5 de janeiro de 2017
Endireitamento e a Busca da Reunião
Este artigo é uma livre tradução, realizada por Tulio Balestreri
Nunes permeada de comentários
pessoais, de um trecho do livro "Advanced Techniques of Riding",
segundo volume da coleção "The Complete Riding and Driving System",
da Federação Equestre da Alemanha, edição em inglês de 1987.
Leia em "Mais Informações"
Há uma palavra especial em alemão
para referir-se à ausência de resistências por parte do cavalo às ajudas do
cavaleiro, permitindo que a energia dos posteriores flua sem restrições até a
nuca do cavalo, passando por todo seu corpo, e dali retorne até os posteriores
pelas ajudas de contenção do cavaleiro: "durchlässigkeit". Em inglês,
costuma-se traduzir por "throughness", e, talvez, a palavra em
português que mais se aproxime deste conceito seja "permeabilidade",
permeabilidade às ajudas do cavaleiro.
Essa permeabilidade e o grau de
reunião necessário para o adestramento avançado só podem ser obtidos se
primeiro obtivermos o endireitamento do cavalo.
Vamos diferenciar, aqui, o
endireitamento real e o relativo. O endireitamento real é considerado a partir
da coluna vertebral do cavalo. O cavalo, trabalhando pela pista do picadeiro,
fica com sua coluna vertebral paralela à parede. Mas não é isso que buscamos no
adestramento. O que nos interessa é o endireitamento relativo, onde o posterior
interno segue a mesma pista do anterior interno, tanto em linhas retas quanto
em curvas. Buscamos, ainda, que o posterior externo avance na direção do espaço
entre os dois anteriores, pisando mais perto do outro posterior, compensando,
assim, o fato de as espáduas serem mais estreitas que as ancas, e, logicamente,
os anteriores mais próximos uns dos outros que os posteriores.
A reunião produz elevação e
encurtamento nas passadas, não uma diminuição da amplitude por perda de
impulsão. Se os posteriores avançam em direção ao centro de gravidade, ocorre
um abaixamento das ancas, e o centro de gravidade desloca-se para trás, fazendo
com que os posteriores carreguem mais peso, e o ante-mão, aliviado, eleve-se. O
pescoço arqueia-se (de acordo com sua conformação), e o cavalo mostra-nos
passadas destacadas e cadenciadas.
A reunião não será jamais
conseguida pela força, com a ação das rédeas encurtando as passadas. O que
assim obtemos, longe do abaixamento das ancas e arqueamento do dorso desejados,
são posteriores rígidos e musculatura dorsal tensa. Assim, o ritmo das
andaduras perde em qualidade, e aparecem o passo lateralizado e o galope a
quatro tempos. A mais importante regra para a reunião é "a pureza da
andadura, a impulsão e a energia não devem nunca sofrer, mas devem ser
desenvolvidas, aperfeiçoadas".
O engajamento dos posteriores
desenvolve a permeabilidade às ajudas. Isso fica caracterizado pelos movimentos
coordenados e elásticos entre os posteriores e os anteriores, pela atenção e
imediata resposta às ações do cavaleiro.
A sobrecarga dos posteriores
provoca o desenvolvimento da força e o aumento da flexibilidade da musculatura
dorso-lombar. Quanto mais progride, menos o cavalo busca suporte na mão do
cavaleiro, chegando ao que chamamos "auto-sustentação", com o pescoço
e a cabeça carregados mais altos em relação às ancas abaixadas.
Não há, em termos de elevação,
uma posição standard para pescoço e cabeça que possa ser aplicada a todos os
cavalos. Depende de sua conformação. Um cavalo com espáduas mais retas não
conseguirá ter a mesma elevação de pescoço que um com as espáduas mais
inclinadas. Cabe ao cavaleiro encontrar a posição mais adequada a cada cavalo.
A posição do pescoço estará correta se, com o cavaleiro adequadamente sentado,
permitir a citada "permeabilidade" do cavalo às ajudas.
O ideal - e preconizado no
regulamento de adestramento da FEI - na reunião, é que o pescoço projete-se
livremente para cima, arqueado a partir da cernelha, com a nuca como ponto mais
alto, e a cabeça um pouco à frente da vertical. Desta maneira, o cavaleiro tem
um maior controle das ancas. No tabalho, esta posição não deve ser utilizada
por períodos muito longos. Deve ser alternada com períodos em que se permita ao
cavalo alongar a musculatura de suas costas, com uma extensão do pescoço para
frente e para baixo ("long and low").
Para testar a auto-sustentação do
cavalo, e sua capacidade de manter-se em equilíbrio no movimento livre para a
frente, o exercício de ceder e retomar as rédeas pode ser utilizado. Para isso,
o cavaleiro avança suas mãos, abdicando do contato. Então, as mãos retornam à
posição normal. O abandono do contato deve sempre ser acompanhado de ajudas
propulsoras ("forward-driving aids"). A sustentação e o equilíbrio do
cavalo não devem alterar-se.
São os movimentos laterais,
começando pela espádua à frente e espádua para dentro, os exercícios mais
indicados para desenvolver a flexibilidade, a inflexão, a encurvatura e o
endireitamento do cavalo.
O erro mais comum - e mais
perigoso - é a tentativa de obter a inflexão da nuca e a encurvatura
tracionando a rédea interna, tornando impossível para o cavalo avançar o
posterior interno para baixo da massa, em direção ao centro de gravidade. Isso
causa, ainda, uma inflexão exagerada do pescoço, deslocando o peso para a
espádua externa e fazendo a garupa derrapar para fora. O cavalo assume a forma
de um acento circunflexo, tornando impossível para o posterior interno seguir a
mesma trilha do anterior interno. A inflexão da nuca deve ser obtida pela
elevação da rédea interna, e a rédea externa deve limitar a encurvatura do
pescoço, mantendo-o alinhado em frente à cernelha, evitando que o peso seja
deslocado para a espádua externa. O contra-galope é um importante exercício
neste estágio do treinamento, sendo excelente para desenvolver o endireitamento
e o equilíbrio.
Um outro exercício excelente para
preparar o cavalo para uma maior reunião e para os exercícios laterais consiste
em diminuir e aumentar o diâmetro de um círculo. Para diminuir o tamanho do
círculo, o cavaleiro desloca seu peso para o lado de dentro da encurvatura, e
com a rédea interna, suportada por sua perna externa, direciona o cavalo para o
centro do círculo, para frente e para o lado, em posição de travers. Os
anteriores devem sempre preceder levemente os posteriores. A encurvatura deve
acentuar-se à medida que diminui o diâmetro do círculo, aumentando, também,
gradativamente, a reunião. Se o cavalo tenta evadir-se, caindo sobre a espádua
externa e deixando a garupa para dentro, o cavaleiro deve agir mais com a rédea
externa e a perna interna.
Ao atingir um círculo pequeno,
não é aconselhável manter-se nele por um longo período. Devemos começar o
retorno ao diâmetro original. Isso é feito com a rédea de fora e a perna de
dentro, num movimento em posição de espádua para dentro. O cavaleiro deve
cuidar para não atuar com a rédea de dentro na direção da cernelha, pois
prejudica o equilíbrio, jogando o peso para a espádua externa.
Fonte: Artigo