10 de novembro de 2009

Equoterapia e a Integração Multisensorial do Equilíbrio e da Postura

Sistemas Sensoriais de Equilíbrio: Pode a melhora do equilíbrio na equoterapia ser explicada por mudanças na neurofisiologia?Quando falamos sobre os efeitos da equoterapia, sempre mencionamos a melhora no equilíbrio. Mas o que exatamente é o equilíbrio e como a equoterapia o melhora? Equilíbrio é definido como manter o centro de massa sobre a base de suporte. É atingido através de um processo complexo envolvendo a recepção e integração de estímulos sensoriais, planejamento motor, atenção e execução muscular. Qualquer dano em qualquer uma destas áreas afeta o equilíbrio. A pesquisa sugere que a habilidade de relacionar estímulos sensoriais a uma reação motora forma a base do desenvolvimento do controle da postura. A resposta sensorial é uma parte integrante do conjunto do sistema motor e é crítica na modificação de programas motores gerados pela CPG em adaptações em linha (online) para o meioambiente. Geradores de Padrão Central (GPCs) são redes funcionais da espinha, nas quais o caminhar, o controle de postura, e outros comportamentos rítmicos, como a alimentação e respiração, estão baseados. O dar-passos infantil é uma evidência da existência dos GPCs e demonstra que GPCs são controladores ativos dos movimentos humanos. Os movimentos rítmicos do cavalo ativam os GPCs e isso pode ser uma explicação para os efeitos positivos da equoterapia, especialmente melhoras no caminhar. Em minha apresentação irei focar os sistemas sensoriais envolvidos no controle do equilíbrio.A habilidade de manter equilíbrio depende da informação sensorial que o cérebro recebe de quatro diferentes sistemas; sistemas de propriocepção, tátil, vestibular e visual. Cada um desses sistemas sensoriais envia informações sob a forma de impulsos nervosos dos receptors sensoriais para o cérebro, e eles provêm informações tanto únicas quanto redundantes para Receptores mecânicos do sistema tátil estão na pele e dão informações sobre toque e pressão. Proprioreceptores localizados nas juntas, ligamentos, músculos e na pele fornecem informações sobre comprimento, estiramento, tensão e contração muscular e posição das articulações. A visão central permite a orientação ambiental, contribui para a percepção da verticalidade e do movimento de objetos. A visão periférica detecta o movimento do “eu” em relação ao ambiente. O sistema vestibular fornece informação sobre o movimento da cabeça e sua posição em relação à gravidade e outras forças de inércia. No entanto, ambigüidades existem em cada sentido. O sistema somatossensorial por si só não distingue entre uma mudança de inclinação de superfície e mudanças de inclinação do corpo. O sistema visual sozinho não consegue discriminar movimento no ambiente do movimento próprio. O sistema vestibular sozinho não consegue determinar se o movimento da cabeça sinalizado pelos canais semicirculares é causado por uma flexão do pescoço ou dos quadris, ou se o movimento da cabeça sinalizado pelos otolitos se deve a uma inclinação da cabeça, ou à acelaração ou desaceleração linear. A integração multissensorial permite a resolução dessas ambigüidades usando-se informações recebidas simultaneamente através dos outros sentidos, que podem ou não ser consistentes com a informação adquirida de uma única modalidade. Por vezes, as atividades integradoras são mais complicadas do que em outras ocasiões. Por exemplo, há ocasiões em que o estímulo sensorial que nós recebemos de uma das fontes está em conflito com o estímulo de outra. Por exemplo, quando nos sentamos em um trem e o trem próximo a nós se move. No começo nosso sistema visual diz que o nosso trem está se movendo, mas quando o sistema vestibular reage ele dá mais informações, e nós percebemos que o trem próximo a nós é que está se movendo. Enquanto a integração dos estímulos sensoriais ocorre, o cérebro envia impulsos aos músculos. Esses músculos fazem cabeça e pescoço, olhos, pernas e o resto do corpo se mover e permite que se mantenha o equilíbrio e se tenha uma visão clara enquanto se move. Processos sensoriais e sua contribuição são importantes na construção das representações funcionais do corpo, chamados esquemas corporais. Eles são necessários para o controle do movimento, para a construção da auto-imagem e para sentir a propriedade sobre o próprio corpo, também chamado de consciência corporal. Sabe-se que os transtornos de processamento da informação sensorial perturbam o desenvolvimento de esquemas corporais funcionais, os quais também são importantes para o controle do equilíbrio. Equilíbrio fraco é freqüentemente associado com distúrbios neurológicos, e há com frequência deteriorações nos sistemas sensoriais por trás dos problemas de equilíbrio. Especialmente nestes casos a equoterapia pode ser de ajuda. Eu apresentarei um único estudo de caso dos efeitos da equoterapia sobre um homem de 28 anos, que sofre de EM (esclerose múltipla). Ele tem grandes problemas com seu controle de equilíbrio e precisa, portanto, usar a cadeira de rodas. As causas do fraco equilíbro deste paciente são ataxia, problemas visuais e déficits somatossensoriais. Para a avaliação dos efeitos da equoterapia, utilizamos a técnica de plataforma de força. O equilíbrio do paciente foi medido antes e depois de três sessões de equoterapia. Os resultados mostraram uma oscilação menor do corpo após cada uma dessas sessões, quando comparada à oscilação anterior à equoterapia. Melhoras no equilíbrio também foram observadas no caminhar do paciente. Como uma pessoa com problemas sensoriais pode ser capaz de controlar seu equilíbrio? Uma explicação é a integração multissensorial. Nenhum sistema único pode dar informações suficientes para manter-se o equilíbrio, mas a integração multissensorial é capaz de fazê-lo. Por sorte, o sistema nervoso central também tem propriedades plásticas. Em uma pessoa cega, por exemplo, a apresentação do sistema somatossensorial no cérebro se torna maior, o que fará o sistema mais sensível. Portanto, ele tem um papel mais importante no controle do equilíbrio do que em outras pessoas que confiam fortemente em seu sistema visual. Montado no cavalo, o cavaleiro recebe um montante enorme de estímulos sensoriais, e todos os sistemas sensoriais envolvidos no equilíbrio são ativados, permitindo que a integração multissensorial ocorra. O treinamento do equilíbrio sobre o cavalo não é só eficiente, é também motivador e divertido. O cavalo tem um papel por dar amizade e contato, o que dá força aos movimentos do cavalo.

Satu Selvinen, Finland
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