10 de abril de 2012

Decarpentry e as Particularidades da Equitação Acadêmica


Os objetivos particulares da Equitação Acadêmica, já apresentados superpõe-se aos objetivos gerais da Arte Eqüestre, que são a calma, a impulsão e a retidão do cavalo. Os primeiros só podem ser perfeitamente atingidos pelo cavalo com a perfeita harmonia do jogo de suas forças, exatamente ajustadas com o seu objetivo. Diz-se, então, que o cavalo está “leve” ou na “leveza”. Leia em "Mais Informações"...


A leveza é a própria essência da Equitação Artística, como lhe é a pedra de toque. Sua natureza e a forma de suas manifestações serão o objeto de um estudo particular exposto mais além. O Princípio básico da Arte Eqüestre aplica-se à Equitação Acadêmica como a todos os ramos desta arte: é a submissão do cavalo à vontade de seu cavaleiro.

Nenhuma diferença essencial distingue a obediência exigida do cavalo na equitação artística da que deve observar na equitação utilitária. Numa, como na outra, seu consentimento deve ser “incondicional”. Além disso, na Equitação Acadêmica deve tomar um caráter de submissão voluntária, que dá a impressão do cavalo cumprir as ordens com satisfação.

A conquista da submissão é bem anterior ao período complementar de seu adestramento visando a equitação artística, e a exposição das condições desta conquista pode parecer, aqui, fora do assunto.

Porém, a submissão útil do cavalo não se adquire num momento, por meio de uma espécie de doma que pusesse nas mãos do cavaleiro, de uma vez por todas, o poder de obter de sua montada, a partir deste instante, qualquer movimento novo, a seu bel prazer.

O cavalo só pode executar as ordens cujo sentido compreende, e sua constituição mental não permite ao homem empreender separadamente o ensino de uma de suas ordens e a obtenção do consentimento para a execução desta. Na realidade, o fazer-se obedecer constitui-se uma única causa no adestramento, e a certeza de ser compreendido nunca existe para o cavaleiro que não é obedecido.

No adestramento acadêmico, novas exigências são impostas ao cavalo. Para cada uma delas, impõe-se sempre a aplicação do princípio de submissão, em condições que variam apenas para certos detalhes, mas que conservam sempre os seguintes caracteres essenciais: 1º) - A execução de um determinado movimento só é possível colocando o cavalo num conjunto de condições tal que sua influência obrigue o instinto a realizar o ato desejado, que a execução deste ato dele possa ser obtida; 2º) - A reconstituição do mesmo conjunto determinante permanece indispensável durante o tempo necessário para a formação do hábito, graças ao qual a execução do ato toma um caráter de fatalidade semelhante ao do reflexo no homem.

Este caráter de fatalidade, que não pode, aliás, apresentar jamais todas as garantias de certeza, permite somente ao cavaleiro considerar-se compreendido pelo cavalo, ao mesmo tempo que certo de sua submissão.
O Método da Equitação Acadêmica em nada difere do que é aplicado desde o começo da iniciação, e é, aliás, o único de que o homem dispõe para “adestrar” qualquer animal. Consiste no desenvolvimento progressivo das aplicações do princípio de submissão, pela substituição, aos meios primitivamente empregados para obtê-la, de outros meios mais cômodos e suscetíveis de uma aplicação mais ampla e mais graduada.

A linguagem convencional assim estabelecida, pouco a pouco, entre o cavaleiro e sua montada,enriquece-se com novos sinais. A compreensão do cavalo desenvolve-se. O emprego combinado de sinais, cujo sentido isolado foi estabelecido separadamente, permite ao cavaleiro ampliar a extensão de seu ensino, sempre conduzindo do conhecido para o desconhecido.

É o espírito do método. Utiliza a linguagem estabelecida para aplicar ao corpo do cavalo a progressão ginástica de uma série de movimentos destinados a desenvolver antes sua agilidade que sua força, e sua flexibilidade de preferência à sua potência.

Este método, único em seu princípio, apresentou com o tempo algumas variações na escolha e no modo de aplicação de seus meios. Uma delas transformou profundamente a condução do adestramento, a que Baucher trouxe à Arte Eqüestre há pouco mais de cem anos. Por um lado, ela explora sistematicamente a mobilidade provocada do maxilar como fator de leveza, enquanto os antigos consideravam essa mesma mobilidade como seu testemunho.

Por outro lado, ela precede ao flexionamento do cavalo por meio de exercícios ginásticos tão localizados quanto possível, esforçando-se por deixar na inação as partes que não são o objeto imediato de cada um destes exercícios, enquanto que, ao contrário, a ginástica dos antigos põe sempre em movimento o corpo inteiro do cavalo.