uma área de visão nula atrás e um ponto cego imediatamente à frente dos olhos) e 180 graus na vertical. A despeito dessa amplitude, não conseguem enxergar com nitidez em todas as direções e distâncias, mas são extremamente sensíveis a variações e movimentos muitas vezes não perceptíveis ao homem, assustando-se com facilidade. Na busca de melhor ângulo visual, movimenta a cabeça para ajustar o foco, que é muito prejudicado em distâncias inferiores a 1.20m-1.30m (elevando a cabeça para ver objetos próximos e abaixando para enxergar objetos distantes).Com relação ao olfato dos eqüinos, sabe-se que seu tecido epitelial abrange área superior a 100 vezes a média do mesmo tecido encontrada nos humanos. Sua grande sensibilidade é usada para localizar e selecionar alimentos, para identificarem-se uns aos outros, bem como na percepção da hostilidade ou amigabilidade de outras espécies. Cavalos parecem, em geral, distinguir com facilidade feronômios e odores considerados ameaçadores em geral (como adrenalina, por exemplo), o que normalmente os deixa excitados e difíceis de controlar. O sentido da audição nos cavalos é particularmente bem desenvolvido e os auxilia tanto na detecção de predadores como na comunicação com membros do rebanho. É também uma excelente ferramenta para auxiliar no processo de treinamento do cavalo-atleta. Suas orelhas, localizadas no alto da cabeça,movem-se em quase todas as direções, permitindo-os dirigi-las diretamente à fonte emissora de sons. A detecção de ruídos não familiares, em geral pode amedrontá-los e produzir reações de fuga ou aparente rebeldia.Pesquisas desenvolvidas na Univers. de Nevada (Reno - USA) concluíram que o sistema auditivo nos eqüinos é mais sensível a sons de alta freqüência, enquanto Burton F. (em Ultimate Horse Care, publicado por Ringpress Books, 1999) acrescenta que nas freqüências médias (entre 2KHz e 4KHz) a capacidade de discriminação de variações em tons e alturas é otimizada. É também de capital importância na prática dos esportes hípicos, oconhecimento de alguns aspectos da percepção tátil dos cavalos, uma vez que, nas competições, o principal meio de comunicação usado pelos cavaleiros é a transmissão de sinais através de suas pernas, mãos e assento. Esses sinais são chamados de “ajudas” e, utilizados corretamente, podem fazer o animal mover-se nos três andamentos básicos (passo, trote e galope), parar, mudar de direção, saltar obstáculos e executar exercícios atléticos em geral, da mesma forma que seu uso inadequado possivelmente gera reações negativas, movimentos não desejados, desequilíbrio, perda de sensibilidade e, inevitáveis penalizações nos concursos.Outra relevante característica comportamental dos cavalos é sua alta sociabilidade , visto que, originalmente, viviam em ebanhos com dominação hierárquica claramente estabelecida. Animais submissos em sua maioria,parecem aceitar facilmente o homem como seu líder, desde que este o trate com respeito e lhe transmita confiança.

Interações Psicológicas entre Cavalo e Cavaleiro

Os principais estudos sobre aprendizagem e adestramento de animais da espécie eqüina baseiam-se em teorias de “reforço-estímulo-resposta” (tentativa e erro). Embora a grande maioria dos treinadores e cavaleiros continue aplicando predominanantemente reforços negativos (chicote, esporas, embocaduras) para alcançar seus objetivos atléticos, as pesquisas apontam para a maior eficiência da prática da recompensa (ou reforço positivo) pelas respostas corretas. Ignorar respostas não desejadas também conduz a melhores resultados do que aplicar punições, visto que estas geram desconfiança e medo.Tais procedimentos, normalmente levam à diminuição dos erros e até à sua quase extinção. Dada a dificuldade de utilização dos chamados reforços positivos primários durante o cavalgar, pode-se aplicar técnicas de associaçãodestes com estímulos tácteis ou verbais (por exemplo, repetir determinado som ao alimentar o animal). Os reforços devem ser aplicados durante ou imediatamente após a ocorrência da resposta desejada (um bom salto, por exemplo), caso contrário o estímulo poderá reforçar a atitude seguinte (por exemplo, o descanso após um percurso de saltos bem sucedido). Por essa razão a utilização da “gratificação sonora” é, geralmente, mais viável do que a táctil (o tradicional tapinha no pescoço). Deve-se também observar que a freqüência variável de administração de reforços mostra-se mais eficiente que a sua aplicação continuada. Por outro lado, o grau de dificuldade dos exercícios propostos deve ser progressivo e parcimonioso, a fim de não gerar grande incidência de respostas negativas nem provocar acidentes, o que geralmente induz o animal à perda confiança e o conseqüente descrédito do treinador ou cavaleiro como seu “líder”. Outra prática bastante comum que deve ser evitada é a de realizar sessões únicas diárias de treinamento de longa duração, pois a freqüência de boas respostas diminui proporcionalmente ao aparecimento de sinais de cansaço do animal (e também do cavaleiro), assim como longos períodos de permanência em confinamento (na cocheira, por exemplo) levam ao desenvolvimento de taras e vícios indesejáveis (coicear as paredes, morder e “engolir ar”, manotear o chão, por exemplo).Com relação ao cavaleiro e/ou treinador, há alguns aspectos relevantes a considerar: As chamadas “ajudas”, de mãos, pernas e assento são os principais meios de comunicação com o cavalo e devem ser claras, precisas, consistentes e transmitir propostas de execução viável, para não gerar dúvidas, insegurança ou reações adversas;Ao aplicar tais “ajudas”, o cavaleiro freqüentemente provoca desconfortos (ou até dor e ferimentos) nos sensíveis pontos de contacto com o cavalo, especialmente a boca e os flancos, logo, estas devem ter a intensidade apenas necessária para produzir o efeito desejado e aliviadas imediatamente após, a fim de produzir o efeito de reforço positivo da atitude do animal e levá-lo ao entendimento da tarefa; A ansiedade e as tensões do cavaleiro são imediatamente percebidas pelo cavalo através do olfato (a descarga de adrenalina, por exemplo, o faz sentir-se na iminência de ataque) e do tato (a rigidez da parte superior do tronco passa pelos braços e mãos do cavaleiro e atinge a boca do cavalo, bem como a instabilidade das pernas faz com que as esporas agridam seus flancos), transmitindo-lhe intranqüilidade e medo; Por ocasião de concursos, com o incremento da tensão do cavaleiro (pela situação de competição) e do cavalo (pela presença de elementos estranhos ao seu “rebanho”, ocorrência de ruídos e alterações no campo visual), maximizam-se os efeitos negativos (que interagem entre cavalo e cavaleiro), com conseqüente e significativa queda no desempenho do conjunto. O desempenho dos conjuntos cavaleiro/cavalo nos esportes hípicos depende da compreensão de múltiplos fatores que vão muito além das características biomecânicas específicas de cada modalidade, entre os quais destaca-se a íntima relação psicológica entre dois atletas de diferentes constituições físicas e mentais, empenhados num mesmo objetivo, dirigidos porém, pela vontade de apenas um deles; Ainda pouco utilizada no meio hípico, a Psicologia do Esporte pode ser de grande utilidade no aprimoramento qualitativo do relacionamento cavaleiro/cavalo, seguindo-se o tão desejado aumento do rendimento em competições; As técnicas de treinamento de habilidades psicológicas mais recomendadas para atletas de hipismo são as de controle de respiração e de relaxamento progressivo (para redução de ansiedade) e as de mentalização (para controle de adversidades e melhora de concentração), enquanto para cavalos com distúrbios comportamentais, utiliza-se com sucesso técnicas de dessenssibilização pós-traumática;A abordagem do especialista em Psicologia do Esporte pode ser feita de forma direta ou através do treinador, mas deve sempre considerar o conjunto cavaleiro-cavalo, as peculiaridades de cada um e as relações entre eles. Os instrutores devem considerar, ainda, as técnicas de “feedback” positivo, ao se relacionar com alunos cavaleiros.

13 de novembro de 2009

O Jogo de Polo na Equoterapia

O polo é um esporte no qual quatro jogadores por equipe montados em cavalos e golpeando um bola com um taco, tentam marcar o máximo de gols possíveis no arco da equipe rival. Os jogos são disputados em quatro tempos de sete minutos e meio, denominados chukkas.O principal objetivo do polo é conseguir marcar o maior número de gols em comparação ao seu adversário, acertando uma bola de 8 centímetros de diâmetro com um taco de 3 metros de comprimento, e fazendo-a entrar numa baliza com 7,3 metros de largura. As medidas de um campo de polo são de 275x180m, e os cavalos utilizados caracterizam-se por ter uma altura que varia entre 1,52 metros e 1,60 metros. A bola para jogar polo é branca e feita de madeira ou plástico. O taco é de cana de bambu . O jogo é disputado por duas equipes com 4 elementos cada. Estes elementos encontram-se numerados de acordo com as posições que ocupam no campo de jogo, sendo o nº1 e nº2 atacantes, o nº3 meio de campo e o nº4 defensor. Um jogo de polo dura pouco menos de uma hora, e é dividido por períodos chamados chukkas. Conforme o nível de jogo, podem variar de 4 a 6 chukkas por partida. Cada chukka tem duração de 7,5 minutos e é feito um intervalo de 3 minutos entre os chukkas. Na metade da partida é feita uma pausa de 5 minutos. Os cavalos devem ser trocados a cada chukka e só podem ser utilizados 2 vezes no mesmo jogo, podendo ser eliminados durante a partida se a sua condição física for julgada insatisfatória num dos controles veterinários que ocorrem durante a prova. Os jogos são controlados por dois juízes montados a cavalo e um árbitro que permanece fora do campo, que é consultado pelos anteriores em caso de dúvida. Os jogadores são avaliados e classificados porhandicaps numa escala de -2 a 10, sendo -2 um iniciante e 10 um jogador perfeito. Jogadores com handicap igual ou superior a 2 são considerados profissionais. Esta avaliação não é atribuída de jogo para jogo, mas sim no final de cada época. O polo tem uma particularidade que o diferencia dos outros esportes, que consiste no fato de as equipes terem de mudar de campo, e consequentemente de baliza, a cada gol que marcam. Isto acontece para que nenhuma das equipes seja beneficiada do estado do campo e das condições atmosféricas.

Técnicas do Taqueio de Polo Aplicadas a Equoterapia

Este artigo tem como enfoque dois praticantes de equoterapia que tiveram acrescidas em suas sessões, técnicas do jogo de pólo. O primeiro, do sexo masculino, na faixa etária entre 10 e 11 anos, portador de Paralisia Cerebral apresentava falta de concentração, e problema na visão, fazendo com que tivesse dificuldade em calcular a distância e a profundidade dos objetos que porventura estivessem a sua frente como por exemplo, um degrau de escada ou a sarjeta da rua, conseqüentemente com a junção dos dois problemas, tinha grande deficiência de equilíbrio; a segunda praticante estava com a idade de 13 para 14 anos, teve indicação de equoterapia para melhoramento do condicionamento físico, correção de postura e equilíbrio, devido a uma doença degenerativa dos músculos hoje, controlada; em comum com o primeiro praticante tinha também problemas de visão mas, com menor gravidade. O método a ser aplicado consiste em utilizar o tratamento da equoterapia, que é a utilização do cavalo como agente cinesioterapêutico onde, se deslocando ao passo, o animal produzirá um andar tridimensional muito semelhante ao andar humano, o qual será transmitido por inércia a quem estiver sobre seu dorso e fará o praticante buscar naturalmente, o equilíbrio para não cair do animal pois, estará sendo deslocado na ordem de até 5 centímetros, para cima e para baixo, para um lado e para o outro, para frente e para trás, e ainda acompanhando o movimento do dorso do cavalo, também sofrerá uma leve rotação da cintura pélvica, na ordem de 8 graus formando assim, o denominado movimento tridimensional. Desta forma, o praticante estará recebendo continuamente e de forma muito semelhante, estímulos em seu complexo muscular e terminações nervosas na ordem de 180 oscilações por minuto. Cientificamente comprovada ser a mais indicada para a saúde, sendo também estimulado o senso de equilíbrio que por um motivo ou outro, não possa ser trabalhado. Somando-se a isto, associaremos técnicas do taqueio do jogo de pólo a cavalo. O jogo de pólo possui quatro tacadas básicas normalmente, executas com o taco na mão direita devendo para os fins equoterápicos, o taco ser trocado de mão para que o praticante possa trabalhar os dois lados do seu corpo, bastando que sejam invertidos os movimentos. Necessário ressaltar que no jogo de pólo, os cavalos estarão encilhados e os jogadores dependerão muito do apoio dos estribos para maior precisão e alcance das tacadas; mas, precisão e alcance são irrelevantes para os fins da prática da equoterapia sendo que, o praticante poderá estar montado apenas utilizando manta, com ou sem cilhão e estribos. A primeira tacada é para frente, com a bola pelo lado direito do cavalo. O praticante deverá caso esteja montado com sela, apoiar-se no estribo para obter maior rotação do tronco; o antebraço e o braço devem permanecer em linha reta durante todo o movimento que começará quando o jogador, olhando para a bola, deslocará sua mão para trás e para cima do nível superior de sua cabeça. No mesmo instante, seu ombro direito e o braço se estendem ao máximo em cima da cabeça. Quanto mais potência se pretende da tacada, mais alta deverá ser a mão direita acima da cabeça. (Fotos 1, 2 e 3) . A segunda tacada também é para frente, com a bola pelo lado esquerdo do cavalo, o taco à esquerda do pescoço do cavalo deverá ser deixado cair para baixo e para frente. O praticante deverá girar o tronco em torno da cintura para a esquerda, deslocando o ombro direito o quanto puder; dependerá para isto do arreamento que estiver usando durante a sessão tentando colocar a linha dos ombros paralela à direção que se pretenda deslocar a bola. Nesta tacada, quando executada de maneira correta, o praticante ao girar os ombros, deverá sentar-se sobre a coxa esquerda, simultaneamente elevará a mão direita até a altura da face esquerda. (Fotos 4, 5 e 6) . A tacada para trás, com a bola para o lado direito do cavalo, é o terceiro modo de taqueio. O "back", como são conhecidas as tacadas em que ao bater na bola, a mesma será impulsionada no sentido cabeça-anca do cavalo o praticante dobrará ligeiramente seu corpo para a esquerda, suspendendo-se nos estribos caso esteja usando ficando sentado sobre a coxa direita. Ao mesmo tempo, o ombro direito apontará para frente e para baixo na direção da bola, enquanto a mão direita se eleva até a altura da cabeça, deixando o taco sensivelmente caído sobre o ombro esquerdo. Após armada a tacada, o taco desce em direção a bola. (Fotos7,8 e 9) . A última das tacadas básica é para trás, com a bola pelo lado esquerdo do cavalo, assim, o praticante deverá trazer a mão direita para o lado esquerdo do pescoço do cavalo. Caso esteja montado com sela, o praticante deverá suspender-se nos estribos, girando o ombro direito para frete do cavalo e o ombro esquerdo para trás, de modo que a linha dos ombros fique sensivelmente paralela à direção em que se quer taquear a bola. Ao mesmo tempo, o praticante erguerá seu braço direito quase que verticalmente, estendendo-o ao máximo e inclinando o taco para trás do braço. Estando nesta posição, bastará descer o taco passando rente ao pescoço do cavalo em direção da bola. (Foto 10, 11 e 12) . Conclusão : A prática da equoterapia constante e regular, por si só, já é um excelente método terapêutico para aquele que de alguma forma necessite de um tratamento diferenciado pois, o praticante estará recebendo tratamento especializado e sendo orientado por uma equipe interdisciplinar ao mesmo tempo em que sua atenção estará voltada para um local diferente dos consultórios convencionais pois, o praticante estará montando e muitas vezes conduzindo um animal muito maior do que ele. Os praticantes mencionados já praticavam equoterapia há algum tempo sem comprometimento cognitivo, com rapidez de raciocínio e de pequeno comprometimento físico. Estavam necessitando de um maior atrativo para que as sessões de equoterapia não se tornassem maçantes e cansativas assim, ao serem introduzidas técnicas de taqueio do jogo de pólo, esses praticantes tiveram grande desenvolvimento do condicionamento físico como também no equilíbrio pois, para taquear é necessário muita concentração para que se possa acertar a bola uma vez que, tanto o binômio cavalo/cavaleiro e a bola poderão estar: estáticos, deslocando-se no mesmo sentido, ou a inda em sentido contrários. Outro fator observado, foi a melhora de percepção dos objetos ou obstáculos pois, para que se acerte a tacada, é necessário que se tenha a noção exata da distância, da bola, com o tempo e sincronismo de todo os movimentos de rotação do tronco, braço e ante-braço que conduzirá o taco ao encontro da bola, sendo trabalhado neste aspecto, o ajuste fino de coordenação motora e novamente o equilíbrio. A equoterapia não é um esporte mas sim, um tratamento em que uma equipe interdisciplinar deverá atuar em comum acordo. Todas as adaptações e cuidados deverão ser tomados, respeitados os limites de cada praticante, para que a sua integridade física e psicológica não sejam agredidas ou desrespeitadas.

Carlos Odilon Vetrano de Queiroz - 1º Sargento do Exército Brasileiro da Arma de Cavalaria, trabalha com equoterapia desde 1994, serve atualmente no 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado em BELA VISTA-MS .

http://www.equoterapia.org.br/trabalho_ver.php?indice=71

12 de novembro de 2009

Atividade Psicomotora Equestre

O objetivo deste trabalho é articular o estímulo neuromotor que o cavalo dá, com a atividade psicomotora em clínica de transferência, na construção da criança. O método para um lado e táticas e estratégias em atividade neuromotora do sujeito, no outro. Não há dúvidas sobre o potencial do cavalo e a equitação como geradores de estímulos sensitivos. Nossa intenção é integrar, pôr em prática, a atividade psicomotora em clínica de transferência, o terceiro corte evolutivo da atividade psicomotora com nosso método de trabalho. (Método Daniele). Desde seu início em 1900 com Jenry Wallon, a atividade psicomotora registrou três cortes evolucionários, cada um deles com suas próprias características especiais por ajudar o sujeito a integrar, corpo, gestos e posição ante os olhos dos outros, mãe, pai, terapeuta. Desta maneira, ele/ela começa construindo um conceito de corpo – corpo imaginário - corpo simbólico. Esta tática e estratégias compreendem as capacidades e incapacidades do sujeito, e constroem laços desde que numa trama de transferência. O objetivo deste trabalho é de que a criança com patologias possa reconhecer-se e existir como um sujeito no qual sua imagem do corpo está em jogo. Um modo particular de abordar um paciente, onde dois campos se encontram, o orgânico e a subjetividade, e quando eles se entrelaçam o ponto de encontro surge, que é a atividade psicomotora. Estes dois campos são representados por duas esferas que parecem estar lutando para impor seu próprio peso. Na esfera do campo orgânico estão a anatomia, a fisiologia, a patologia, e a reabilitação cinética; na esfera do campo subjetivo estão a história, os jogos, e as representações. Em um lado, a ciência empírica e as técnicas derivadas, que não podem exceder seus próprios limites, que são os de ponderar e medir, ou seja, é o campo orgânico, cuja palavra moderna parece ter mais importância. No outro lado, o campo da subjetividade, onde nós não podemos parar de nos perguntar que tipo de artifício pode medir o entusiasmo ou o tédio, o interesse ou a apatia, o prazer ou a indiferença, e a incontável quantidade de ponderações que a relação ser humano-cavalonatureza produz. E neste ponto de união aparecem algumas diferenças básicas, especialmente entre o conceito de reabilitação equestre e a restauração do termo (usado pela OMS). Na reabilitação clássica, um movimento é melhor que o anterior, o objetivo é normalizar o tom. Em nosso trabalho, o movimento é um gesto feito para ser visto pelo outro, e nós não podemos dizer que este gesto é melhor que o anterior. O mesmo acontece com nossa leitura do tom transformado em posição na estrutura do sujeito. E por esta razão que nós temos adotamos a denominação de Atividade Psicomotora Eqüestre, que implica uma modificação no conceito clássico de reabilitação, não sendo apenas um nível atingível de função ou estados, como o único parâmetro evolutivo na direção do tratamento e na relação que a transferência ocupa na etapa central. A atividade psicomotora na transferência clínica analisa a dificuldade de representar o corpo e o movimento, relacionamentos de espaço e tempo, onde o sintoma psicomotor está em vista não como o sinal de dano, mas como o resultado de um epifenômeno. Nesta clínica, a transferência vem especificamente para as exigências particulares da criança e para a sua família, que coloca o terapeuta, que representa – aquele outro – numa posição de poder em que ele ou ela não pode escolher ser ou não, está outorgada a capacidade de produzir o que está em jogo neste espaço clínico, apoiado pela psicanálise, e é onde o conhecimento corporal está representado e mais relacionado; e também ao esquema corporal, o que acontece e como curá-lo, do que à imagem física. Não há clínica psicomotora, sem corpo, sem um olhar e sem os movimentos de um sujeito; e entre o pulso do corpo e o corpo em si, entre o pulso do movimento e a operação da função motora.A presença de patologias neuromotoras implica o uso de métodos cinéticos até pelos sintomas e sinais que são visíveis em cada patologia. A maneira que eles estão localizados no sujeito responde ao singular histórico na estrutura do sujeito. Sobre o nascimento, a criança traz um equipamento básico neuromotor do sentido físico do termo que satisfará a função motora na ordem psicológica. Nós falamos de naturalidade e crescimento, que têm uma legalidade temporal. Para que estas funções se complementem, devem passar pelo campo do outro, mãe, pai, de modo que possam formar sua própria imagem, a função como criança, e a operação da função motora. Esta operação da função motora coloca prazer no movimento, pulsa, exige que o outro a estimule e erotize, move-se pelo prazer da reunião e divisão. Esta escritura pulsante de movimento cruzado pela linguagem começa a construir a imagem inconsciente do corpo e do projeto motor. Deve haver uma impressão deixada que liga com uma história o que a criança construiu e constrói, que liga a infantilidade à infância. A realização é da ordem do acontecimento, uma experiência singular, estabelecida por exemplo nas conquistas de postura. Estas não são somente um ato mecânico, são partes de cenas que os outros constroem onde ele existe como sujeito. A postura é conquistada em reunião e superações do campo do outro, é uma realização psicomotora, é espacial, temporária, o ritmo varia de uma postura para outra, o eixo do corpo será o pólo de integração das sensações cinéticas que esboçará a orientação do corpo. Até que a criança possa construir sua própria auto–imagem, as sensações são fragmentadas, não há “eu” das funções imaginárias, o sujeito será capaz de apropriar a realidade, contrariamente, o músculo será mantido fora do discurso. A area clínica apresenta-se em problemas novos e diversos: - a estrutura do corpo, a lingual e o outro; - imagem e esquema corporal; - a estrutura dos sintomas psicomotores; - a transferência na clínica de atividade psicomotora; - a direção da cura; - o psicomotor no autismo e na psicose. A atividade psicomotora eqüestre levanta diferenças com a prática na cirurgia. A presença de um ser vivo em cena. Qual é o seu papel em cena? Pode tornar-se uma figura importante para aquelas crianças com quem não conseguimos nos comunicar. A presença de outros operadores como suporte técnico. Qual é o seu papel, ativo ou passivo? A transferência na equitação muda o espaço de poder? Coloca-nos mais perto do conhecimento da equitação do que do terapêutico? Como podemos reverter isso? A cena é mais ampla, e em contato com a natureza os riscos são também grandes, mas as cenas são limitadas nessa área. As cenas e a espontaneidade das criações são limitadas por razões de segurança. A duração do tempo de terapia não é mais limitado às demandas da atividade neuromotora, elas são mais longas. Sobre os diferentes passos epistemológicos: Se usamos o primeiro corte, permaneceremos ancorados na figura tridimensional da montaria, manobras de controle do tom muscular, teremos uma criança passiva, algo comum para crianças. Um terapeuta ativo e um cavalo no papel de “terapeuta”.Se nos colocarmos no segundo corte, que é concentrado no tom afetivo e emocional, estaremos “bancando” a mãe, e a criança se tornará presa à afeição e ao prazer maternal de alguém que não deveria exercitar esse papel. A prática equestre somente será significativa se o que é produzido pelo cavalo, facilitado pelo caráter tridimensional da montaria, facilitando a operação da função na ausência do corpo durar e for reproduzido no solo.

Aldo Lauhirat - Argentina