
Antes de nos aprofundarmos numa filosofia avançada da equitação, vamos analisar a neurologia do cavalo que permite a equitação em si, segundo uma pesquisa realizada por Dr. James Rooney, professor de Patologia Veterinária da Universidade da Pensilvania. O estudo, intitulado The Chain of Riding Reflexes -- A cadeia de reflexos da equitação --realizado nos anos 70, revela que o cavalo reage aos comandos do cavaleiro através de reflexos condicionados organizados durante o processo de treinamento do animal. Esta extraordinária informação pode estabelecer bases sólidas para se realizar uma fusão mais completa do sistema neurofisiológico do cavalo e do cavaleiro. As técnicas para esta fusão foram desenvolvidas instintivamente pelos inventores da equitação, os nômades da Ásia Central, e por alguns grandes cavaleiros. Um deles foi Caprilli, que acabou sendo conhecido apenas como o criador do ‘assento adiantado’ usado atualmente por todos os cavaleiros nos saltos de obstáculos. Esta fusão pode ser descrita assim: o cavalo e o cavaleiro evoluem na ação eqüestre como um único ser. O cavaleiro em perfeita sintonia com o ritmo e os movimentos do cavalo, os dois unidos por uma ação de gestos, sentidos e objetivos casados. O cavalo é a extensão do cavaleiro e este, o prolongamento do cavalo. Entre os dois seres neurofisiologicamente conectados, um fluxo de informações retroalimenta continuamente a ação do conjunto. Visualmente tem-se a impressão de que o cavalo comanda a ação, tal a sutileza dos comandos do cavaleiro e a harmonia de performance do conjunto. A partir desta imagem, fica claro que existe muito mais por trás de uma equitação de alta performance, do que o uso de mãos, pernas, esporas e chicotes - as tradicionais ‘ajudas’ que, usadas indiscriminadamente, atrapalham mais do que ajudam, provocando uma ação eqüestre feia e de pouco rendimento esportivo. “Para se obter um alto nível de desempenho esportivo”, diz Dr. James Rooney, “é importante se conhecer o funcionamento da coordenação motora do cavalo, para dela tirar melhor proveito”. E, a partir daí, aprender a desencadear uma seqüência de comandos que, por sua vez, vai catalisar no cavalo a cadeia de respostas condicionados da equitação , um processo neurofisiológico muito mais próximo da cibernética do que das leis da mecânica convencional. Acredito que o estudo da cadeia de reflexos da equitação do Dr. James Rooney está para a equitação, assim como o heliocentrismo de Copérnico está para a astronomia. Como um Copérnico moderno, Dr. James Rooney nos possibilitou uma visão científica de um mundo até então desconhecido - o do desempenho eqüestre - um universo tradicionalmente povoado por mitos, equívocos, conclusões conflitantes, burrice e até charlatanismo.