A palavra “ajuda” deriva do verbo ajudar, prestar auxílio.Em francês a palavra é “Les aids”, em alemão “de hilfen”, em holandês “de hupen”. Xenophonte usoua palavra com um sentido mais amplo que significava, “indicar”. Como é preciso enfatizar o fato de que a idéia de ajudar um cavalo, permeia toda a literatura sobre equitação, farei uma breve análise da história eqüestre.Quando o homem completou a transição de comer o cavalo para usá-lo em benefício próprio, era de se esperar que no começo houvesse um sentimento de medo de ambos os lados. O homem temia o cavalo, porque ele era grande e imprevisível, o cavalo temia o homem, porque ele o machucava e tentava constrangê-lo. Quando o homem tentou utilizar o cavalo pela primeira vez, alguém mais paciente descobriu que o cavalo não é um animal agressivo, mas que pode se tornar quando constrangido e tratado de uma maneira cruel. Talvez esta descoberta inicial, tenha dado origem a psicologia no trato com o animal. No tempo de Xenophonte (380), muito progresso foi obtido na relação entre o homem e o cavalo,modificando do antagonismo para a cooperação, Xenophonte escreveu que: “Ninguém deve jamais perdera sua serenidade e maltratar o cavalo; este é o primeiro e melhor preceito e costume ao se lidar com cavalo.... Aqueles que compelem o seu cavalo com pancadas, fazem do mesmo mais assustado do que nunca”.Freqüentes lapsos foram cometidos, e ainda o são em nossos dias. FREDERICO GRISONE no seu GLIORDINE DI CAVALGARE (1550), não esquecia de recompensar e podia ser muito gentil com o cavalo. Entretanto, por causa de sua crença de que existem cavalos pervertidos, ele também podia tornar-se muito cruel: ele advogava a causa de bater nas orelhas do cavalo, bem como, deixar um gato amarrado pelas costas a uma vara, rastejar por entre a barriga e os posteriores do cavalo. Quando um cavalo negava-se a mover-se para frente, GRISONE segurava uma tocha de palha em chamas da cola do mesmo. Em nossos dias ainda existem aqueles que consideram o cavalo como um oponente. Estes sustentam que se o cavalo não oferece uma luta, o cavaleiro deve provocar uma, para que o cavalo saiba quem manda. No entanto o que eles não se dão conta, é que se o cavalo vencer esta luta, eles terão perdido o mesmo, e que se eles ganharem, conseguirão apenas mecanizar um cavalo covarde e sem brilho. Sob esta linha de opção, nós devemos aprender alguma coisa. De Pluvinel, escreveu: “... você têm que ter bastante cuidado em não enfadá-lo e apagar a sua gentileza, porque, os cavalos, assim como a fruta viçosa, uma vez perdido o momento de colhê-la, estará perdida para sempre, e uma vez perdida a gentileza, ninguém poderá mais resgatá-la”.Continuando De Pluvinel, ele dizia que quando alguém não tem consideração por seu cavalo, perderá não tão somente a sua gentileza, bem como o fará incorrigivelmente pervertido.De Pluvinel não foi o único a entender, na falta de sentido em travar uma batalha com o cavalo. Bem antes dele, Abou Bekr, mestre do Cavalo do sultão Nasser do Egito, pelo ano de 1300 escreveu: “Que o adestramento baseado na gentileza e psicologia deve visar um desenvolvimento das qualidades úteis, fazendo uso das qualidades que o cavalo traz consigo ao nascer”.
No mesmo livro ele escreveu: “Eu sustento a idéia de que haverá transtorno, resultante em uma garupa rígida, uma boca endurecida e medo, e mais cedo ou tarde ele se tornará rebelde, se alguém tentar colocar sua cabeça e o pescoço na posição correta, antes que o cavalo aprenda à fazer uma curva naturalmente”. Quando se pesquisa a história da equitação, duas coisas tornam-se claras. A primeira é que muito progresso foi obtido na atitude do homem para com o cavalo e que existe mais cooperação do que antagonismo. Além do que, as técnicas de se demonstrar ao cavalo claramente o que a gente deseja dele, têm se tornado consideravelmente refinadas. Por outro lado, é evidente que seja por causa da mentalidade de algumas pessoas, ou pela falta de conhecimento de como se lidar com cavalos, que muitas práticas agressivas, como as que foram mencionadas acima, ainda continuam a serem executadas. Após este breve histórico, vamos retornar ao nosso objetivo, as ajudas.Quando observamos um grupo de cavaleiros cavalgando, fica muito claro, que os erros mais graves são cometidos com as mãos. A principal razão para esta justificativa, são as reações naturais. Todo mundo irá dizer para você, que é preciso manter um contato leve e elástico, e que você nunca deve puxar. Mas, praticamente ninguém mantém um contato elástico, e a maioria das pessoas puxam. Fico consternado em constatar que muitos cavaleiros, ficam com os cotovelos retesados, e com as mãos parcialmente sobre o pescoço do cavalo, tornando impossível para o mesmo, que se mova francamente e sem constrangimento. (Especialmente no começo de uma lição, você têm que dar ao cavalo espaço bastante para que ele se mova sem constrangimentos). Estou convencido de que praticamente todos os problemas com a cabeça do cavalo, são causados por mãos inaptas. É muito difícil dizer, quando o resistir torna-se atuar com as mãos. Por esta razão, você têm que entender as funções dos músculos do braço. Em livros escritos durante os bons tempos da equitação Militar, as mãos devem estar à uma certa altura e os cotovelos estar rigidamente ajustados contra o corpo. Antes da 1º Guerra Mundial, a instrução era praticamente dada em cavalos “escola”, que carregavam a si próprios. Nestas circunstâncias, um leve mover dos dedos e um pequeno movimento dos punhos, era tudo que era preciso para guiar o cavalo. Mas estes cavalos não são mais encontrados para a instrução em nossos dias. É muito importante, que ocavaleiro não constranja o cavalo; em outras palavras; que ele não impeça o movimento para frente do cavalo. Por este motivo, sentado na posição correta e funcional, o cavaleiro deve seguir ao passo acompanhando o movimento da cabeça do cavalo. Ele deve ceder as suas mãos ao cavalo, mantendo um contato de pluma com a boca do mesmo. Desta maneira, o cavaleiro obterá o sentimento do ritmo do cavalo. As mãos devem estar em linha, que incluem: os cotovelos, antebraços, mãos, rédeas e a boca do cavalo. Se as mãos vêem abaixo desta linha, a cabeça irá para cima. O punho deve estar retesado e não pode quebrar. Apenas cavalos bem adestrados, que aprendem a carregarem a si próprios, podem ser conduzidos com o punho e os dedos. Quando o cavaleiro quer refrear o cavalo, ele deve tornar mais difícil para o mesmo, em trazer a sua cabeça para frente, reforçando o contato elástico, sem usar o bíceps; o que eu chamo de “colocar o freio na mão”. Se o cavaleiro usa o bíceps, ele tranca a junta do cotovelo, tornando impossível a elasticidade, e o resultado é que as mãos não são mais capazes de ceder. Além do que, o cavaleiro nunca deve usar os músculos de seus antebraços. Isto é muito importante para que se evitem as mãos que dançam no trote. As mãos têm que estar estáveis, movendo-se apenas pelo movimento do cavalo, e não pelo movimento do corpo do cavaleiro. Quando os músculos dos antebraços estão contraídos, torna-se impossível estabilizar as mãos. (Lembre o que os antebraços fazem quando você tenta estabilizar uma vara sob o seu dedo indicador). Se o cavaleiro não puder usar os músculos de seu antebraço, nem o seu bíceps, o que ele deve fazer para refrear o cavalo, colocando mais peso nas rédeas? A resposta é que ele deve usar o seu abdômen,músculos das costas, o tríceps e o peitoral maior, músculos que são utilizados quando a gente expande as costelas na caixa toráxica, durante inspiração profunda. É evidente que alguém só pode fazer isso, com um assento independente e estável.
Houve um tempo em que era dito, que o cavaleiro deveria utilizar as suas costas para cavalgar corretamente, de maneira que pudesse influenciar o cavalo da maneira mais eficiente possível.
Quando o cavalo não precisa mais da ajuda da rédea de abertura, então chegou o momento de ensinálo a maneira correta de se fazer uma mudança de direção; atrasando a perna interna do cavaleiro e por uma leve flexão da cabeça do cavalo, causada por uma suave vibração da mão interna, o cavaleiro só consegue vislumbrar o olho do cavalo (Pli) que está para o interior do círculo. Uma maneira de saber se o cavalo entendeu o significado da rédea indireta é volver a direita, usando-se a rédea de abertura direita, então volver a esquerda com esta mesma rédea, agora com a rédea indireta contra o pescoço.A rédea interna agora têm que ser utilizada para fazer o cavalo flexionar o pescoço, de forma que o cavaleiro possa vislumbrar o olho do cavalo que está para o interior. consequentemente, o cavalo estará olhando na direção em que está indo, e então irá ceder a mão do cavaleiro, flexionando a cabeça e deixando ir para o interior a sua boca. A rédea do interior deve estar retesada o bastante para que a vibração da mão do cavaleiro, possa ter efeito na boca do cavalo. Algumas vezes, uma gentil rotação de mão para cima é bastante para se conseguir a flexão. A mão do cavaleiro deve estar próxima a cernelha, para prevenir que a cabeça venha para o interior.Para sustentar o cavalo com a rédea de fora, pressionar a mesma contra o pescoço. Ao se pedir uma mudança de direção, usar a rédea interna apenas para vislumbrar o olho do cavalo, o cavaleiro não impedirá o posterior interno de executar uma passada larga, a qual ele faria se estivesse puxando a rédea.O objetivo é fazer o cavalo executar uma passada larga com o seu posterior interno, porque este esforço é uma ginástica que irá desenvolver os músculos da garupa. Mais tarde iremos discutir como as pernas do cavaleiro devem fazer durante uma mudança de direção.A volta para a esquerda é geralmente mais difícil. É causado pelo fato de que quase todos os cavalos têm uma natural inflexão para o lado direito, o que ocasiona que a cabeça seja carregada levemente para a direita. O resultado disto, é que o cavalo toma a rédea esquerda e não aceita a rédea direita. Existem inúmeras explicações para este fenômeno. Penso que a explicação mais lógica é que não existe nada na natureza totalmente simétrico. O ser humano pode ser destro ou canhoto; alguns cavalos tomam a rédea direita, a maioria toma a esquerda. O resultado deste tomar (conduzir, acompanhar, pegar, apanhar, agarrar) é que, em uma volta o cavalo poderá encurtar a passada do posterior interno caindo sobre a espádua esquerda. Isto deixa claro como é importante que o cavalo execute uma volta correta, dessa maneira ele estará hábil a ginasticar os músculos da garupa. D’Auvergne (1729-98) escreveu: “Este é o problema que nunca têm fim para todo cavaleiro com todo cavalo, em fazê-lo ir igualmente com ambas as rédeas”. O que nós pedimos ao cavalo, é tão difícil quanto, se nos pedissem para usarmos nossas mãos direita e esquerda da mesma maneira. Existe uma diferença entre o método e o objetivo. “Idealisticamente as ações das pernas e das mãos devem ser tão discretas que o olho não conseguisse captá-las”. (L’HOTTE). Antes que alcancemos este objetivo, nós teremos que manipular (manejar); isto é, executaremos as ajudas com as mãos de forma visível. Este é o método. Entretanto, deveremos sempre manter na mente que quanto menos nós manejarmos melhor, já que a boca do cavalo é muito sensível, nós deveremos tentar não machucá-la. Bocas duras e insensíveis, são produzidas pelo homem.Na andadura passo, o cavalo executa um movimento lado a lado, semelhante ao de uma cobra, se este movimento é permitido ir através das rédeas para as mãos, elas farão um movimento de serrote, alternando a esquerda e a direita. Muitos cavalos se saem melhor quando o cavaleiro segura as rédeas com uma mão. Por esta razão, quando cavalgar com ambas as mãos, o cavaleiro deve mantê-las imóveis e tão próximas, que o cavalo tenha a impressão de que apenas uma das mãos segura as rédeas. A melhor maneira de se adquirir isto, é colocando as unhas e as articulações dos dedos juntas.Você tem que considerar o que acontece quando o cavaleiro executa estes movimentos de serrote, estando o cavalo usando um bocado com barbela. É fácil de entender que bocados que não são articulados (freio), fazem mais movimento na boca do cavalo do que o bridão, quando o cavaleiro tem mãos de serrote. Por esta razão, é considerado mal hábito segurar as rédeas de um bocado não articulado (freio) com as duas mãos. Como poderá o cavaleiro esperar que o cavalo tenha confiança em suas mãos, quando este pedaço de metal sólido está constantemente movendo em sua boca?
Para reforçar a pressão da panturrilha o cavaleiro pode usar esporas. As esporas devem estar ajustadas ás botas de maneira que não seja necessário puxar os calcanhares para cima quando necessitarmos usálas. Nós já explicamos o porque dos calcanhares não deverem nunca ser puxados para cima. Se um cavalo é preguiçoso, pode ser apropriado o uso de esporas. A aplicação deve ser como um ataque por ferroada, sem tirar o calcanhar da posição. Um ataque vivo, rápido e vigoroso é melhor do que uma repetição de ataques brandos. Um autor francês contemporâneo escreveu “As esporas devem ser afiadas como adagas, para que depois de uma aplicação o cavalo saiba que tem que repeitá-las”. Eu não vou me estender com esse método mas é alguma coisa para se pensar bem, quando nós vemos tantos cavaleiros constantemente aguilhoando suas esporas na barriga do cavalo, enquanto o mesmo dá pouca importância ao fato, ficando totalmente apático ao uso das mesmas. O propósito da espora é acordar o cavalo e enfatizar a ação da panturrilha da perna. O pingalim deve ser usado com cavalos totalmente inexperientes, que ainda não entendem nada. Uma pequena batida de leve na espádua, acompanhada de um comando encorajador de voz, fará o cavalo mover-se para frente. Gradualmente, isto, terá que ser acompanhado pelo cavaleiro, estendendo a sua coluna e aproximando as suas panturrilhas das pernas. Geralmente a extensão da coluna do cavaleiro irá aumentar a tonicidade dos músculos da barriga da perna, até um pouco satisfatório, devemos no entanto ter o cuidado de não pressionar constantemente a barriga da perna, porque alguns cavalos ficarão apertando a si mesmos contra as pernas que funcionarão como um vício. No adestramento avançado, o cavaleiro deve usar um comumente chamado chicote de adestramento, rígido e de 1,20m de extensão. Ele deve ser usado atrás da panturrilha da perna como um substituto para as esporas ou mesmo da panturrilha da perna, em caso do cavalo por alguma razão não reagir prontamente às ajudas da perna. A melhor maneira de se usar o chicote de adestramento, é trazendo a mão que o segura para o interior e então girar o punho. Uma leve batida será o resultado. Mais do que isso geralmente não é necessário, e quase sempre o som obtido contra a bota é suficiente. Você nunca deve esquecer que esta é uma ação estimuladora e encorajadora. Trazendo a mão para dentro e girando o punho, você evita ceder na boca do cavalo, o que é, claramente uma ação contra-produtiva. Isto tem que ser bem entendido, pois o chicote de adestramento é uma ajuda, e não um instrumento de punição. O que quase sempre é chamado de desobediência, é, na verdade, resultado de um mal adestramento; o cavalo não entende ou então não está fisicamente hábil para executar o que o cavaleiro está a lhe exigir para fazer. O cavaleiro tem que entender, que neste caso, as suas esporas, chicotes e todas as diferentes posições de rédeas, na verdade não são ajudas reais. No máximo, elas devem ser consideradas como meios de reforçar e algumas vezes substituir as ajudas, (em uma sela lateral para damas, as senhoritas tinham que conduzir o chicote pelo lado direito, porque ambas as pernas estavam pousadas sobre o lado esquerdo do cavalo). Quando segurar as três rédeas e um freio e bridão, o chicote deve sempre estar sendo conduzido pela mão que segura a rédea isolada. Eu não posso terminar esse capítulo sem mencionar a voz, a qual, é uma ajuda como as outras que nós já abordamos. O artigo 417.4 de adestramento da F.E.I., regulamenta que: “O uso da voz de qualquer forma que ocorra, ou o estalar com a língua, uma vez ou repetidamente, consiste em uma séria falta, que importa em deduzir pelo menos em dois pontos, daquele cavaleiro que venha diferentemente a adotar esta conduta no movimento ocorrido”. Como um resultado desta regra, um competidor suíço de Grand Prix, durante os Jogos Olímpicos de 1932 em Los Angeles, foi desclassificado pela alegação de estalos com a língua, embora ele tivesse um alto escore. Este episódio, marcou evidentemente os entusiastas do adestramento americano, de forma que ninguém atreveu-se a abrir a boca (questionar). Eu me lembro do meu primeiro envolvimento com um Clube Pônei americano na década de 1950, fiquei pasmo, porque ninguém nunca conversava com o seu cavalo. Isto foi, claramente, resultado de uma concepção errônea. Existe uma diferença imensa entre um cavaleiro de clube e um cavaleiro de Grand Prix, e também ocorre uma grande diferença entre um cavalo novo e que ainda não foi adestrado e um cavalo de Alta Escola de Grand Prix. Você nunca deve esquecer que existe uma diferença entre o método e o objetivo. O objetivo, é claro, que a combinação cavalo e cavaleiro executem os mais difíceis movimentos, sem que alguém veja ou ouça como o cavaleiroinfluencia o seu cavalo.