O Trabalho no Circulo
- A rédea de dentro, abrindo na direcção do joelho, mantém o cavalo sobre o círculo e dá-lhe a encurvação. - A rédea de fora determina o tamanho do círculo e o grau de encurvação; actuando sobre o posterior de fora se necessário, ela vai ajudar a perna exterior do cavaleiro que actuando atrás da cilha impede que a garupa se escape para fora e ajuda a flectir o cavalo para o lado de dentro. - A Perna de dentro, actuando junto à cilha, por vezes mesmo à sua frente, além da acção impulsiva impondo o movimento para diante, determina a flexão do posterior de dentro, actuando de modo a que o cavalo se habitue a dobrar-se à sua volta e evitando que ele "caia" para dentro do círculo. - O corpo do cavalo em toda a sua extensão, como que se enrola à volta da perna de dentro do cavaleiro. - Ela desempenha neste trabalho um papel importantíssimo, muito mais importante que o papel da rédea de dentro, frequentemente utilizada por muitos cavaleiros para manter o cavalo no círculo, chegando a transformá-lo (rédea de abertura) em rédea contrária de oposição, "puxando para trás", encapotando os cavalos, não os deixando andar para diante. Daqui resultando por um lado um pescoço contraído, a nuca baixa, o desequilíbrio, a limitação ao movimento amplo das espáduas, a contracção, a precipitação; por outro lado uma oposição permanente à impulsão, obrigando as pernas a actuar exageradamente, contraindo, precipitando os andamentos. - O cavalo, habituado a enrolar-se em volta da perna de dentro do cavaleiro, o posterior de dentro flectido, a impulsão permanentemente garantida, acaba por ceder do lado interior, encostando-se à rédea e perna de fora que então poderão regular toda a sua massa. - Ele pode agora manter-se no círculo, encurvando-se em toda a sua extensão, impulsionado, o pescoço estendido, a nuca sendo o ponto mais alto, em equilíbrio, descontraído e cadenciado.
Museler, Reitlehre
"Todos os cavalos se descontraem mais depressa quando os encurvamos em vez de os mantermos direitos. O cavaleiro dá ao seu cavalo um "pli" para o interior actuando docemente com a rédea de dentro. Neste nível de ensino (trata-se de cavalos novos), não se deve resistir com a mão exterior, mas ceder para incitar o cavalo a ceder ele também, quer dizer, dar tensão às duas rédeas, procurando o contacto com a mão. O mais importante no decurso deste trabalho é não haver perda de impulsão. Num trote regular mas enérgico, controla-se a rigidez ou contracção do maxilar, das ganachas, do pescoço, do dorso e dos membros do cavalo. Ele descontrai-se cada vez mais até que esteja equilibrado e enquadrado pelas pernas, as mãos e o peso do cavaleiro."
"O cavalo novo não tem ainda força para se manter sobre uma curva regular suportando mais peso com o lateral interno. Em consequência disso descai para o meio do círculo. Empregam-se primeiramente simples ajudas interiores até ter voltado à curva inicial. Em seguida a mão exterior resiste para impedir o cavalo de seguir sobre uma tangente. Quando o cavalo é capaz de suportar o seu peso sobre o círculo, faz-se executar uma sequência de espáduas a dentro, garupa a dentro muito, muito suaves, quase imperceptíveis. Assim atingir-se-á muito depressa o momento em que se pode conduzir o cavalo com a rédea exterior. Ele encosta-se do lado exterior, cedendo completamente do lado interior".
"O cavalo tentará defender-se deixando de entrar com o posterior de dentro que deveria suportar mais peso. Portanto o cavaleiro deve zelar para que este se desloque para junto do exterior, avançando bem. É o princípio fundamental de todo o Ensino. Observando-o, respeitando-
o, chega-se a eliminar tudo o que pode impedir o aperfeiçoamento dos andamentos e a sujeição completa do cavalo. As resistências à entrada do pé interior serão vencidos sobre linhas curvas, empurrando o cavalo bem para diante".
Burkner, Ein Reiterleben
"O sistema de N. conclui que é preciso acabar por conseguir conduzir o cavalo para as duas mãos com a rédea exterior. Para isso ele fazia trabalhar os Cavalos sobre um círculo. Metia-os a galope fazendo-os ceder à rédea interior, procurando o contacto da rédea exterior por uma viva acção da perna interior. Em seguida mudava de mão. Naturalmente trabalhava mais tempo o lado mais difícil. Para verificar o sucesso do trabalho executava uma diagonal a trote médio, que devia ser enérgico e bem cadenciado, o cavalo mantendo um contacto igual com as duas rédeas do cavaleiro".
Em seguida, confirmada esta fase, pode o cavaleiro iniciar o seu cavalo a sair do círculo junto à parede: - A perna de dentro bem à frente "aumentando a sua acção" leva o cavalo junto à teia, garantindo a impulsão e facilitando a encurvação; - A rédea interior, (rédea de abertura) abrindo para o joelho traz as espáduas para dentro e impõe e mantém a encurvação; - A rédea de fora "recebe" e conduz, garantindo e controlando o desvio das espáduas para dentro, regula a encurvação do pescoço e se necessário ajuda a acção da perna de fora evitando que a garupa se escape e facilitando a encurvação. - Dar poucos passos e voltar ao círculo; - Repetir o exercício, exigindo no princípio poucos passos e pouca inclinação em relação à parede. - Esta acção da perna de dentro sobre a rédea de fora garante uma execução harmoniosa, cavalo permanentemente impulsionado, bem encurvado, posterior de dentro bem metido, rim flexível, pescoço estendido, a nuca no ponto mais alto, andamentos elásticos e cadenciados, em equilíbrio e descontracção. - O cavalo está inteiramente diante do cavaleiro que o empurra para a frente com o seu peso e com as pernas; ele tem impressão de estar sentado justamente em cima dos posteriores e de seguir um caminho subindo.
A perna de dentro sobre a rédea de fora, funciona ainda como uma espécie de "pronto-socorro" tanto na execução como na preparação e correcção de muitos exercícios: - Nos treinos, recorrendo à espádua adentro, tanto na fase de preparação como na fase de correcção desses exercícios. - Nas provas, estando o cavalo bem confirmado neste trabalho, basta "metê-lo" no mesmo quadro de ajudas o que passa despercebido aos olhos do júri e é suficiente para garantir uma boa execução.
Alguns exemplos:
- Como preparação para o ladear (encurvando e metendo a perna de dentro) - Na preparação e execução das voltas (encurvação e equilíbrio) - Na passagem dos cantos (encurvação e equilíbrio) - Como correcção quando o cavalo se atravessa nas linhas direitas (galope para a direita, garupa a querer atravessar-se para a direita, lado do galope, quadro de ajudas de espádua direita adentro) - Nos encurtamentos e nas transições (para evitar que o cavalo saia da mão e levante a cabeça) - Como preparação para os alargamentos de trote (entrada do posterior de dentro - equilíbrio) - Na preparação para as saídas A galope (atitude e equilíbrio) - Como correcção quando um cavalo se atravessa nas passagens de mão (recebê-lo em espádua adentro) - No galope invertido (o equilíbrio, a atitude)
Martins Abrantes, Capitão, GNR, Portugal, 1981