18 de agosto de 2010

A Mobilidade da Maxila no Ensino do Lusitano

A ligeireza e flexibilidade articular do Lusitano são principais características da raça e a base da sua funcionalidade.O cavalo Ibérico, de existência milenar, foi sempre selecionado pela sua flexibilidade, poder rápido de resposta às ajudas (finura), percepção de fatos não normais e mais tarde pela sua beleza morfológica. Para melhor compreender tudo isto, vou contar uma história que faz história no mundo do nosso “cavalo”! Leia em " Mais Informações " ...
... Era uma vez, há muitos milhares de anos, na Península, existia uma fauna enorme de predadores como; ursos, leões, lobos, o touro bravo e o cavalo; este, a presa preferida desses carnívoros...
Esta maravilhosa Península, pelas suas características climáticas, possuía pastagens riquíssimas, propicias ao desenvolvimento da raça cavalar e do touro.
Mais especificamente, nas terras banhadas pelos rios Guadalquivir e Tejo, locais por excelência, onde o touro e o cavalo coabitavam.
O cavalo servia-se da companhia do touro que o protegia dos ataques dos predadores existentes...
Aqui começa uma relação interessante cavalo/touro.
O touro aceitava essa companhia mas, desde que o seu restrito território não fosse invadido; nesse caso, o touro atacava para matar como manda o seu instinto....
Os cavalos que tinham uma maior percepção dessas investidas e que tinham a agilidade, flexibilidade e rapidez, escapavam a esses ataques. Os outros, eram aniquilados.
...Aqui começa a primeira selecção do nosso cavalo, através da Lei da natureza...
O tempo avança e quando a Península começa a ser povoada o Homem vê neste animal de reacções excepcionais o seu companheiro de caça e com os tempos selecciona-o através das qualidades mais apuradas sempre no mesmo tema: rapidez, flexibilidade, coragem, percepção de perigo, rapidez de resposta aos estímulos do homem e; Eis o Lusitano!
Os anos passam e com o aumento da densidade habitacional na Península começam a existir querelas e guerras entre os homens. Uma vez mais, o cavalo é utilizado pelo homem como auxiliar desses combates, enfim; torna-se uma arma de guerra que iria perdurar por alguns séculos!
A sua selecção é apurada uma vez mais, as premissas sempre as mesmas e mais tarde acresce a da sua beleza morfológica.
Com o passar dos tempos e com a modernização dos exércitos e a introdução das armas de fogo, este nobre animal deixou de ser uma peça importante como arma de guerra. No entanto, na Península Ibérica, continuou a ser utilizado no combate com o touro na “arte do toureio a cavalo” e uma vez mais a sua selecção continua, permanecendo inalteráveis os seus requisitos anteriores e, esta História traz-nos aos nossos dias um cavalo pleno de qualidades que são o apanágio de várias artes desenvolvidas pelo homem; a pintura, a estatuária, a música e a dança, a poesia; melhor explico: a beleza estética e o seu ego expressivo é algo que os pintores e escultores, desde todos os tempos tentam copiar; reproduzir!!!
O seu movimento flexível e arredondado são semelhantes a alguns passos de dança como se de um ballet se tratasse!
A sua elevação, cadência e ritmo de movimentos, são comparáveis aos acordos musicais de um Chopin, Mozart ou Strauss... são eles os seus principais interpretes !
Donde; o nosso Lusitano é uma “peça” única de arte viva, reunindo todas as coincidências de tantas outras que elevam o pensamento humano a momentos de beleza e transcendência bem longe das terríveis cenas de guerra e momentos conturbados deste mundo em que vivemos!
Mas toda esta história; o que tem a ver com “mobilidade da maxila”???
Ora vejamos, se chegamos à conclusão que as qualidades do Lusitano se baseavam através das suas selecções feitas ao longo dos anos na; flexibilidade, ligeireza, finura, personalidade, etc... temos nós, cavaleiros educadores deste fantástico animal o dever de conservá-las, aperfeiçoá-las e melhorá-las através dos exercícios do trabalho a aplicar.
A equitação é conseguir colocar o corpo do cavalo em posição para poder executar os exercícios que pretendemos que ele faça, seja do mais simples ao mais elaborado.
O dorso do cavalo, mais precisamente a coluna vertebral é o ponto de ligação da nuca que liga com o maxilar inferior, passa pelas espáduas onde liga com os anteriores um dos pontos de apoio do corpo do cavalo; segue-se a zona dorsal onde o cavaleiro se vai sentar, passa pela bacia onde os posteriores ligam o segundo ponto de apoio do cavalo e termina na garupa.
Ora, se a coluna vertebral do cavalo não está descontraída e flexível; automaticamente, as suas conexões estão em contracção de onde a sua flexibilidade é perdida e sua mobilidade afectada e as suas qualidades anuladas!
Existem bilateralmente no pescoço do cavalo os músculos adutores que são como um travão que protege o dorso do cavalo de uma acção mais forte sobre a boca do mesmo.
Está também provado que se a maxila estiver ligeira é sinal de que os adutores não estão em contracção, portanto; relaxamento total do resto do corpo do cavalo.
Atenção; este movimento de maxila deve ser calmo e ritmado; nunca acelerado o que seria um sinal de nervosismo e contracção
De toda esta história... muito mais se poderia contar, mas a finalidade deste “capítulo” é; provar que um cavalo equilibrado, ligeiro, flexível, ritmado terá como ponteiro informativo a sua maxila ligeira e descontraída, sinal de relaxamento total do seu corpo.
Parafraseando alguns “ingénuos” que sem saber o que dizem ... até têm razão; é uma equitação de pastilha elástica! Afinal, não é esta que nos descontrai a mente e o corpo quando viajamos de avião?
O “Mestre dos Mestres” ensinou-me ....
-: A descontracção da boca do cavalo é uma repercussão da descontracção total do seu corpo!
-: Na equitação há duas importantes premissas; a “técnica” e a “alma”...
-: Não desprezem a “técnica” mas montem com o vosso “coração”....



Luis Valença