23 de julho de 2015

Alimentação do Cavalo Idoso



A perda de condição física, relacionada à perda de apetite e à menor eficiência metabólica, é provavelmente o problema mais comum no manejo de cavalos idosos, especialmente naqueles que se aproximam da faixa dos 20 anos. Para estabelecer um programa nutricional adequado às necessidades destes animais, é necessário compreender as mudanças não apenas fisiológicas, mas também psicológicas, pelas quais estes cavalos estão passando. Leia em "Mais Informações" 


Aproveitando o alimento:

Os melhores nutrientes não trarão benefícios a um cavalo se ele não conseguir digeri-los. Os maiores culpados disto costumam ser os dentes, que no cavalo idoso tem a superfície de trituração bastante desgastada. Também os incisivos, os dentes frontais usados para cortar e arrancar o pasto, ficam menos eficientes à medida que sua superfície de corte se inclina, tornando-se mais horizontal. Se o cavalo não tiver recebido cuidados dentários periódicos ao longo da vida, o problema será composto pela presença de "ganchos" nos molares. A perda ou quebra de dentes, comum em cavalos idosos, pode tornar muito difícil a mastigação, interrompendo a superfície normal da mesa dentária ou fazendo com que o dente correspondente da outra arcada cresça (por não ocorrer o desgaste habitual), preenchendo o espaço vazio. Nos cavalos muito velhos, próximos dos 30 anos, os dentes podem ficar tão desgastados que o cavalo fica impossibilitado de se alimentar da maneira habitual. Estes e outros problemas dentários causam tanto perda de apetite devido a dor de dente quanto baixa eficiência na mastigação: algumas partículas de alimento caem ao chão, e aquelas que são engolidas se tornam de digestão mais difícil por serem maiores do que o normal. Estes problemas podem ser minimizados fazendo com que um especialista examine e trate os dentes dos cavalos idosos duas vezes por ano, fazendo raspagens e outras correções necessárias.


Eficiência digestiva:

Foi demonstrado que a eficiência digestiva do cavalo diminui a partir dos 20 anos, com menor capacidade de processar e extrair os nutrientes do alimento, de modo que muitos ingredientes essenciais da dieta deixam de ser absorvidos, acabando por ser eliminados. A capacidade de digerir fibras torna-se menor, e a menor produção de enzimas, e diminuição da motilidade intestinal, intensificam este efeito. Pesquisas mostram também que a absorção de proteína e de diversos minerais, tais como o fósforo, é menor. Outras pesquisas relacionam a queda de eficiência digestiva à infestação crônica por vermes.

Aqueles cavalos idosos que se beneficiarem de programas corretos de vermifugação com rotação de princípios ativos modernos terão menos danos causados por parasitas no trato intestinal, o que prolonga sua capacidade orgânica de ter uma boa digestão. As fibras devem constituir no mínimo 50% da dieta de qualquer cavalo, o que pode se tornar um problema nos animais idosos, que apresentam, praticamente todos, deficiências na digestão de fibras. O problema é composto: torna-se difícil para o animal velho a mastigação correta de fibras longas de talos duros; além disso, alterações qualitativas e quantitativas na população de microorganismos intestinais diminuem a fermentação de fibras, e por conseguinte a extração de seus nutrientes. Estas alterações da microflora comprometem a síntese de vitaminas que normalmente se processa no intestino, tais como a vitamina C e o complexo B, essenciais para a manutenção do sistema imunológico. As pesquisas sugerem que a suplementação diária de 5 a 10 gr diárias de vitamina C possa ser adequada. Um estudo de 1989 sugere que mais que 70% dos cavalos acima de 20 anos tenham algum sinal de tumores da pituitária ou da tireóide. Isto pode causar intolerância à glicose e maior sensibilidade a insulina, levando a sintomas como polidipsia e poliúria (mais sede, resultando em maior volume de urina).

A função diminuída de rins e fígado do cavalo idoso também influi na utilização de nutrientes. Já que no eqüino a excreção de cálcio se dá na urina – e não nas fezes como na maioria das espécies - problemas de função renal podem resultar na formação de pedras de oxalato de cálcio em rins ou bexiga.

O cálcio também pode subir até níveis perigosos na corrente sangüínea. Nos cavalos idosos com problemas renais, deve-se fornecer uma dieta pobre em cálcio, proteína e fósforo, contrariando o procedimento normalmente adotado nestes animais. Animais com deficiências hepáticas podem sofrer de icterícia, perda de peso, e intolerância a proteína e gordura presentes na dieta; nos casos mais graves, existe também sintomatologia nervosa. Estes cavalos precisam de maior quantidade de açúcares na dieta, para manter os níveis de glicose sangüínea. A suplementação de vitamina C e complexo B também é indicada.

Fatores psicológicos:

Geralmente, os cavalos mais velhos são menos agressivos; se eles forem alimentados em grupo, os animais mais jovens podem impedi-los de comer a sua parte das refeições. Os animais idosos também se ressentem mais das situações de stress, tais como trabalho duro e viagens longas. Tudo isso pode levar a anorexia, que é a perda de apetite. Os extremos climáticos podem ser duros para os cavalos geriátricos, pois dos 20 anos em diante, o mecanismo de termorregulação dos eqüinos vai se tornando menos eficiente. Por isso, no frio os animais idosos precisam ingerir aproximadamente 20% a mais de calorias do que os valores recomendados médios.

Medidas de aquecimento, tal como manter o animal com capa ou colocar à sua disposição um abrigo ou quebra-vento, também irão ajudar. Também o calor intenso leva os animais a perderem seu apetite; neste caso, o cavalo idoso pode se beneficiar da tosquia, e de banhos de mangueira sempre que ele se apresentar muito desconfortável. Muitos dos fatores de stress podem ser reduzidos através de práticas simples de manejo, tais como agrupar juntos os cavalos velhos, ao invés de colocá-los em meio a diversos animais jovens e agitados. Alimentá-los separadamente evitará que tenham que competir pela comida. Todos os esforços devem ser feitos no sentido de manter o apetite do cavalo idoso, pois pode ser muito difícil fazer com que ele volte a ganhar peso uma vez que o tenha perdido.

Recomendações da dieta:

Há três fatores básicos a considerar ao se planejar a dieta do eqüino idoso: facilidade de mastigação, maior digestibilidade dos nutrientes, e maior palatabilidade. A medida que a habilidade do animal de mastigar e digerir fenos duros e fibrosos diminui, fica muito importante fornecer pastagem verde de qualidade. Pode ser necessário trocar o feno maduro, mais taludo, por um feno mais jovem, que pode ser misto (leguminosa e gramínea, ao invés de apenas gramínea), e sendo mais macio, será mais fácil para o animal mastigar. Para a maioria dos cavalos, é melhor evitar o feno puro de alfafa, devido ao seu alto teor protéico (na faixa de 25) e baixo conteúdo de fósforo. Em casos mais extremos, poderá ser necessário recorrer a feno picado ou cortado, ou a feno peletizado, comercialmente disponível. Poderá ser necessário deixar este último de molho por uma ou duas horas antes de servi-lo, pois ele é bastante duro. Isto é tão mais importante quanto pior estiver o estado dos dentes do animal.

Fenos picados ou peletizados aumentam o risco de indigestão se dados secos e forem insuficientemente mastigados. Quanto ao concentrado, para a maioria dos animais geriátricos as rações comerciais, peletizadas e/ou extrusadas, são preferíveis em relação aos grãos in natura, por serem mais facilmente digeríveis.

Ambos os tipos podem ser amolecidos em água morna algum tempo antes do consumo – além de melhorar a digestibilidade, isto também melhora a ingestão de água por parte dos animais, que tende a ser deficiente, especialmente nos meses frios. As necessidade nutricionais dos cavalos idosos são similares as dos potros desmamados, especialmente em termos de proteína, cálcio e fósforo. Por isso, a utilização da rações especiais para potros pode ser uma boa opção. (Em alguns países já existem rações especiais para cavalos idosos, a exemplo das que já temos no Brasil para cães e gatos.)

Em termos de percentagem de matéria seca, deve-se procurar uma ração que contenha de 12 a 14% de proteína bruta, 0,3% de fósforo, e entre 0,3 e 1,0% de cálcio. Fornecimento de maior quantidade de gordura também é uma boa possibilidade para manter o estado físico do animal, especialmente se ele sofrer de disfunção hepática. Os óleos vegetais são muito digestíveis e contém 2 vezes mais calorias por unidade de peso do que os carboidratos. Pode-se acrescentar de 200 a 400 ml diários de óleo na ração, ou fornecer uma ração comercial que já venha com óleo incorporado. Se houver necessidade de suplementação de proteína, um dos melhores modos de faze-lo é através do fornecimento de farelo de soja, pois o mesmo contém proteína de qualidade em alta quantidade, de modo que basta suplementar pequena quantidade de farelo: para a maioria dos cavalos, 250 gr diárias são suficientes.

O excesso pode ser prejudicial, portanto o veterinário ou nutricionista deve ser consultado a este respeito. Com respeito a suplementação, a levedura de cerveja é uma boa escolha, pois ela atende a uma função dupla: tanto melhora a absorção dos alimentos, ao estimular a saúde da microflora intestinal, como é uma excelente fonte do complexo B. Se o animal tiver problemas digestivos, um suplemento probiótico pode ser considerado.

Disfunção hepática: dieta alta em carboidratos e baixa em proteínas, tanto volumoso quanto concentrado. Milho extrusado pode ser boa escolha; evitar feno de alfafa. Polpa de beterraba - onde disponível - é indicada. Suplementar vitaminas C e B.

Disfunção renal: evitar o que tenha alto teor de cálcio e/ou de fósforo - feno de leguminosas, bem como farelo de trigo e polpa de beterraba. Ênfase em feno de gramínea e milho processado (quebraso ou extrusado), ou ração peletizada com menos de 10% de proteína. É natural que o cavalo idoso tenha um apetite seletivo, por isso é necessário fazer experiências até se chegar a um arraçoamento que seja bem aceito pelo animal e com isso mantenha sua condição física. A ingestão de água sempre precisa ser encorajada, seja aquecendo-a, seja utilizando-a para colocar rações ou feno peletizado "de molho". Um apetite reduzido pode ser contornado aumentando o número de refeições e oferecendo menor quantidade de alimento em cada qual. Com apenas alguns cuidados extras com a nutrição, a maioria dos cavalos geriátricos, até mesmo os bastante desdentados, poderão continuar a viver de modo saudável e produtivo por muitos anos.


Por: Karen Briggs nutricionista de eqüinos – Ontário, Canadá