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8 de outubro de 2010

O Conceito de Desbaste do Cavalo

O desbaste é a educação do cavalo, baseado no estudo do seu comportamento e, a partir daí, da formação do seu carácter, do equilíbrio do seu estado psíquico e físico, do desenvolvimento harmonioso e do robustecimento das suas massas musculares, das suas articulações, dos seus tendões, dos seus andamentos, dos seus reflexos,procurando eliminar ou minimizar as deficiências com que a natureza o dotou, proporcionando-lhe a robustez moral e física para desempenhar o ramo de hipismo para que está vocacionado e capacidade para se poder submeter à doma adequada. 
Se o papel do homem foi sempre de capital importância na educação do cavalo, tanto maior importância vai adquirindo quanto mais a sua acção vai substituindo a influência da natureza, que através de milénios, fixou raças, tipos e andamentos e, com a evolução espantosa da Engenharia de Produção Animal e da Engenharia Genética, o cavalo deixa de ser um produto espontâneo da natureza, transformando-se num produto específico para certo e determinado fim, fabricado segundo as técnicas destas duas ciências.
Se o homem já era responsável pelo menos por 90% dos problemas e dificuldades dos cavalos, agora que tem de trabalhar com um produto caro, logo à partida, e que, para obter uma certa longevidade desportiva, se tem de substituir à própria natureza, as suas responsabilidades estão muito acrescidas.A sua preparação técnica tem que ser muito maior, a sua cultura tem que ser muito mais vasta, a sua sensibilidade, os seus sentidos e os seus reflexos têm que ser educados desde a mais tenra idade e, mais importante ainda, tem de ser supervisionada toda a vida para não ir adquirindo inconscientemente vícios graves.
Hoje ninguém pode abarcar todos os ramos do hipismo. Hoje ninguém pode estar em competição sem possuir um “staff” técnico. Antigamente a evolução das Coudelarias era muito lenta. Se um reprodutor não ligava era fácil eliminar aquela peara. Hoje não. O cavalo à nascença, é caro. Em qualquer égua podemos implantar o embrião que se deseje e há condições para lhe ministrar a alimentação adequada.
Como se vai desenhando, pela análise técnica das Olimpíadas, de quatro em quatro anos pode-se mudar a concepção de execução duma modalidade desportiva. Julgo que hoje em equitação não é preciso inventar nada. Pode ser preciso aperfeiçoar ou complementar métodos. É preciso é ter cultura e sensibilidade equestre para aplicar o trabalho certo, a este tipo de cavalo para executar com capacidade ganhadora o esquema a executar.
Interessante se torna analisar o que alguns dos principais autores, da antiguidade aos nossos dias, dizem sobre o desbaste e ensino dos cavalos. Xenofonte (430-355 a.c.) – Embora os Gregos não possam ser considerados um povo cavaleiro, a Xenofonte são atribuídos a autoria dos primeiros tratados de equitação conhecidos. Principalmente na sua Arte Equestre e Hipparcus enuncia princípios ainda hoje aceites e seguidos em equitação tais como “esta arte baseia-se na recompensa e no castigo”, faz a apologia do tacto equestre, da justeza das ajudas, da descontração do cavalo e da ligeireza, recomenda a brandura, preconizando o uso das figuras geométricas para flexibilizar o cavalo e criar impulsão e sujeição.
Embora entenda que a juventude Ateniense não tem tempo para desbastar cavalos, sabe da elevada percentagem de perdas e de deterioração de qualidade que um mau desbaste provoca. Por isso preconiza que “se deverá fazer um contrato com o desbastador e só pagar depois do cavalo estar domesticado, manejável e em boa condição física”. Assim procurava Xenofonte impedir a violência e os esforços prematuros.
Os romanos também não são um povo cavaleiro, adoptam os pedagogos gregos e seguem a sua cultura. Só depois da pesada derrota que a cavalaria de Aníbal lhes infligiu no decorrer da 2ª Guerra Púnica, adoptam a cavalaria nas suas legiões, mas mesmo assim à base de mercenários.
Não chegaram à nossa época documentos escritos sobre equitação embora se saiba que com os romanos se generalizou o uso do estribo, do freio e do picadeiro coberto. Na Idade Média, na Europa, nada há assinalável em equitação. Há progressos no trabalho de forja e portanto na construção do freio e da ferração. Há melhoramentos na construção da sela e é importante a descrição de El-Rei D. Duarte dos benefícios da sela de Bramante e uso do cavalo para o domínio do medo.É porém, a época da grande expansão árabe, e para esta se dar, tem de ter a hegemonia da sua cavalaria.
O poldro é criado em redor da tenda e, juntamente com a criança, educado pela mulher. As suas faculdades são muito desenvolvidas pela presença humana, a sua psicologia e estudo do comportamento muito aperfeiçoado. Daí o espanto e paixão dos cruzados pelo pequeno e robusto cavalo árabe. Daí a paixão de Ricardo Coração de Leão que o leva para Inglaterra e, séculos mais tarde, será parte importante da primeira raça fabricada pelo homem, o Puro Sangue Inglês.
Penetrando profundamente na Pensínsula Ibérica os árabes têm contacto com o cavalo das margens do Tejo e do Guadalquivir, bem como com a equitação dos Iberos e Celtiberos.
Transcrevendo Denis Brogos no seu livro “Des Hommes des Chevaux des Equitations”: Em 1365 no Reino de Granada, Aly Abderraham Bem Hodeil el Andalus escreve um Tratado de equitação em que enuncia princípios que só muito mais tarde serão adoptados na Europa.

A base da equitação é estar-se bem sentado a cavalo, o que só se adquire montando, ao princípio, cavalos em pêlo. Usar as rédeas iguais é um princípio muito importante. Fazer de seguida o cavalo passar da imobilidade à marcha por ligeiros toques de calcanhar.