23 de agosto de 2012

Treinando Cavalos


É preciso que fique claro neste artigo,que não existe uma maneira única e definitiva de se domar ou lidar com cavalos, muitos treinadores de sucesso baseiam-se em conceitos universais e adestram seus cavalos com diferentes modos e métodos; é como se fossem para o mesmo destino, porém com caminhos diferentes. Todos os métodos de treinamento, que respeitem a individualidade de cada animal, e não agem com violência, devem ser respeitados. Logo o que declinaremos a seguir, representa uma maneira de treinar e lidar com cavalos, mas não a única ou definitiva, apenas a nossa maneira. Leia em “Mais Informações”...


Como todo indivíduo, o cavalo tem sempre habilidades mais desenvolvidas de um lado do que do outro, ou seja, um hemisfério do cérebro é mais trabalhado, por exigência ou por fatores naturais. Normalmente o lado esquerdo é o mais hábil, devido a vários motivos, dentre eles podemos citar a posição fetal (presença anatômica do ceco do lado direito forçando o útero gravídico para o lado esquerdo), ato de ser cabresteado sempre por este lado pelo cavalariço destro e o ato de montar na maioria das vezes pelo lado esquerdo. Diante do exposto devemos estimular igualmente o animal, até compensando com mais estimulo o lado deficitário, porque desejamos um cavalo hábil e maleável para ambos os lados.

A maioria dos cavalos, de quaisquer raças ou tipos, antes de um treinamento adequado, apresentarão a paleta inclinada para um lado e a garupa tendendo para o mesmo lado, isto pode ficar evidente nos recuos em curva (p/ lado que a garupa tende) ou nos esbarros que ocorrem sempre mais com um posterior que com o outro (finalizando a manobra no sentido diagonal a direção que vinha correndo).
Em fase inicial de treinamento estes animais dificilmente conseguirão fazer um circulo perfeito, fechando sempre para o lado que caem de paleta, isto porque reagem ao comando de rédeas, para fora do circulo, ou mesmo porque não conseguem se arquear, por conseqüência disto não realizaram uma manobra de troca de mãos perfeitamente equilibrados (muito provavelmente estarão com o pescoço torto, cabeça fora de posição e derrapando com a garupa).

O aprimoramento do equilíbrio e do flexionamento de um cavalo tem como finalidade alongar os músculos e possibilitar que este animal trabalhe separadamente a nuca e pescoço, a paleta, a costela e a garupa. Assim quando o animal for capaz de efetuar um círculo perfeito com o corpo arqueado para dentro e posteriormente arqueando para fora, sempre colocando o posterior sobre a pegada do anterior ao passo, trote, canter e galope teremos um cavalo maleável ou como se diz no mundo da equitação um animal flexionado.

 
Com esta flexibilização, o cavalo se tornará mais leve e dócil na rédea e melhor preparado para os exercícios laterais e os giros, esta exigência é condição indispensável para um movimento perfeito. Assim como os bailarinos, a colocação da cabeça antecipada e corretamente posicionada resultará em um movimento correto.

O cavalo deve primeiro olhar na direção em que irá se deslocar, e qualquer reação contrária da cabeça indicativa de dor, tensão ou desconforto, prejudicará a postura do animal resultando num avanço defeituoso. Ao se curvar um cavalo para qualquer lado, a intensidade e o tamanho do círculo regularão o quão flexionado lateralmente estará a coluna deste animal.


O tempo gasto para se chegar a uma flexão perfeita dependerá fundamentalmente não só da habilidade, como também da conformação portanto para a flexão do pescoço há desvantagem para o animal cujo pescoço é curto e grosso.

Conduzir e montar bem um cavalo, exige tanto conhecimento que se adquire com estudo como o que se obtém na prática por isso muitas das vezes conhecimentos práticos podem gerar bons resultados no processo de treinamento, porém estes sem um bom conhecimento teórico podem induzir animais a apresentarem boa performance apenas com um equitador, o que não é desejável; desejamos sim um cavalo que possa exprimir o máximo de seu potencial com diferentes equitadores.

O comportamento de liderança do adestrador frente ao cavalo deve ser demonstrado desde os primeiros contatos com o mesmo. Um comando deve ser seguido e mantido incondicionalmente até que ordenado a mudar. Por exemplo, quando um cavalo é indicado a galopar em linha reta, este deve permanecer nesta direção até que o cavaleiro a troque, porque embora o animal tenha iniciativa própria jamais devemos esperar que ele “decida sozinho” o que fazer. 

Durante toda sua vida útil os cavalos devem ser condicionados a respeitarem e obedecerem sempre os comandos de seu cavaleiro, independentemente do que eles próprios possam intuir ou desejar, porém é preciso que se permita o erro do cavalo durante um treinamento, porque após o erro, vem a correção por parte do equitador e isto fixa o aprendizado no cavalo.

Se antecipar ao erro do cavalo prejudicará sua percepção do certo e errado e estenderá o tempo de aprendizado. Para montarmos corretamente a cavalo devemos falar a mesma linguagem que o animal, sermos capazes de nos comunicar com ele de um modo compreensível. Ainda que a linguagem da equitação tenha sido desenvolvida de modo a facilitar o aprendizado da mesma por parte do cavalo, nenhum animal nasce sabendo associar os comandos com as atitudes ou movimentos correspondentes.

Às vezes é mais fácil para o cavalo compreender o que não pode do que pode ser feito, ou seja, para mostrar a porta aberta é preciso mostrar quais estão fechadas primeiro. Por exemplo, se quisermos que um cavalo vá para esquerda e ele reage não indo, devemos impedi-lo calmamente de não ir para a direita, nem para frente, nem para trás, sinalizando para ele que única opção é a esquerda.

Na condução do cavalo, além das rédeas, devemos usar as ajudas para uma melhor integração do Homem com o animal. Denominamos de ajudas no idioma eqüestre, o movimento a ser empregado pelo cavaleiro que será correspondido com a execução das atitudes e movimentos desejados por parte do cavalo.

As ajudas podem ser usadas isoladas ou em combinações infinitas entre elas, usando as mãos, as pernas e a voz obtendo-se inúmeras respostas dos cavalos. As ajudas podem ser classificadas classicamente em:

a) altas:  movimentos corporais feitos da cintura para cima do cavaleiro;
b) baixas: movimentos efetuados abaixo da cintura do cavaleiro principalmente as ajudas de perna);
c) naturais : obtidas através das áreas de contato físico entre cavalo e cavaleiro, são utilizadas par isso as pernas, o assento e mãos (através das rédeas);
d) artificiais: toda a extensão das ajudas naturais, sendo elas o chicote, a espora e a recompensa;
e) paralelas : quando aplicadas simultaneamente nas mesmas áreas dos dois lados do corpo do cavalo, ela é usada quando o cavaleiro atua de modo idêntico em ambos os lados da montaria.
f) diagonais : quando aplicadas em ambos os lados, porém em diferentes regiões do corpo, em ações harmônicas e coordenadas. Podendo ser utilizada nos flexionamentos laterais, no galope e na maioria dos movimentos que compõe a dinâmica do cavalo.

O contato do cavaleiro com o cavalo atua também pelos diferentes graus de pressão que podem exercer e da extensão da área a ser pressionada. É através das ajudas, sobretudo da forma e intensidade da sua aplicação, que resultam a recompensa e o castigo.

A consistência no emprego das ajudas é de grande importância. Na verdade, não existem ajudas isoladas, mas um sistema coordenado que envolve a utilização correta de todo o corpo do cavaleiro. Grande parte da arte da equitação reside na coordenação correta das ajudas e na capacidade de sentir a quantidade necessária destas ajudas. A meta é obter o máximo de resultados com um mínimo de emprego de ajudas.

O contato correto da perna aumenta a confiança do cavalo; através do mesmo o cavalo percebe onde está o cavaleiro e o que ele esta fazendo e desejando que seja feito e as mãos não apenas exercem pressão para trás, mas também liberam pressão para frente o que pode gerar maior ou menor flexionamento da nuca. O ideal é que o cavalo esteja atrás da embocadura e a frente dos estribos do cavaleiro.

A leveza e sutileza do contato das rédeas deve ser sempre lembrado, uma vez que a boca é a área mais sensível do cavalo, e justamente nela é onde temos o maior distanciamento do cavalo com o cavaleiro. Devemos tentar imaginar que nossos dedos estão em contato direto com as argolas da embocadura, porque na verdade as rédeas deveriam ser mais um instrumento de liberação do que de contenção.

O cavalo responde corretamente a cessão da rédea indo para onde a mão do
cavaleiro determina, não devendo jamais tracionar excessivamente as mãos do cavaleiro, usando as mesmas como uma quinta perna, isto trás grande cansaço e desgaste para ambos, bem da verdade que mais para o cavaleiro que para o cavalo.

As ajudas devem ser sempre claras e consistentes e nunca nebulosas para o cavalo, se o cavalo se opões ao comando aumentamos um pouco a intensidade e nos mantemos firmes e decididos, se o animal responde positivamente realizando o que queremos, devemos no contentar com uma coisa boa, e não insistir e repetir várias vezes com o animal, isto pode regredir o aprendizado.

O trabalho e o exercício devem ser punitivos e para aquele cavalo que não realizou uma boa tarefa solicitada pelo cavaleiro, e o descanso uma recompensa. Após cada boa manobra um parada de um a dois minutos é prudente para o cavalo reconhecer que fez boa coisa e para que ele respirar e se oxigenar, fixando o aprendizado.

Quanto mais avançado for o treinamento o cavaleiro deverá aplicar as ajudas de modo cada vez menos visível, até que, finalmente, o cavaleiro pareça controlar o cavalo meramente com o seu pensamento. No instinto natural do cavalo, ele reage contra toda e qualquer força que impomos a ele. Podemos exemplificar isto claramente; quando ao pegarmos pela primeira vez um potro ao cabresto e puxamos este pela ponta da guia, ele prontamente reage no sentido contrário, ao empurrarmos um cavalo num lavador ou mesmo para embaraçar em um transporte ele também e reage no sentido contrário.

A doma deve ensinar ao cavalo a reagir no mesmo sentido da força e não se opor a ela. Portanto podemos resumir tudo já dito acima conceituando que:  

UM CAVALO BEM DOMADO É AQUELE QUE EXECUTA SUA FORÇA FAVORAVELMENTE A FORÇA REALIZADA PELO CONDUTOR E NÃO CONTRA ELA.

Prof. Sergio Aguiar de Barros Vianna
Laboratório de Zootecnia e Nutrição Animal
Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias
Universidade Estadual do Norte Fluminense