A perda de condição física, relacionada à perda
de apetite e à menor eficiência metabólica, é provavelmente o problema mais
comum no manejo de cavalos idosos, especialmente naqueles que se aproximam da
faixa dos 20 anos. Para estabelecer um programa nutricional adequado às
necessidades destes animais, é necessário compreender as mudanças não apenas
fisiológicas, mas também psicológicas, pelas quais estes cavalos estão
passando. Leia em "Mais Informações"
Aproveitando
o alimento:
Os melhores nutrientes não trarão
benefícios a um cavalo se ele não conseguir digeri-los. Os maiores culpados
disto costumam ser os dentes, que no cavalo idoso tem a superfície de
trituração bastante desgastada. Também os incisivos, os dentes frontais usados
para cortar e arrancar o pasto, ficam menos eficientes à medida que sua
superfície de corte se inclina, tornando-se mais horizontal. Se o cavalo não
tiver recebido cuidados dentários periódicos ao longo da vida, o problema será
composto pela presença de "ganchos" nos molares. A perda ou quebra de
dentes, comum em cavalos idosos, pode tornar muito difícil a mastigação,
interrompendo a superfície normal da mesa dentária ou fazendo com que o dente
correspondente da outra arcada cresça (por não ocorrer o desgaste habitual),
preenchendo o espaço vazio. Nos cavalos muito velhos, próximos dos 30 anos, os
dentes podem ficar tão desgastados que o cavalo fica impossibilitado de se
alimentar da maneira habitual. Estes e outros problemas dentários causam tanto
perda de apetite devido a dor de dente quanto baixa eficiência na mastigação:
algumas partículas de alimento caem ao chão, e aquelas que são engolidas se
tornam de digestão mais difícil por serem maiores do que o normal. Estes
problemas podem ser minimizados fazendo com que um especialista examine e trate
os dentes dos cavalos idosos duas vezes por ano, fazendo raspagens e outras
correções necessárias.
Eficiência digestiva:
Eficiência digestiva:
Foi demonstrado que a eficiência
digestiva do cavalo diminui a partir dos 20 anos, com menor capacidade de processar
e extrair os nutrientes do alimento, de modo que muitos ingredientes essenciais
da dieta deixam de ser absorvidos, acabando por ser eliminados. A capacidade de
digerir fibras torna-se menor, e a menor produção de enzimas, e diminuição da
motilidade intestinal, intensificam este efeito. Pesquisas mostram também que a
absorção de proteína e de diversos minerais, tais como o fósforo, é menor.
Outras pesquisas relacionam a queda de eficiência digestiva à infestação
crônica por vermes.
Aqueles cavalos idosos que se
beneficiarem de programas corretos de vermifugação com rotação de princípios
ativos modernos terão menos danos causados por parasitas no trato intestinal, o
que prolonga sua capacidade orgânica de ter uma boa digestão. As fibras devem
constituir no mínimo 50% da dieta de qualquer cavalo, o que pode se tornar um
problema nos animais idosos, que apresentam, praticamente todos, deficiências
na digestão de fibras. O problema é composto: torna-se difícil para o animal
velho a mastigação correta de fibras longas de talos duros; além disso,
alterações qualitativas e quantitativas na população de microorganismos
intestinais diminuem a fermentação de fibras, e por conseguinte a extração de
seus nutrientes. Estas alterações da microflora comprometem a síntese de
vitaminas que normalmente se processa no intestino, tais como a vitamina C e o
complexo B, essenciais para a manutenção do sistema imunológico. As pesquisas
sugerem que a suplementação diária de 5 a 10 gr diárias de vitamina C possa ser
adequada. Um estudo de 1989 sugere que mais que 70% dos cavalos acima de 20
anos tenham algum sinal de tumores da pituitária ou da tireóide. Isto pode
causar intolerância à glicose e maior sensibilidade a insulina, levando a
sintomas como polidipsia e poliúria (mais sede, resultando em maior volume de
urina).
A função diminuída de rins e fígado do
cavalo idoso também influi na utilização de nutrientes. Já que no eqüino a
excreção de cálcio se dá na urina – e não nas fezes como na maioria das
espécies - problemas de função renal podem resultar na formação de pedras de
oxalato de cálcio em rins ou bexiga.
O cálcio também pode subir até níveis
perigosos na corrente sangüínea. Nos cavalos idosos com problemas renais,
deve-se fornecer uma dieta pobre em cálcio, proteína e fósforo, contrariando o
procedimento normalmente adotado nestes animais. Animais com deficiências
hepáticas podem sofrer de icterícia, perda de peso, e intolerância a proteína e
gordura presentes na dieta; nos casos mais graves, existe também sintomatologia
nervosa. Estes cavalos precisam de maior quantidade de açúcares na dieta, para
manter os níveis de glicose sangüínea. A suplementação de vitamina C e complexo
B também é indicada.
Fatores psicológicos:
Fatores psicológicos:
Geralmente, os cavalos mais velhos são
menos agressivos; se eles forem alimentados em grupo, os animais mais jovens
podem impedi-los de comer a sua parte das refeições. Os animais idosos também
se ressentem mais das situações de stress, tais como trabalho duro e viagens
longas. Tudo isso pode levar a anorexia, que é a perda de apetite. Os extremos
climáticos podem ser duros para os cavalos geriátricos, pois dos 20 anos em
diante, o mecanismo de termorregulação dos eqüinos vai se tornando menos
eficiente. Por isso, no frio os animais idosos precisam ingerir aproximadamente
20% a mais de calorias do que os valores recomendados médios.
Medidas de aquecimento, tal como manter
o animal com capa ou colocar à sua disposição um abrigo ou quebra-vento, também
irão ajudar. Também o calor intenso leva os animais a perderem seu apetite;
neste caso, o cavalo idoso pode se beneficiar da tosquia, e de banhos de
mangueira sempre que ele se apresentar muito desconfortável. Muitos dos fatores
de stress podem ser reduzidos através de práticas simples de manejo, tais como
agrupar juntos os cavalos velhos, ao invés de colocá-los em meio a diversos
animais jovens e agitados. Alimentá-los separadamente evitará que tenham que
competir pela comida. Todos os esforços devem ser feitos no sentido de manter o
apetite do cavalo idoso, pois pode ser muito difícil fazer com que ele volte a
ganhar peso uma vez que o tenha perdido.
Recomendações
da dieta:
Há três fatores básicos a considerar ao
se planejar a dieta do eqüino idoso: facilidade de mastigação, maior
digestibilidade dos nutrientes, e maior palatabilidade. A medida que a
habilidade do animal de mastigar e digerir fenos duros e fibrosos diminui, fica
muito importante fornecer pastagem verde de qualidade. Pode ser necessário
trocar o feno maduro, mais taludo, por um feno mais jovem, que pode ser misto
(leguminosa e gramínea, ao invés de apenas gramínea), e sendo mais macio, será
mais fácil para o animal mastigar. Para a maioria dos cavalos, é melhor evitar
o feno puro de alfafa, devido ao seu alto teor protéico (na faixa de 25) e
baixo conteúdo de fósforo. Em casos mais extremos, poderá ser necessário
recorrer a feno picado ou cortado, ou a feno peletizado, comercialmente
disponível. Poderá ser necessário deixar este último de molho por uma ou duas
horas antes de servi-lo, pois ele é bastante duro. Isto é tão mais importante
quanto pior estiver o estado dos dentes do animal.
Fenos picados ou peletizados aumentam o
risco de indigestão se dados secos e forem insuficientemente mastigados. Quanto
ao concentrado, para a maioria dos animais geriátricos as rações comerciais,
peletizadas e/ou extrusadas, são preferíveis em relação aos grãos in natura,
por serem mais facilmente digeríveis.
Ambos os tipos podem ser amolecidos em
água morna algum tempo antes do consumo – além de melhorar a digestibilidade,
isto também melhora a ingestão de água por parte dos animais, que tende a ser
deficiente, especialmente nos meses frios. As necessidade nutricionais dos
cavalos idosos são similares as dos potros desmamados, especialmente em termos
de proteína, cálcio e fósforo. Por isso, a utilização da rações especiais para
potros pode ser uma boa opção. (Em alguns países já existem rações especiais
para cavalos idosos, a exemplo das que já temos no Brasil para cães e gatos.)
Em termos de percentagem de matéria
seca, deve-se procurar uma ração que contenha de 12 a 14% de proteína bruta,
0,3% de fósforo, e entre 0,3 e 1,0% de cálcio. Fornecimento de maior quantidade
de gordura também é uma boa possibilidade para manter o estado físico do
animal, especialmente se ele sofrer de disfunção hepática. Os óleos vegetais
são muito digestíveis e contém 2 vezes mais calorias por unidade de peso do que
os carboidratos. Pode-se acrescentar de 200 a 400 ml diários de óleo na ração,
ou fornecer uma ração comercial que já venha com óleo incorporado. Se houver
necessidade de suplementação de proteína, um dos melhores modos de faze-lo é
através do fornecimento de farelo de soja, pois o mesmo contém proteína de
qualidade em alta quantidade, de modo que basta suplementar pequena quantidade
de farelo: para a maioria dos cavalos, 250 gr diárias são suficientes.
O excesso pode ser prejudicial,
portanto o veterinário ou nutricionista deve ser consultado a este respeito.
Com respeito a suplementação, a levedura de cerveja é uma boa escolha, pois ela
atende a uma função dupla: tanto melhora a absorção dos alimentos, ao estimular
a saúde da microflora intestinal, como é uma excelente fonte do complexo B. Se
o animal tiver problemas digestivos, um suplemento probiótico pode ser
considerado.
Disfunção hepática: dieta alta em
carboidratos e baixa em proteínas, tanto volumoso quanto concentrado. Milho
extrusado pode ser boa escolha; evitar feno de alfafa. Polpa de beterraba -
onde disponível - é indicada. Suplementar vitaminas C e B.
Disfunção renal: evitar o que tenha
alto teor de cálcio e/ou de fósforo - feno de leguminosas, bem como farelo de
trigo e polpa de beterraba. Ênfase em feno de gramínea e milho processado
(quebraso ou extrusado), ou ração peletizada com menos de 10% de proteína. É
natural que o cavalo idoso tenha um apetite seletivo, por isso é necessário
fazer experiências até se chegar a um arraçoamento que seja bem aceito pelo
animal e com isso mantenha sua condição física. A ingestão de água sempre
precisa ser encorajada, seja aquecendo-a, seja utilizando-a para colocar rações
ou feno peletizado "de molho". Um apetite reduzido pode ser
contornado aumentando o número de refeições e oferecendo menor quantidade de
alimento em cada qual. Com apenas alguns cuidados extras com a nutrição, a
maioria dos cavalos geriátricos, até mesmo os bastante desdentados, poderão
continuar a viver de modo saudável e produtivo por muitos anos.
Por: Karen
Briggs nutricionista de eqüinos
– Ontário, Canadá