10 de abril de 2012

A Doma India


Domar cavalos é uma atividade complexa, pois lida com algo subjetivo: a confiança. Para diminuir possíveis riscos e não comprometer funcionalmente o cavalo, criadores e proprietários interessados em habilitar seus animais para funções específicas, como por exemplo a de montaria, devem procurar conhecer as técnicas existentes e contratar profissionais capacitados, que possuam sensibilidade e competência para tal trabalho. Conhecido como o “papa” da Doma Índia no mundo, modalidade de doma que aplica conhecimentos dos índios nativos dos pampas argentinos, Oscar Scarpati Schmid descreve seu trabalho com cavalos de forma poética, transmitindo seriedade e amor. Leia em “Mais Informações”...


Criador de um método de amansar equinos sem violência, resgatando antigas técnicas utilizadas pelos índios pampas argentinos baseadas apenas na comunicação e persuasão do homem sobre os animais, Oscar Scarpati Schmid teve seu primeiro contato com os cavalos aos oito anos, através de exemplares que pastavam perto de sua casa, em San Luis, na Argentina.

“Ganhei a confiança de um potrilho de um ano e meio, e sem dar-me conta foi domando-o até o ponto em que ele fazia tudo o que eu queria. Era meu companheiro, passamos alguns anos juntos e com ele fiz minhas primeiras experiências”, recorda, explicando, porém, que na época não sabia exatamente que estava domando um cavalo. “Era algo muito natural o que se dava entre nós, nunca houve violência e a relação foi extraordinária. 

Foi uma experiência inconsciente da minha parte, eu não tinha conhecimentos, apenas sabia que tinha que tratar o cavalo como desejava que me tratassem e, pouco a pouco, foram aparecendo os resultados desse tratamento”, emenda Scarpati. 

Ainda menino, durante os meses de verão Scarpati ia para os campos de um tio, onde ficava rodeado de cavalos soltos na natureza. Foi lá que conheceu Don Cristobal, um velho índio ranquele puro que havia sido guerreiro e não falava com ninguém, pois anos antes havia sido feito prisioneiro num forte que havia naqueles campos. “Quando criança, tive um acidente com um cavalo e ele me ajudou, me curou, e assim iniciou uma forte relação. Me adotou como um neto e, da mesma forma que minha mãe, foi quem mais entendeu esta paixão que tenho pelos cavalos. 

Ele me ensinou muito do que agora sei e juntos reconstruímos o modo de domar dos índios pampas”, prossegue Scarpati, que conviveu com o indígena até sua morte, aos 102 anos, compartilhando incontáveis dias no campo, conversando, cantando e praticando muitos dos ritos e costumes de sua cultura. Hoje, aos 62 anos, Scarpati não sabe precisar exatamente quantos cavalos domou, mas diz que foram milhares, muitos deles Crioulos, já que era praticamente a única raça presente nos campos argentinos. “Tive sempre boas experiências com a raça, pois são cavalos dóceis, fortes e rústicos, como eu gosto”, resume, salientando que aprecia muito a raça, tanto na Argentina, Brasil, Chile e Uruguai, pois seus resultados são muito evidentes e satisfatórios. 

Princípios Básicos

De acordo com Scarpati, os princípios da Doma Índia são baseados numa filosofia de vida, numa visão da natureza e dos cavalos onde o respeito, a admiração e a excelência desempenham um papel fundamental. “Respeitamos a dignidade do cavalo a todo o momento e lhe damos a possibilidade de aprender pouco a pouco, sem subjugá-lo nem agredi-lo desnecessariamente”, explica, reforçando que o método é um jogo, uma comunicação permanente entre o homem e o animal, onde jogando se aprende e se chega aos resultados que se buscam. 

“Os passos são muito simples. Primeiro se estabelece um vínculo, se dá forma a relação mediante uma clara comunicação animal, através de gestos, movimentos e um sincero contato físico. Pouco a pouco, com a corda e a cabeçada, se ensina o básico, se delimitam os limites necessários e se faz o amansamento de baixo e logo montado. Basicamente, o método consiste em tirar o medo e as cócegas que o potro tem, depois de conseguir isso, ganha-se a confiança do animal e a doma se faz mais tranquilamente”, ensina Scarpati.

Segundo ele, para se obter sucesso utilizando o método é fundamental ter conhecimentos para poder entender o cavalo xucro, além de muito respeito. Assim, com o tempo se adquire experiência, o que fará com que o domador esteja mais perto de fazer um trabalho bem feito.

“É muito importante ter humildade, entender que há sempre mais para aprender, que existem vários caminhos para se chegar a um mesmo resultado, e que nunca se justificam os maus tratos ao animal, pois isso demonstra que não se está abordando a situação como se deve. A pessoa que deseja domar deve saber ensinar, ter a vocação de educar e saber por-se no lugar do potro, sobretudo nos momentos difíceis”, acrescenta. 

Scarpati observa que o tempo médio de doma de um animal é muito relativo, já que pode-se amansar um potro em poucos meses, porém alerta que não se deve ir rápido demais, pois quanto mais tempo nos dedicarmos ao cavalo, melhores serão os resultados. Em sua opinião, uma doma bem feita não deve durar menos de oito meses.