14 de maio de 2012

O Afago como Ajuda

O afago é um meio de adestramento de importância capital. Todos os cavalos são-lhe, naturalmente, mais ou menos sensíveis e sua sensibilidade pode ser aumentada consideravelmente quando o cavaleiro toma o cuidado de, durante muito tempo, no início do adestramento, acompanhar o afago de recompensas imediatas ainda mais vivas, tais como gulodices, apear, volta à cocheira, etc... Esta primeira “associação de sensações” reforça muito o poder do afago como ceio de adestramento. É preciso não negligenciá-lo. Leia em "Mais Informações "...


A aplicação do afago à educação do cavalo deve, porém, ser regulada judiciosamente, e o cavaleiro dela só deve esperar o que ela pode dar. O cavalo não tem consciência de seus atos com o mesmo rigor que o homem. Deles só se dá conta mais ou menos confusamente e, numa sucessão de atos, só distingue um deles  após muitos tateamentos e hesitações.
 
Assim, para ensinar o que quer que seja ao cavalo, o cavaleiro nunca dispõe senão de um meio: colocar seu aluno num conjunto de condições tal que a reação de seu instinto consista precisamente no que o cavaleiro quer obter. 

Ora, qualquer que seja a habilidade do adestrador, é quase impossível que o conjunto de condições que ele tenha realizado determine uma única reação. O cavalo, quase sempre, tenta várias, mais ou menos diferentes, e o adestrador “espreita” o aparecimento da que deseja para “recompensá-la” o mais rapidamente possível, pelo afago, particularmente. 

O cavalo, por sua vez, leva tempo, ás vezes muito tempo, antes de discernir exatamente qual é, no conjunto de reações que tentou, a que lhe dispensa satisfações. É somente pela repetição dos “pedidos” do cavaleiro, no curso dos quais os tateamentos do cavalo se reduzem pouco a pouco, que chega a fixar-se na compreensão deste último a associação: tal ato = afago É, ainda, preciso observar que esta associação “funciona”, se assim se pode dizer, igualmente em sentido inverso. 

Um cavalo que, por exemplo, tiver levado muito tempo, em virtude das dificuldades, que o momento apresentava para ele, formar a associação: recuar - afago, terá, em seguida, a tendência a recuarquando for acariciado, qualquer que seja o novo ato que o cavaleiro queira associar ao afago.
 
Resulta daí, muitas vezes, surpresas e mesmo desenganos no decorrer do adestramento. Por exemplo, no início do estudo do piaffer, a aparição da primeiras batidas deve ser imediatamente recompensada. Mas, se o cavalo se apresenta muito frio às pernas e esta “frieza” tivesse acarretado freqüentes lições de espera, a última das quais as “partidas bruscas” tivessem sido largamente recompensadas - como convinha - por meio de afagos, a execução destes à aparição das primeiras batidas pode, muito bem, provocar uma partida brutal, desastrosa para a regularidade do piaffer e a ulterior transição do piaffer à passage.
 
Nesta hipótese, o mal não é, em verdade, muito grande, porque é para a frente que a desordem se produziu, mas tornar-se-ia muito mais grave se o cavalo, em vez de ser frio e apático fosse naturalmente agitado e nervoso, tivesse apresentado dificuldades para conservar a imobilidade em estação no começo do adestramento e tivesse sido largamente afagado quando o tivesse alcançado. Então, afagado às primeiras batidas do piaffer, o cavalo apressa-se em mobilizar-se, o que é uma das maiores dificuldades que se encontra no estudo deste ar.
 
Vê-se, por estes exemplos, quanto o emprego do afago exige circunspeção no adestramento. O cavaleiro, muitas vezes, tem tendência a pensar que ele faz, simplesmente, o cavalo conhecer a satisfação de seu mestre. Para o cavalo, o afago nada mais é do que um acompanhamento agradável de certos atos comandados e que permanece mais ou menos ligados àqueles em seu entendimento.
 
É preciso, pois, antes de utilizar o afago num novo estudo, certificar-se que não existe no cavalo uma ligação entre essa ação e um ato desfavorável ao sucesso deste estudo. Se tal ligação existir, é previamente necessário enfraquecê-la provocando, por meio de exercícios repetidos, uma ligação com o ato inverso, e só abordar o novo estudo quando o afago tiver perdido qualquer influência que pudesse ser prejudicial ao sucesso do novo estudo.
 
É, aliás, preciso, tanto no emprego do cavalo como em seu adestramento, evitar emprestar-lhe, como se faz muito comumente, sentidos e raciocínios humanos, e recorrer ao pouco que conhecemos com certeza de sua constituição mental.