10 de novembro de 2009

Equilíbrio do Cavalo

Quando admiramos um cavalo em liberdade, correndo, saltando, esbanjando nobreza e elegância, nem sempre imaginamos a relação existente entre os movimentos por ele executados e o equilíbrio necessário para fazê-lo. Decerto cavalos são criados em função do trabalho que produzem, através do movimento. E não será possível realizar trabalho em movimento, se não houver equilíbrio. O mesmo cavalo que podemos imaginar agora, tão elegante em liberdade, poderá ser visto com a mesma desenvoltura montado por um cavaleiro, desde que lhe seja restituído o equilíbrio perdido. E digo perdido porque, no momento que montamos um cavalo, nosso peso nele aplicado promove uma sobrecarga naquele ponto, exigindo consideráveis mudanças de postura do animal. Um cavalo em atitude é aquele que tem restabelecido seu equilíbrio, quando promovidas estas mudanças. Todo corpo tem seu ponto de equilíbrio, variando conforme sua forma e sua massa, e podendo ser alterado de acordo com o movimento. Assim é com uma bola, com um carro, com uma pessoa ou um cavalo. É interessante como fica mais fácil carregarmos um peso que se projeta sobre nosso ponto de equilíbrio que quando o mesmo se encontra fora dele. Uma lavadeira, por exemplo, carrega sobre sua cabeça a trouxa de roupas;, outra pessoa carrega uma lata d’água, e o fazem com plena desenvoltura, sem perder a liberdade de movimentos. Se imaginarmos uma linha vertical que perfure o centro de nossa cabeça e percorra o eixo de nosso corpo, é exatamente nessa linha que se encontra nosso ponto de equilíbrio. Daí a facilidade maior encontrada por uma pessoa, ao carregar o peso por sobre sua cabeça, sobre seu ponto de equilíbrio. E com o cavalo não será diferente, se sobre seu ponto de equilíbrio também for projetado o peso por ele carregado. Se desejamos carregar um corpo em equilíbrio, sem que ele possa pender para qualquer lado, é preciso que saibamos onde se encontra seu ponto de equilíbrio, e sob o mesmo sustentar este corpo. Uma mesa retangular, regular em sua forma e com peso igualmente distribuído por suas partes, terá seu ponto de equilíbrio numa linha vertical que passe exatamente no centro de sua superfície. Comparando então um cavalo à mesa, seriam semelhantes se cortássemos o pescoço e a cabeça do cavalo. Sustentado pelo meio de sua barriga, iria manter-se sem pender para qualquer lado, para frente ou para trás. Mas não podemos deixar este cavalo por muito tempo sem sua cabeça e sem o pescoço, e ao recolocarmos, certamente que penderá para a frente, pelo peso destas partes. Um cavalo terá na verdade seu ponto de equilíbrio passando por uma linha vertical imaginária que atravesse seu corpo bem próximo do final de sua cernelha. E para facilitarmos seus movimentos, devemos, ao montar este cavalo, projetar nosso corpo o mais próximo possível desta linha, e numa postura bem vertical, fazendo coincidir nosso ponto de equilíbrio sobre a mesma linha na qual se encontra o ponto de equilíbrio do cavalo.Por suas formas irregulares, e por ter seu ponto de equilíbrio deslocado para a frente, o cavalo suporta cerca de 60 % de seu peso sobre seus membros anteriores. Comparando os cascos anteriores e posteriores de um cavalo, percebemos nítida diferença em sua forma, mais arredondada nos anteriores exatamente pelo maior peso que suportam. Quando montamos este cavalo, sobrecarregamos com nosso peso o seu trem anterior, rompendo também o seu equilíbrio. Neste momento são necessárias mudanças de postura para que se tenha recobrado o equilíbrio rompido. Quais são, veremos mais tarde. Antes mesmo destas mudanças, sabemos indispensável uma condição básica para um movimento pleno e de qualidade de um cavalo montado: o apoio. O apoio é a pressão exercida pelo cavalo à embocadura, estando as rédeas ajustadas pelo cavaleiro. Dentre outras razões, a sobrecarga no trem anterior exige do cavalo a busca do apoio. O movimento para a frente se dá pelo deslocamento também para a frente do ponto de equilíbrio. Um cavalo que já tem seus anteriores sobrecarregados não poderá se deslocar para frente com confiança e desenvoltura, a menos que encontre um ponto de apoio. Estando apoiado na embocadura o cavalo ganha confiança em projetar seu peso para a frente, partindo ao passo, em marcha, trote ou galope. As mudanças de postura devem se iniciar pela elevação da base do pescoço. Esta região se encontra na ligação do pescoço com o tronco. Inicia-se então uma transformação na disposição da coluna vertebral do cavalo, que passa a se curvar, tornando-se arqueada. A ação do cavaleiro para que o animal assuma esta postura leva também a uma outra mudança, o flexionamento da nuca. Esta alteração será mais eficiente a partir da descontração do maxilar. A curvatura da coluna se acentua, distanciando-se os processos espinhosos uns dos outros, adquirindo assim a coluna a possibilidade de se tornar mais flexível, em favor da comodidade e da continuidade e harmonia dos movimentos. O mesmo arqueamento favorece a descida da garupa, com conseqüente engajamento dos membros posteriores. Desta forma o cavalo se encontra em atitude. A elevação da base do pescoço, acentuando a convexidade da borda dorsal desta região, juntamente com o flexionamento da nuca, tornam o ponto de equilíbrio mais atrasado. A sobrecarga dos anteriores fica assim aliviada. O engajamento dos posteriores aumenta a condição de equilíbrio, como se estes assumissem a responsabilidade de suportar o peso, dividindo-a com os anteriores. Desta forma o cavalo recupera a possibilidade de executar as figuras que executava em liberdade, com total equilíbrio, desenvoltura, elegância e nobreza, e pode fazê-lo agora, sob o peso e o comando do cavaleiro. A mudança mais eficiente terá sido, com certeza, a da postura do pescoço, associada ao flexionamento da nuca. Por sua conformação e posição, o pescoço pode mobilizar sensivelmente o ponto de equilíbrio do cavalo. Quando se estende, se retrai ou move-se lateralmente, o pescoço altera respectivamente paras a frente, para trás ou para o lado o ponto de equilíbrio. Por esta razão é chamado de leme do cavalo. Outra referência importante ligada agora ao movimento, tornando-o mais ou menos equilibrado, refere-se ao diagrama de apoios no andamento. Quando o tempo de apoio sobre os bípedes laterais é muito longo, há necessidade do cavalo deslocar seu ponto de equilíbrio lateralmente, durante o movimento. Permanecendo muito tempo em apoio lateral o cavalo estará vulnerável durante este período, sem nenhum apoio no lado oposto. Além do risco de queda, ocorre com freqüência a desorganização, a quebra do ritmo, pela interrupção repetida do projeto de avanço dos membros – ao invés de avançar, o cavalo precisa usar os membros para apoiar-se, suportando o ponto de equilíbrio deslocado lateralmente. Esta situação esta mais ligada ao movimento natural do cavalo que mesmo por alterações quando do peso do cavaleiro sobre seu tronco. Marcha e passo lateralizados geram estas alterações, sendo portanto desequilibrados. Quando montamos a cavalo, nem sempre percebemos as alterações impostas ao ponto de equilíbrio do animal. Sendo assim, não percebemos também a importância de restabelecer este equilíbrio. E certamente desconhecemos as várias possibilidades de fazê-lo. A equitação com suas técnicas, ainda desacreditada por alguns, nos permite usar o cavalo de forma racional, desenvolvendo suas possibilidades e preservando sua integridade, sua vida útil, além de criar condições seguras para sua utilização.Cavalo, movimento e equilíbrio se misturam: cavalo sem movimento é como pedra; movimento sem equilíbrio, queda; e cavalo sem equilíbrio. . .