8 de fevereiro de 2011

O Cavalo Castrado

Cavalo castrado, para muitas pessoas está relacionado à perda de alguma coisa. Perda de valor comercial e da possibilidade de reproduzir. Porém, é bom lembrar que, se por um lado ele perde, por outro ele ganha. Tudo depende do que o criador ou proprietário espera do cavalo. Existe o objetivo de se iniciar uma criação, de aprimorar raças, desenvolvendo e apurando linhagens através de cruzamentos planejados, assim como o desejo de simplesmente possuir e utilizar os animais para trabalho, esporte e lazer. Para esta última categoria, a dos usuários do cavalo principalmente, nada melhor do que um cavalo dócil, de fácil manejo e que não exija custos elevados para sua manutenção. Leia em "Mais Informações" . 
No caso dos pequenos e médios criadores, o que ainda se observa no Brasil, em todas as raças, é a dúvida se o potro vai se transformar num garanhão. É sabido que nem todo cavalo macho é um garanhão, um reprodutor, muito pelo contrário, é bem difícil se produzir um macho de alto valor genético. Sendo o papel do reprodutor o de transmitir qualidades, características genéticas aos seus filhos, o animal tem que ser "top de linha" para ser designado garanhão. É esse todo o sistema de uma criação, o processo de aperfeiçoamento e seleção de uma raça. Dentro desse raciocínio, todos os cavalos não destinados a reprodução deveriam ser automaticamente castrados. Entretanto, o que acontece hoje não segue exatamente esse princípio tão simples e claro, justamente porque não há uma consciência mais nítida de que um potro, mesmo que não venha a ter filhos, vai se encaixar em outras categorias e já encontra atualmente um mercado bastante amplo para comercialização.
 Enquanto na Europa e Estados Unidos castrar cavalos é prática natural para animais de qualquer raça, destinados a várias modalidades desportivas, havendo um número exato de castrados registrados, no Brasil, que ainda está descobrindo as vantagens desse mercado, não existe sequer o controle disso junto às associações, com raras exceções. O que acontece é que no exterior, o comércio é principalmente voltado para o consumidor final, que é o proprietário de animais de trabalho, esporte e lazer, e os mantém numa baia, no quintal de sua casa ou alojados em sítios. Neste caso, éguas e castrados são mais fáceis de se manter. Mas estamos descobrindo pouco a pouco as inúmeras vantagens, o mercado vai se rearranjando e demonstrando que a procura aumenta em prol dos cavalos prontos, domados, castrados.
 O número de criadores é muito inferior ao número de usuários do cavalo. Acabou aquela "febre" de comprar garanhões, às vezes de linhagem não muito expressiva, por preços elevadíssimos, de querer produzir um número absurdo de matrizes no criatório. A seleção está muito mais rigorosa e, com isso, apenas os garanhões "de verdade" estão destinados a reprodução. O mercado para eles se mantém, não será alterado pois sempre haverá quem crie. Em contra-partida, abriu-se espaço para os machos, para maior utilização dos castrados, que apresenta preços mais acessíveis. Isto é importante inclusive para equilibrar o mercado no que diz respeito a valores reais cobrindo o sistema de oferta e procura.

As vantagens

No esporte, o cavalo castrado de categoria sela substitui com vantagem o garanhão em qualquer modalidade. O animal não perde em resistência e nem em impulsão, mas ganha em maneabilidade. Um castrado criado em liberdade terá maior condicionamento físico natural do que o garanhão mantido na baia. O esporte requer do animal características que, dificilmente se encontram num cavalo inteiro. Entre elas está o fato dele ter que se socializar com outros cavalos. Quando se vai medir os batimentos cardíacos, um cavalo inteiro demora muito mais para voltar ao normal, pois acaba sofrendo com maior intensidade as influências externas. É mais agitado, se incomoda com o barulho e principalmente com a presença de éguas. Fica com a respiração completamente alterada e torna-se difícil de ser controlado pelo cavaleiro.
Existem relatos de machos que depois de castrados renderam muito mais em desempenho. Há vários recordistas PSI, que não tem progênie, e o curioso é que começaram a valer suas campanhas só depois de castrados. Na Alemanha (1992) onde há uma das mais rigorosas seleções de reprodutores, somente 3% foram aprovados sendo o restante castrados. Na raça APPALOOSA existe um bicampeão de Laço ao Bezerro que é um cavalo castrado. Os campeões da TEVIS CUP, nos Estados Unidos, são em sua maioria castrados. E estes são apenas alguns exemplos do que acontece nas modalidades esportivas.

Como e quando castrar

Antes de tudo, é preciso discutir o porquê de se castrar cavalos. O primeiro e principal motivo pelo qual se castra um cavalo é o financeiro, já que o manejo para um garanhão é muito mais caro. Vale ressaltar que a porcentagem de machos habilitados genética e morfologicamente à reproduzirem é muito baixa. Sendo assim o caminho natural para a amortização de custos é a castração. Aconselha-se a castração de machos que não tenham características raciais satisfatórias, pois assim eles não transmitiriam esses caracteres a sua prole, ao mesmo tempo que dá a chance a um outro previamente selecionado ter maior número de filhos também selecionados, melhorando desta forma o padrão racial. Muitos proprietários acreditam que seu garanhão é um ótimo reprodutor, quando na realidade é inferior a muitos outros. Uma das maiores causas do insucesso de criadores é exatamente o fato de acreditarem nisso e continuarem a utilização deste animal.
A correta avaliação de um garanhão é muito importante. Um garanhão ruim, que traz prejuízos ao Haras, às vezes pode se sair um excelente cavalo de serviço; bonito, habilidoso na lida com o gado e tranqüilo.
Há várias correntes que indicam o melhor momento para castrar um cavalo. Existem os veterinários que preferem castrar por volta de 3 anos, pois nesta idade o animal já estará em fase final de crescimento, e, portanto com suas características definidas, praticamente prontas, ao passo que, se castrar precocemente, ele diminuirá seu crescimento e guardará sempre aquelas características de potro. Por outro lado, se castrar um cavalo tardiamente, haverá um engrossamento do cordão espermático, aumentando assim a irrigação testicular, além de ter um aumento da libido daquele animal, o que dificulta uma adaptação à nova vida.
Antes de se descrever o processo cirúrgico da castração, é importante salientar que é conveniente que o animal esteja imunizado contra tétano, e que mesmo assim é necessário se aplicar uma ampola de soro antitetânico no dia da cirurgia. É também importante observar que o cavalo a ser castrado esteja com os dois testículos na bolsa.
Após a castração deve-se soltar o animal e deixar que ele se levante, quando então deve se iniciar uma atenta observação para constatar se há sangramentos das feridas, bem como as primeiras reações do animal.

Físico e Comportamento

A diferença visual entre os dois biótipos resume-se na presença dos testículos na bolsa escrotal do garanhão a partir dos 18 meses de idade, em média, e principalmente no comportamento desses cavalos que são mais fogosos e indóceis que os castrados, devido a presença de hormônios masculinos em seu metabolismo.
Fisicamente notamos que o cavalo castrado fica mais calmo e portanto menos estressado, perdendo gradativamente o interesse sexual, passando a se alimentar melhor e tendo um ganho de peso acentuado, com um comportamento cada vez mais pacato. O instinto sexual do animal castrado vai diminuindo aos poucos até que termine a quantidade de testosterona circulante, quando ele perde então a capacidade de fecundar. Esse tempo levará em média de 30 a 90 dias, sendo que, após esse tempo a probabilidade de fecundação é zero, apesar de alguns animais permanecerem com a libido ativa por muito tempo, sendo aptos ainda durante um período, a detectar cios e fazer montas em éguas, sem que isso cause prejuízo a ambos.

Importância e Conscientização

Sempre é necessário que as crises se manifestem para que o mercado possa se reavaliar e se posicionar, assumindo novas posturas e reestruturando valores. Quando se começou a comentar o fenômeno Cavalo de Função e a idéia passou a alcançar a mentalidade do criador, que já sentia a necessidade de um escoamento do plantel, começou-se a falar em usuário de cavalo, em incrementarão de um mercado para cavalo de sela, de esporte e serviço. Isso tudo veio se avolumando e se desenvolvendo até o ponto que surgiu mais claramente a necessidade de atender a uma demanda de cavalos preparados, domados e prontos para o consumidor final, que exige preços mais acessíveis. Dentro desse conceito, o mercado de cavalos castrados tem toda a tendência de se expandir, fortalecendo-se e apresentando-se como o mais sensato produto de comercialização dos próximos anos.
Se todos gostassem do vermelho, o que seria do amarelo? Se todos machos fosse garanhões e todo mundo resolvesse só criar, produzir e não utilizar cavalos, o que seria da qualidade e da quantidade do rebanho eqüino nacional? Trata-se apenas de uma conscientização, onde os apreciadores de cavalos definem o que desejam e esperam desses animais.