19 de outubro de 2009

As Palavras do Mestre Nuno de Oliveira

“Em todas as artes os artistas aprendem a técnica e todos os detalhes dessa técnica, produzindo então sua obra de arte."

Nuno de Oliveira foi sem dúvida um dos grandes mestres da equitação clássica a nível mundial. São inúmeros os cavaleiros que o recordam como um mestre que utilizava pouca palavras, evitando as longas palestras. Inspirava confiança – com comentários breves e extremamente objetivos, resolvia as dúvidas de qualquer aluno. Acreditava que a equitação era transmitida por sentimento e aplicação prática e que o cavaleiro interessado e sério aprendia muito e de uma forma muito mais profunda ao ganhar experiência prática sobre os seus cavalos, do que com longas palestras.As suas opiniões sobre sete temas podem ajudar profundamente qualquer cavaleiro interessado em qualquer disciplina de equitação e equoterapia . São na realidade a base de todo o trabalho. Nas suas palavras...
O Passo
Todos passamos demasiado tempo a trote. O passo é a base de todo o trabalho e é com o passo que nos devemos preocupar. Um bom passo reunido, lento, decidido e cheio de impulsão está na base de todos os andamentos reunidos. No passo de escola o peso do corpo do cavalo é empurrado energicamente para diante pelos membros posteriores ativados pelas ajudas das pernas e assento do cavaleiro.A cabeça e o pescoço do cavalo elevam-se com um suave relaxamento da boca quando cede à ação dos dedos do cavaleiro sobre as rédeas. Ao iniciar o trabalho a trote e a galope o cavaleiro perde o seu tempo se não tiver conseguido ainda obter um bom passo, com o cavalo ativo apesar de submisso e interessado. Não deve ter vergonha de passar horas a aperfeiçoar o passo do seu cavalo. Terá a retribuição nos outros andamentos.
Espádua a Dentro
Nunca se deve subestimar a importância deste exercício para obter flexibilidade. É o mais importante de todos os exercícios laterais e não é suficientemente utilizado. O cavaleiro não deve pedir a espádua-a-dentro só ao longo dos lados mais compridos do picadeiro; deve manter o cavalo feliz e interessado na espádua-a-dentro em círculo, nos topos do picadeiro, em meios círculos e ao longo da linha central. Da espádua-a-dentro para o ladear e de volta à espádua-a-dentro etc. Assim como a espádua-a-dentro em direção ao meio do picadeiro, deve-se praticar também a espádua-a-dentro, cabeça à teia.
A espádua-a-dentro é mais facilmente conseguida quando o peso do cavaleiro recai ligeiramente sobre o exterior e a perna exterior se encontra um pouco atrasada. Muitos cavaleiros são ensinados a colocar o peso sobre o interior do arreio mas em certos cavalos isto leva ao bloqueio do movimento lateral.Também acontece que muitos cavaleiros exigem demasiada encurvatura com a rédea interior, que se deve manter suave. Devem-se voltar as unhas da mão interna para cima e manter o contacto com a rédea suave. É a mão externa que guia a parte anterior do corpo do cavalo para fora do alinhamento dos posteriores e que comanda o grau de encurvatura juntamente, como é óbvio, com a utilização correta da perna interna do cavaleiro que pede ao cavalo flexibilidade e encurvatura, junto à cilha.
Ladear
As transições de espádua-a-dentro para o ladear trazem muitos benefícios. O mesmo se aplica do ladear para o ‘renvers’. À medida que o cavalo se torna eficiente e flexível no exercício pratique o ladear num círculo alargado. Logo que o cavalo executa melhor o exercício, o círculo pode ir sendo diminuído. No ladear, o corpo do cavaleiro tem que se manter ao centro. É fácil deixar o corpo inclinar-se para o exterior – é uma grande ajuda colocar o peso sobre o interior.
Os ombros do cavaleiro deverão manter-se paralelos às espáduas do cavalo. Entre estes exercícios devemos assegurarmo-nos de que o cavalo se mantém direito, descendo ao longo do centro do picadeiro. Depois devemos voltar à fase seguinte.Quando se executa um ladear em diagonal à parede, o cavaleiro deverá utilizar menos a perna exterior quando chega ao outro lado.
A Concentração e a Extensão
Se passarmos demasiado tempo a ensinar um cavalo a estender-se ou alongar-se antes dele se conseguir reunir ele terá dificuldade em fazê-lo, o que lhe trará problemas para executar os exercícios mais avançados. O cavalo deve ser ensinado a reunir-se e a flexibilizar logo desde o início. Uma vez conseguida a concentração com ação, é mais fácil obter a verdadeira extensão. Se pelo o contrário o cavaleiro se concentrar unicamente na obtenção da extensão, antes de ter obtido a concentração através de exercícios que a ela induzam, a extensão obtida tomará a forma dum andamento corrido e desequilibrado, em vez da verdadeira extensão produzida pelos posteriores. A verdadeira extensão advém unicamente da verdadeira concentração.
O Galope
Se se utilizar demasiada força com a perna de dentro quando se pede ao cavalo para sair a galope será muito difícil ensinar o cavalo a fazer o galope invertido e mais tarde a mudar de mão. É muito melhor utilizar um pouco mais a perna exterior atrás da cilha para iniciar a transição para o galope enquanto se mantém a perna interior sossegadamente à cilha, pronta para agir e atuando como suporte (ou barreira), o que evita que os quartos posteriores descaiam para dentro. Faça com que a perna exterior seja a ajuda positiva. O cavalo em breve apreenderá a reconhecer isto ao longo de todas as fases do galope, incluindo passagens de mão etc.
O Galope Invertido
O galope invertido não é suficientemente utilizado como preparação do cavalo para trabalho mais adiantado. As passagens de mão devem ser ensinadas sem que o cavalo consiga galopar invertido, em círculo, sem esforço. Muitos cavaleiros exigem demasiada encurvatura no galope invertido. Isto não é necessário. O galope invertido é excelente para aperfeiçoar o galope concentrado mas jamais deve ser forçado uma vez que é um exercício muito cansativo. No início contente-se com uma ou duas passadas, pedindo lentamente mais.
A Tendencia para ser Unilateral
Ouve-se muito falar que os cavalos têm um lado mais flexível do que o outro. A maior parte das pessoas esquece-se de que também são esquerdos ou direitos!
Se você for direito é relativamente óbvio que utiliza a mão direita na rédea direita com mais ação do que a esquerda.
Isto leva a que o cavalo fique torto. Se você procurar continuamente obter ligeireza na sua equitação, e se concentrar em obter a flexão do cavalo a partir das suas pernas e assento em vez de com as mãos, o seu cavalo ficará mais obediente, mais direito e mais flexível.
(Equitação Especial)