8 de setembro de 2010
A Mieloencefalomielite
A mieloencefalomielite protozoária equina (EPM) é uma doença neurológica, progressiva, debilitante que pode levar os equinos à morte. Os agentes causais, Sarcocystis neurona (comum) e Neospora hughesi (raro) podem produzir sinais de doença neurológica afetando focalmente ou multifocalmente o sistema nervoso central.A EPM é uma doença de difícil diagnóstico devido aos sinais clínicos serem variáveis e semelhantes a outras doenças neurológicas."Leia em Mais Informações" ...
Embora a ataxia espinhal e fraqueza parecerem ser a manifestação clínica mais comum da doença, o grande desafio é estabelecer um diagnóstico definitivo de EPM para submeter os equinos a um tratamento adequado.
A maior dificuldade para os veterinários é mensurar o grau da lesão do Sistema Nervoso Central. Como consequência, o prognóstico é sempre dependente da resposta ao tratamento estabelecido. Como em outras patologias, quanto mais precoce for o diagnóstico maior é a chance de sucesso.
O equino é infectado quando ocorre a ingestão de esporocistos presentes na água, feno, pastagens e concentrados contaminados por fezes de gambá. Os equinos são hospedeiros aberrantes e não transmitem o S neurona a outros equinos ou gambás.
O período de incubação é variável. Experimentalmente os equinos infectados apresentam soroconversão e sintomas clínicos em 3 a 4 semanas.
Porém, alguns equinos infectados naturalmente levaram cerca de 2 anos para manifestar os sintomas da EPM. Isto sugere uma evolução progressiva e gradual da doença.
Gambá na América do Sul Didelphis albiventris
Devido à possibilidade do S. neurona poder se proliferar em qualquer parte do Sistema Nervoso Central (SNC) do cavalo, os sinais clínicos da doença são extremamente variáveis em consequência da lesão neuronal direta provocada pelo parasita, ou por danos secundários causados pela resposta inflamatória.
Os sinais clínicos podem produzir sinais de doença neurológica focal ou multifocal. Embora a ataxia e fraqueza sejam os sinais clínicos mais comuns de EPM, muitas vezes a manifestação clínica é similar a outras doenças neurológicas dos equinos.
O início é repentino e sutil, com fraqueza, manqueira e incoordenação. A apresentação clássica da doença é de incoordenação motora assimétrica que pode estar acompanhada de atrofia muscular focal.
Ocorre perda de peso e mioatrofia, principalmente da região glútea em um dos membros posteriores. De acordo com o local da lesão no SNC podem ocorrer mioatrofias nas regiões escapular e dorsal. Quando os pares de nervos cranianos são afetados, o cavalo pode apresentar paralisia de nervos faciais com atrofia dos músculos masseter e temporal, dificuldade de deglutição, relaxamento e queda de pálpebra (ptose) e lábio na hemiface afetada. Pode estar presente paralisia de língua.
Embora algumas publicações recentes relatem esses sinais clássicos, também tem sido diagnosticados casos de EPM em equinos com sinais clínicos simétricos. Estes sinais são consequências de lesões localizadas no cérebro e podem ser “head tilt”, andar em círculos, cegueira e comportamento anômalo. Estes casos são raros, pois quase todos os sinais clínicos são assimétricos.
De acordo com a evolução da doença, o animal tem dificuldade de manter-se em estação e pode permanecer em decúbito.
O diagnóstico definitivo é realizado através da analise do líquor cérebro espinhal, porém não temos disponível no país nenhum laboratório capacitado para tais avaliações, deste modo todos os exames são encaminhados aos Estados Unidos da America. O exame realizado é o Immunoblot, que determina o contato com o parasita através da avaliação da IgG.
O diagnóstico terapêutico é extremamente útil nos casos onde os recursos são limitados para a realização de exames laboratoriais. As drogas antiprotozoárias à base de Toltazuril (Ponazuril) e Diclazuril são coccidiostáticos seletivos portanto só tem utilidade em equinos para tratamento de EPM. Após 10 dias de tratamento ocorre a estabilização dos sintomas para então iniciar a melhora clínica.
O diagnóstico clínico de EPM pode ser estabelecido em cavalos que apresentam anormalidades neurológicas consistentes com EPM e tenham um teste de Immunoblot positivo a partir de uma amostra de líquor não contaminado. Distúrbios músculo esqueléticos e outras causas de doenças neurológicas, devem ser excluídos. Um diagnóstico definitivo muitas vezes só pode ser realizado durante o exame “pós morten”. Freqüentemente o diagnóstico pode permanecer inconclusivo a menos que o parasita seja detectado na histopatologia ou por Imunohistoquímica, PCR, ou cultura de tecido neural. Finalmente uma resposta favorável ao tratamento, especialmente quando seguida por melhora dos sinais clínicos, também suporta um diagnóstico de EPM no cavalo vivo.
O Toltrazuril (Izocox) é uma droga anticoccída de amplo espectro que atua principalmente sobre o plastídeo corporal da organela, um vestígio remanescente de uma estrutura unicelular presente apenas nos protozoários. A dose é de 5mg/kg/dia por 28 dias. Estudos sugerem que esta droga não apresenta efeitos colaterais (FURR et al, 2002). É indicada a utilização de um antiinflamatório não estereoidal (AINE) concomitantemente para minimizar os efeitos no organismo do cavalo tratado causado pela morte dos protozários no inicio do tratamento com anticoccidiostáticos. O Maxican gel possui excelentes resultados no auxilio terapêutico, além de alto poder antiinflamatório, com segurança clinica quanto a lesões gastrintestinais e renais causadas por outros AINEs. Além disto, o tratamento com o Maxican gel pode se estender por até 14 dias, com a vantagem de ser administrado via oral, minimizando o estresse.
Por Marcello Cabrera, Gerente Técnico/Comercial de Equinos na Ourofino Agronegócio